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Dia 01 | 26ª Bienal Internacional do Livro: infância; true crime; racismo e representatividade LGBTQIAP+

Depois de encontros onlines na edição passada, a Bienal Internacional do Livro retorna presencialmente com lotação de público, encontro com Maurício de Souza e debate sobre podcasts de crimes reais em seu primeiro dia

Após uma pausa em decorrência da pandemia da COVID-19, a 26ª Bienal Internacional do Livro retorna a São Paulo com grande expectativa do público. Sediada na Expo Center Norte, o evento reuniu editoras e palestrantes diversos, e proporcionou aos visitantes uma experiência repleta de debates sobre o universo literário. Confira a cobertura feita pela Jornalismo Júnior das palestras reunidas no dia 02 de julho de 2022.

 

Marcado por uma grande lotação de pessoas, o primeiro dia da Bienal pode ser resumido por filas: desde a estação Portuguesa-Tietê, que foi o caminho para a maioria dos presentes, até o acesso ao pavilhão e dentro das editoras. Apesar das filas que não pareciam ter fim,  a estreia da Bienal também foi marcada por celebridades nacionais e internacionais que palestraram no palco da Arena Cultural da Pólen.  

 

Meditação de Agradecimento

 

No palco da Arena Cultural, a Monja encontra-se no centro, com as vestes típicas.
A mestra Miao You do Templo Zu Lai inaugurou a Bienal do Livro com uma meditação guiada [Imagem: Reprodução/Elaine Alves]

 

A Mestra Miao You, monja malasiana e abadessa do templo budista Zu Lai, abriu as palestras da Bienal trazendo, para os frequentadores do evento, uma meditação guiada. Ela explicou para o público a arte dessa prática, considerada mais que uma forma de relaxamento, e sim de apreciação da cultura da paz. 

Durante a orientação, a Mestra deu um panorama sobre a vida e a situação na qual o mundo se encontra, citando a angústia que muitos poderiam ter passado por conta do período pandêmico, e apresentando a meditação como um refúgio em meio ao caos. Miao You também trouxe dicas para atingir uma meditação plena, como repetir o nome do Buddha durante o exercício, ou proferir uma oração.

 

Das páginas para as telas

 

Na Arena Cultural, Leh Pimenta encontra-se no extremo esquerdo, com as autoras ao seu lado.
As escritoras, da esquerda para a direita, Thalita Rebouças, Bruna Vieira, Luiza Trigo, Babi Dewet e Paula Pimenta realizaram um debate com Luh Pimenta sobre adaptações audiovisuais de obras literárias [Imagem: Reprodução/Elaine Alves]

 

A segunda palestra do dia trouxe grandes nomes da Literatura Contemporânea Brasileira que tiveram seus livros adaptados para produções audiovisuais. As autoras Bruna Vieira, Babi Dewet, Luiza Trigo, Thalita Rebouças e Paula Pimenta participaram de uma conversa mediada por Leh Pimenta, criadora do Clube do Livro BH. Nela, foram discutidos temas que envolvem desde burocracias da adaptação audiovisual, até a  inserção de diversidade nas obras atuais.

De modo geral, as autoras falaram sobre a imensidão de boas possibilidades que adaptações dos livros podem trazer se a essência da história for mantida. Paula Pimenta, autora do best-seller Fazendo meu Filme: A Estreia de Fani (Editora Gutenberg, 2009), teve seu livro adaptado em um filme que deve ser lançado ainda em 2022, e afirmou que, nesse tipo de produção, é permitido — e possível —  mudar a forma de se contar a história, mas não a história em si.

Além disso, Babi Dewet , uma das autoras do livro Um Ano Inesquecível (Editora Gutenberg, 2015), terá um dos contos que compõem a obra adaptado em uma produção dirigida por Lázaro Ramos. Ela ressaltou que o público acredita, muitas vezes, que o autor pode se envolver no roteiro da adaptação, mas o contrato pode impedi-lo. Dewet também elogiou o trabalho de Thalita Rebouças, já que seus livros juvenis foram uns dos primeiros a ganharem espaço no audiovisual.

Thalita Rebouças, escritora de Confissões de uma Garota Excluída (Editora Arqueiro, 2016) e de Fala sério, mãe! (Editora Rocco, 2004), dois livros adaptados, reafirmou a necessidade de uma campanha pró-diversidade no meio literário, e disse também que tenta trazer cada vez mais estes tópicos para suas produções. Ao final da palestra, os fãs agradeceram o incentivo à leitura que as autoras puderam proporcionar.

 

Encontro com Mauricio de Sousa

 

Maurício de Souza está de pé no centro da Arena, e pode-se observar coelhos do Sansão, como da Mônica, sendo levantados pelo público.
Maurício de Souza foi aplaudido de pé pelo público durante conversa com Sidney Gusman [Imagem: Reprodução/Elaine Alves]

 

Mônica, Magali, Cebolinha, Cascão e o famoso coelho Sansão: nomes tão notórios entre crianças — e muitos adultos — foram pauta da terceira palestra do dia. Nela, foi possível ouvir o quadrinista Mauricio de Sousa, precursor das histórias em quadrinhos no Brasil, e responsável por popularizar  o gênero entre inúmeras gerações até os dias de hoje.

Marcado por afetividade e nostalgia, o encontro, mediado por Sidney Gusman, reuniu pessoas de diferentes idades para prestigiar o trabalho de um autor que participou da infância de inúmeras pessoas. O encontro com Mauricio de Sousa exemplificou a extrema lotação do primeiro dia da Bienal, com pessoas se acumulando nos arredores da Arena Cultural e, em alguns casos, brigando por lugares no espaço. 

Durante sua mesa, Mauricio revelou alguns projetos planejados para o futuro, como a possibilidade de um live action de Turma da Mônica Jovem e um do Chico Bento, além da intenção de explorar histórias que possam atingir um público internacional, como a Mônica Toy. Além disso, falou também de outros planos para além da Turma, incluindo o filme que contará sua história de vida, Mauricio de Sousa – O Realizador de Sonhos, parceria entre a Disney e a Mauricio de Sousa Produções (MSP). 

O encontro encerrou com uma sessão de perguntas com a plateia, em que crianças tiravam dúvidas sobre a turminha. Além disso, era possível observar um carinho mútuo entre o público e Maurício,  o qual agradecia  o tempo todo pela presença deles  e o quanto estava orgulhoso de tudo aquilo que conquistou. Por fim, Maurício se retirou do palco, enquanto a plateia aplaudia de pé o escritor e gritava em coro o nome do autor.

 

Encontro com Xiran Jay Zhao

 

A autora de Viúva de Ferro está sentada à esquerda, com um vestido preto, e a mediadora está a sua direita.
A canadense de origem chinesa Xiran Jay Zhao discutiu o seu livro Viúva de Ferro com Isa Souza [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

 

Após um encontro com uma figura conhecida nacionalmente, a Bienal apresentou a oportunidade de conhecer a celebridade internacional Xiran Jay Zhao, autora do best-seller de ficção científica Viúva de Ferro (Intrínseca, 2022). Para ocorrer o encontro, a brasileira Isa Souza realizava perguntas em português para a autora canadense de origem chinesa, e um intérprete traduzia as perguntas feitas para a autora e também as respostas dadas por ela. 

Contudo, o diálogo entre a autora e o público foi dificultado pelo tradutor, o qual apresentou dificuldades em passar as perguntas para o português, o que causou desconforto neles. A situação piorou no momento em que o intérprete traduziu de maneira errada as perguntas de Isa Souza para a autora, havendo diferença entre o que a mediadora perguntava e o que Jay Zhao respondia.

Após encerrar a mesa entre as mulheres, foram abertas perguntas para o público, que  começou a se apresentar em inglês para a autora, evitando o empecilho do tradutor. A partir deste momento, para quem soubesse ouvir e entender inglês, a conversa conseguiu fluir de maneira natural e agradável, mas como não era o caso da maioria dos presentes ali, o encontro excluiu uma parcela dos participantes.

No entanto, mesmo com tantos problemas comunicacionais, o carisma de Xiran conseguiu conquistar o público. Demonstrando ser uma grande fã do Brasil, a autora finalizou o encontro agradecendo pelo carinho que recebia de seus fãs brasileiros, dizendo o quanto amava o país e, ainda, revelando sua palavra favorita da língua portuguesa: abacaxi.

 

Encontro com Laurentino Gomes

 

Laurentino Gomes, na Arena Cultural, está sentado à esquerda, com camiseta jeans, e o mediador está a direito, vestindo branco.
Laurentino Gomes discutiu o racismo no Brasil com base no lançamento do seu livro Escravidão III com Michael França [Imagem: Reprodução/Elaine Alves]

 

Depois de uma conversa com uma autora internacional, a Bienal do Livro voltou para a realidade brasileira para uma conversa com o escritor e jornalista Laurentino Gomes, famoso pela trilogia 1808 (Globo Livros, 2007), 1822 (Globo Livros, 2010) e 1889 (Globo Livros, 2013). Aproveitando o lançamento do último livro da trilogia Escravidão, Escravidão III: Da Independência do Brasil a Lei Áurea (Globo Livros, 2022), o encontro ministrado por Michael França foi marcado por uma discussão sobre o racismo no Brasil. 

Inicialmente, o autor buscou apresentar um pouco do  processo de escrita de seus livros, marcado por bastante planejamento e pesquisa. Além disso, devido a sua formação, Gomes  também utiliza métodos jornalísticos na apuração dos livros, como a captação através de entrevistas com fontes autorizadas sobre o assunto, e a experiência na prática por meio de visitas aos lugares em que os escravos passavam para realizar um retrato mais fiel da escravidão.

O grande destaque da sua palestra ocorreu quando ele começou a se aprofundar no tema do livro e  abordar questões raciais no palco, discutindo aspectos como o apagamento cultural e histórico do negro na sociedade brasileira, e o mito da meritocracia. Além disso, também discorreu sobre o legado da escravidão no país, que seria a principal explicação para problemas raciais e sociais no Brasil, e pontuou como a história tem uma forma obscura de explicar o presente.

Por fim, Laurentino também abriu o espaço para os fãs de suas obras perguntarem sobre questões relacionadas aos livros, seja sobre aspectos temáticos, como a questão do racismo, seja sobre aspectos técnicos, como a escrita do livro. 

 

Famílias e Amizades na Literatura Jovem

 

Da esquerda pra direita, está a mediadora Leh Pimenta, e os escritores Vitor Martins, Ilustralu e Iris Figueiredo.
Os escritores Vitor Martins, Ilustralu e Iris Figueiredo discutiram a questão familiar e as amizades na literatura com Leh Pimenta [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

 

Nem sempre as dinâmicas familiares são retratadas nos livros de uma forma que fujam do núcleo mãe-pai-filho. Entretanto, Iris Figueiredo, Vitor Martins e Ilustralu são autores que procuram abordar a temática familiar da maneira mais natural possível, como mostra a sexta palestra do dia, ministrada por Leh Pimenta. 

Vitor Martins, escritor e tradutor de ficção jovem adulta, é autor de  livros que lidam com jovens enfrentando mudanças drásticas, conflitos familiares e primeiros amores. Dentre suas obras, há o best-seller Quinze dias (Editora Alt, 2017) e Se a casa 8 falasse (Editora Alt, 2021). Durante a palestra, Vitor comentou sobre a forte subjetividade que coloca nos seus protagonistas, por exemplo, em Beto, de Se a casa 8 falasse, um menino gay que, durante a pandemia, se viu preso em casa com uma mãe protetora e a irmã aparentemente perfeita. Ele também ressaltou que forma a personalidade de seus personagens da maneira que ele é, e que gostaria de ser.

Luiza de Souza, mais conhecida como Ilustralu, segue a linha de Vitor em suas produções. Em Arlindo (Editora Seguinte, 2022), sua  HQ, Luiza conta a história de uma descoberta de que, na realidade, ninguém está realmente tão só. Arlindo é um adolescente gay do interior do Rio Grande do Norte, e sua rede de apoio não é centrada em seus pais, mas sim em amizades importantes que cultiva. Ela afirmou que, além de abordar uma perspectiva diferente de família, também tenta retratar personagens LGBTQIAP+ fora da dinâmica do romance, como usualmente são escritos. 

Iris Figueiredo, autora de Céu Sem Estrelas (Editora Seguinte, 2018) e de Pisando em nuvens (Editora Seguinte, 2021), expressou a subjetividade que também coloca em suas obras. Céu Sem Estrelas, por exemplo, conta a história de Cecília, uma jovem que precisa lidar com problemas de autoestima relacionados ao seu corpo, além de não conhecer o pai e ter brigas terríveis com a mãe. Desse modo, quem se torna sua família são suas amigas. A escritora expressou que utilizou de algumas de suas próprias vivências para conceber a personagem, sentindo uma grande responsabilidade ao criá-la.

 

Crimes reais

 

No palco da Arena Cultural, os autores estão sentados em poltronas brancas.
Os podcasters Ivan Mizanzuk, Carol Moreira e Mabê Bonafé discutiram a importância e influência dos podcasts sobre crimes reais no Brasil com Duds Saldanha [Imagem: Reprodução/Felipe Velames]

 

Encerrando o primeiro dia da Bienal, Carol Moreira e Mabê Bonafé, idealizadoras do podcast Modus Operandi, e Ivan Mizanzuk, idealizador do podcast Caso Evandro, subiram ao palco para discutirem sobre podcasts baseados em crimes reais. Ministrado por Duds Saldanha, uma das roteiristas do Modus Operandi, os quatros integrantes realizaram um debate sobre a influência e a importância de seus projetos.

Inicialmente, os podcasters responderam como surgiu o interesse deles em narrativas, explicando que, desde a infância,  eram extremamente criativos e adoravam contar histórias para as outras pessoas. Em seguida, contaram que sempre foram fãs desse gênero narrativo por conta do seu aspecto mais curioso e excêntrico. Para eles, o interesse em fazer podcasts de true crimes pode ser definido pela facilidade de contar histórias reais.

Depois de abordarem a origem do amor pelo gênero, eles trouxeram  a importância dos crimes reais na sociedade e introduziram o conceito do infotenimento, que consiste em informar ao público alvo sobre diferentes assuntos do mundo através do entretenimento. Um exemplo de infotenimento que eles citaram que ocorre em seus podcast é explicar como funciona o sistema judiciário e jurídico no Brasil e alguns problemas da mídia ao abordar estes casos, a fim de que os seus ouvintes consigam cobrar esses profissionais por um trabalho melhor.

Por fim, eles ainda contaram o que aprenderam ao realizar os podcasts sobre crimes reais: sensibilidade e um maior respeito ao abordar essas histórias de tragédia e de dor para tantas pessoas. A capacidade que as narrativas têm de mudar o mundo foi reafirmada, sobretudo na oportunidade dos ouvintes compreenderem melhor a sociedade e expandirem seu conhecimento.

Capa: Felipe Velames

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