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Dia 02 | 26ª Bienal Internacional do Livro: memória; ficção e romance

Valter Hugo Mãe, Brian Zepka e Elena Armas foram alguns dos convidados que estiveram com os fãs brasileiros no segundo dia de Bienal

Após uma pausa em decorrência da pandemia da COVID-19, a 26ª Bienal Internacional do Livro retorna a São Paulo com grande expectativa do público. Sediada na Expo Center Norte, o evento reuniu editoras e palestrantes diversos, e proporcionou aos visitantes uma experiência repleta de debates sobre o universo literário. Confira a cobertura feita pela Jornalismo Júnior das palestras reunidas no dia 03 de julho de 2022.

 

Encontro com Rezende e Louise Sheran 

O influenciador digital Rezende e a escritora de primeira viagem Louise Sheran estiveram na Bienal para falarem da sua nova produção literária: Esquadrão Alien (Faro Editorial, 2022). A conversa dos dois com a jornalista Cláudia Fusco focou em informar sobre como foi realizada a elaboração da obra e de onde surgiram suas inspirações. Louise afirmou que ela foi a responsável pela ideia inicial, mas que os dois já eram fãs de ficção científica, o que colaborou para que a narrativa fluísse entre ela e Rezende. A autora também elogiou o colega ao afirmar que o influenciador foi responsável pelas partes mais criativas do livro. 

Mesmo sendo amantes do gênero, os autores contaram ao público da Arena Cultural que conversaram com especialistas para que, apesar do caráter ficcional do livro, a realidade da Ciência se mantivesse. Louise e Rezende garantiram que a produção foi feita para todas as idades, e que a história apresenta, além da ficção científica, romance, mistério, comédia e ação. 

 

No palco colorido da Bienal, com pessoas de costas no primeiro plano,três pessoas brancas debatem.
Após o debate sobre o livro, Rezende e Louise responderam às perguntas da plateia, que foram principalmente voltadas ao youtuber. [Imagem: Reprodução/Julia Magalhães]

Rezende ressaltou o fato do livro apresentar um protagonismo feminino em um mundo científico, o que não é muito comum, uma vez que “as mulheres não são vistas como pessoas que gostam dessas realidades”, de acordo com o youtuber

Eles começaram a escrever a história em 2019, mas desenvolveram mais da narrativa nos dois últimos anos, entre 2021 e 2022. Embora este seja o quinto livro de Rezende, ele não se considera um escritor, e uma curiosidade sobre a produção é que, assim como nos outros livros do influenciador, existe um personagem inspirado nele mesmo.

 

Homenagem a José Saramago

A homenagem foi marcada pelo encontro de três admiradores do trabalho de Saramago: os brasileiros Jeferson Tenório e Andrea del Fuego, e o português José Luís Peixoto. 

Os entrevistados começaram contando como conheceram o trabalho do escritor lusitano, momento no qual dois deles enfatizaram o livro O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991). Ao longo da palestra, José e Andrea falaram sobre suas relações com Saramago de maneira mais pessoal: Peixoto escreveu um livro chamado Autobiografia (Companhia das Letras, 2019), o qual fez de José Saramago o personagem principal. Já Andrea colocou José como segundo nome do seu filho como uma homenagem ao autor. 

 

Uma imagem azul com Saramago na Bienal.
Um painel em homenagem a José Saramago foi colocado na Bienal Internacional do Livro 2022, ocorrida em São Paulo [Imagem: Reprodução/ Julia Magalhães]

Os três trouxeram reflexões de como Saramago analisava as fases da sua vida. Nesse sentido, utilizaram como exemplo uma frase do escritor que diz: “Se eu tivesse morrido antes, eu teria morrido mais velho”. 

Segundo os entrevistados, os livros do português desafiavam o tempo. Hoje, eles serviriam como uma resistência ao imediatismo da geração atual: apesar de, na metade da leitura de seus livros, os problemas expostos parecerem não ter solução, o autor oferece saídas de maneiras indiretas. Os três admiradores analisaram como Saramago coloca as situações em perspectivas mais humanitárias. Por fim, sustentaram a ideia de que a melhor forma de homenagear um autor é lendo-o, por isso, realizaram leituras de alguns trechos durante o evento. 

No final da homenagem, o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo, que estava presente na Bienal, também quis dizer umas palavras a respeito do escritor, elogiando sua coragem. 

 

Encontro com Elena Armas 

Elena Armas é engenheira e escritora de um dos livros de maior sucesso da rede social Tik Tok: Uma farsa de amor na Espanha (Editora Arqueiro, 2021). Ele também é o segundo livro mais vendido dessa editora. 

 

Uma mulher branca no telão da Bienal que reproduz as pessoas no palco colorido.
Elena Armas, por não falar português, se comunicou com o público da Arena Cultural Pólen com a ajuda de um tradutor. [Imagem: Reprodução/Julia Magalhães]

A autora começou o encontro contando como foi o processo de criação do livro. Ela afirma que sempre leu bastante, então, foi muito bom criar a própria história. A escritora já conhecia um pouco do mercado editorial e tinha um blog — fatores que a ajudaram no surgimento do romance. Elena narrou um pouco de como foi o processo de invenção dos seus personagens e das suas personalidades, além disso, disse que queria que seus personagens tivessem falhas, para que as pessoas pudessem se conectar com eles. A engenheira realizou uma pesquisa sobre as pessoas da região onde se passava a história para que estas pudessem se identificar com o que estava sendo contado. 

Uma farsa de amor na Espanha viralizou muito rapidamente nas redes sociais e a autora não esperava nada disso. Elena afirma que a parte mais emocionante foi quando ela descobriu que seu livro viraria filme e que já vem acompanhando os atores que seus fãs esperam para representarem seus personagens na produção cinematográfica. 

A escritora também falou um pouco sobre o seu novo livro, com personagens que já estavam presentes em seu primeiro. O nome do livro ainda não foi traduzido para o português, mas em inglês se chamará The American Roomate Experiment. Ela explicou que já tinha a ideia da história deste segundo antes do primeiro viralizar. Elena terminou o encontro contando suas esperanças como escritora e relatando suas inspirações e autoras preferidas, são elas: Tessa Bailey, Jennifer L. Armentrout e Mariana Zapata. 

 

Encontro com Brian Zepka

Depois de um intervalo de 30 minutos, Brian Zepka, estadunidense autor de livros jovem-adulto, subiu ao palco junto com Gabriel Calamari, ator e diretor brasileiro. 

No painel, com a intermediação de um tradutor, Zepka comentou o processo de criação de seu novo livro, A temperatura entre você e eu (Editora Buzz, 2022) , que teve seu lançamento oficial no Brasil no dia 8 de julho de 2022. 

O livro, um romance entre dois meninos com super-poderes inexplicáveis, teve seus direitos autorais vendidos para a Disney+, que já iniciou os procedimentos para adaptá-lo para a televisão, no formato de série. Zepka compartilhou um pouco sobre esse processo de adaptação para as telas e confessou já ter alguns atores em mente para o protagonista: Joshua Basset e Noah Jupe. 

O autor também revelou que lançará em breve um novo livro, diferente do anterior, sobre um casal em processo de desapaixonamento, mas não nega a possibilidade de uma continuação para A temperatura entre você e eu. Brian Zepka terminou a palestra demonstrando sua satisfação em ver o impacto positivo que seu livro tem gerado em jovens queer e tirando uma foto coletiva com Gabriel Calamari e o público.

 

Dois homens brancos de camisa colorida no palco colorido da Bienal.
O tradutor (à esquerda) repetia as falas de Zepka (centro) para o público, em português [Imagem: Reprodução/ Laura Pereira Lima]

Encontro com Valter Hugo Mãe

O painel seguinte foi, talvez, o mais aguardado do dia pelo público da Bienal. Poucos instantes após o fim da palestra de Brian Zepka, as pessoas já se amontoavam ao redor do palco da Arena Cultural para ouvir o célebre escritor português Valter Hugo Mãe, com mediação do influencer literário Pedro Pacífico, conhecido nas redes sociais como @book.ster.

Os banquinhos da plateia rapidamente se encheram de famílias, jovens e idosos; um público bastante diverso. A conversa mesclou emoção, militância e risadas, sempre permeada pelo enorme carisma do escritor lusófono. Pedro Pacífico iniciou a conversa já admitindo ser um grande fã de Valter Hugo Mãe, que retribui elogios ao influenciador. 

Em um tom leve, íntimo e muitas vezes humorístico, Valter compartilhou no palco sua adoração pelo Brasil e citou alguns de seus ídolos brasileiros: Chico Buarque, Caetano Veloso, Clarice Lispector, Conceição Evaristo, Bispo do Rosário, e Elza Soares. Em dado momento, o autor confessou já ter cogitado escrever um livro no qual ele próprio se casava com Elza,  o que provocou efusivos aplausos e risadas na plateia.

Com um carisma incomensurável, Valter contou das diversas rejeições que viveu na adolescência por conta de sua aparência, que, segundo ele, “não era das melhores”. Os dramas de infância de Valter Hugo Mãe despertaram gargalhadas do público, mas o painel não foi só leveza e risadas: ao contar de seu novo livro, As doenças do Brasil (2021), Valter se emocionou ao lembrar de um encontro que teve com uma comunidade indígena brasileira enquanto estudava para o livro e lamentou o caos político instaurado no país latino americano.

Em tom de confidência, Valter Hugo Mãe revelou exclusivamente para o público da Bienal o título de seu próximo livro: A minha mãe é minha filha, baseado em sua própria relação com a mãe. Também disse estar planejando um novo livro, que se passará na Ilha da Madeira. O autor terminou a conversa fazendo um apelo para que os brasileiros votem melhor nas próximas eleições e encerrou o painel com um grito coletivo de “Fora Bolsonaro”.

 

Uma multidão de pessoas sentadas no chão da Bienal.
Famílias, jovens e idosos se amontoaram para ver o painel de Valter Hugo Mãe [Imagem: Reprodução/ Laura Pereira Lima]

Personagens LGBTs em diferentes gêneros literários

O último painel do dia contou com a presença dos autores nacionais Stefano Volp, Elayne Baeta e Giu Domingues, com mediação da influencer Maria Freitas,  conhecida como Cadê LGBT, para discutir a importância dos personagens LGBTQIA+ na literatura. 

A conversa, assim como a anterior, atraiu um grande público, mas, desta vez, a plateia era um pouco menos diversa, composta majoritariamente por jovens e mulheres. Os três autores percorreram temas bastante relevantes e atuais, como as dificuldades enfrentadas no mercado editorial e a falta de personagens queer no mundo literário. Elayne Baeta contou que sua motivação principal para escrever foi o incômodo que sentia pela falta de livros com personagens dessa comunidade nas grandes livrarias. Ainda na questão da representatividade, Baeta fez um apelo às grandes editoras para que publiquem mais livros com personagens de “sexualidades menosprezadas”, citando a assexualidade como exemplo.

Em uma segunda dinâmica do painel, os autores foram perguntados sobre seus personagens LGBT favoritos da literatura e as respostas incluíram referências a séries e livros aclamados pelo público, como Os sete maridos de Evelyn Hugo (Paralela, 2019)Heartstopper (Seguinte, 2021) e Manhãs de Setembro (Axis Mundi, 2003)Os gritos e aplausos entusiasmados da plateia para os nomes citados foram sinais da popularidade das obras escolhidas.

Para encerrar a conversa, Maria Freitas propôs uma dinâmica na qual os personagens criados pelos autores eram colocados em circunstâncias adversas, como “o que as pessoas encontrariam no caderno de Daniel?”, direcionada para Stefano Volp. Cabia, então, aos escritores supor qual seria a atitude de seus respectivos personagens. A dinâmica foi acompanhada de perto pelo público eufórico da Bienal, que esboçava ruidosamente suas opiniões a cada resposta.

 

Os quatro convidados debatendo no palco da Bienal.
No painel, Giu Rodrigues contou que publicou seu livro como uma forma de sair do armário publicamente
[Imagem: Reprodução/ Laura Pereira Lima]

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