Com exibições no Cinesesc e Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, o documentário Háfis & Mara (2018) abre o 7° Panorama de Cinema Suíço, trazendo às telas a história e o relacionamento de um casal: o artista suíço-libanês Háfis Bertschinger e Mara, sua esposa. Produzido pelo diretor curdo Mano Khalil, muito conhecido no cenário de festivais suíço e de outras partes da Europa por narrar histórias de refugiados e imigrantes que buscam vidas melhores no continente. O filme consegue passar de forma simples, mas precisa e dedicada, a vida colorida e impulsiva de um artista com a sua mulher que largou seus sonhos para viver ao lado dele.
Em entrevista dada ao Cinéfilos, Mano disse que todos estão buscando alguma coisa, sendo refugiados na Europa ou não. “Dez milhões não é só um número. São dez milhões de histórias”. E no início, a proposta de gravação do documentário foi recebida de maneiras muito diferentes pelo casal: Mara mostrou-se resistente com a proposta, enquanto Háfis ficou muito empolgado. O diretor também falou sobre a dificuldade de estar atento para não transformá-lo em um estereótipo dele mesmo. Os vários encontros entre o diretor e Mara possibilitaram muitas conversas e aberturas de assuntos muito pouco discutidos por Mara, trazendo a verdadeira emoção de sua fala e revelando assuntos muito guardados que ela não conseguiu manifestar antes.
Logo de cara já somos apresentados às viagens de Háfis, filmadas por ele no Japão e outros países. O cenário principal é a cidade suíça de Fribourg, onde o artista faz de tudo pelo viver da sua arte, enquanto a esposa é o seu ponto de equilíbrio entre impulsividade e racionalidade. Apesar de o documentário apresentar o casal como “personagens principais”, as viagens e insights de Háfis pela busca de inspirações e seu passado possuem maiores amplificações de sua personalidade e de suas ideias do que as defendidas pela sua esposa.
O contraste criado pelos diferentes cenários gravados cria uma subjetividade para compor com os trabalhos desenvolvidos pelo artista, cheios de formas, cores e traços; criando destaque entre a paisagem fria e pacata de Fribourg e se misturando à paisagem quente e vívida de uma cidade litorânea em Gana.
Outro ponto muito trabalhado são os discursos e as diferentes visões de ambos sobre sexo, família, raizes, vida e morte, destacando as experiências que tiveram e deixando o espectador criar suas próprias hipóteses e ideologias, mas sem perder o fôlego de acompanhar sua trajetória.
As memórias de Mara apresentam-na como uma mulher que queria conhecer mais sobre o que o mundo tem a oferecer, mas que não pôde realizá-la para viver ao lado de um homem que repetidamente diz que a ama e que lhe é fiel mas, ao mesmo tempo, coloca suas ideias em primeiro plano. Deixando também a pergunta: e se fosse ao contrário? Se Mara fosse a pessoa impulsiva e que fizesse de tudo pelos seus sonhos, o público levaria com a mesma naturalidade?
Háfis & Mara ainda não tem data de estreia prevista no Brasil, mas faz parte 7° Panorama de Cinema Suíço em São Paulo. Assista ao trailer abaixo, em inglês:
por Beatriz Cristina
beatrizcristina.sg2000@gmail.com