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Entrevista com O Grilo: entre shows, músicas e Tudo (que) Acontece Agora

Com apresentações esgotadas em São Paulo, o quarteto convida o público a fazer uma “viagem só de ida” em seu novo disco e conta curiosidades em entrevista ao Sala 33
Arte em um formato que imita o rótulo de um cartão postal. Do lado esquerdo, uma imagem de uma cachoeira, ao direito, as imagens de cada integrante da banda O Grilo, acima do nome do grupo.
Por Catarina Bacci (cbmedeiros@usp.br)

Uma banda essencialmente brasileira, O Grilo é o conjunto de Felipe Martins (guitarra), Gabriel Cavallari (baixo), Lucas Teixeira (bateria) e Pedro Martins (vocais). Eles deram início a uma nova fase com o lançamento do álbum Tudo Acontece Agora Pt. 1 (2024) e com a turnê de mesmo nome, que se iniciou no dia 03 de maio e passou por nove estados do Brasil, honrando o conceito d’O Grilo Viagens.

Em São Paulo, a Casa Natura Musical se viu lotada de fãs no final de semana dos dias 15 e 16 de junho. Após abertura musical do cantor Braga – considerado um dos 25 artistas do futuro pela revista Rolling Stones –, os músicos conseguiram agitar o público com sua presença de palco e energia contagiante. Todas as faixas do disco novo foram incluídas na setlist, com exceção da instrumental TUDO//, e tocaram também lançamentos anteriores, somando quase duas horas de apresentação. Atenciosa com o público, a banda interage com a plateia desde a primeira nota e demonstra carinho por todos em suas falas. 

No domingo, 23 de junho, O Grilo transmitiu no YouTube de forma gratuita sua apresentação em Goiânia. A live contou com a reprodução de uma música nova no final como uma surpresa.

Em entrevista ao Sala 33, os artistas afirmam que fazer shows nos mais diversos lugares era um desejo d’O Grilo que foi se concretizando ao longo do tempo. E, do contato com os fãs, surgiu outro sonho: “[Pensamos] ‘vamos fazer um álbum que, quando a gente tocar ao vivo, vai ser bizarramente legal’”, Pedro relata. Conforme tinham as ideias de músicas, pensavam na diversão e em como elas ficariam nas apresentações. Ele adiciona: “Não é nem para agradar a galera. Gostamos de fazer shows, então não dá para fugir disso”.

A decisão de produzir músicas pensadas para os palcos influenciou, inclusive, a escolha de Seja Quem Você Quiser como primeiro single do disco. Por ser a primeira impressão do material do novo, decidiram por algo que, como o baterista descreve, “chamasse as pessoas para o ao vivo”. Os integrantes visualizavam o público cantando junto a última faixa do álbum, e acharam interessante começar pelo fim. Além disso, é uma música que disseram contar bem uma história por conta própria, tendo o que Cavallari chamou de “um final apoteótico”.

Em um palco, a Banda O Grilo performa expressivamente
A turnê volta para São Paulo no próximo fim de semana [Imagem: Duda Cimas/ Acervo Pessoal]

Escolhas têm que ser feitas para a turnê: quais canções, em qual ordem e, mais importante, quais emoções querem provocar. Existe um trajeto típico que O Grilo utiliza nos shows: iniciar explosivo e animado, “descer para o fundo do poço” e terminar “no alto”, enérgico. O baixista explicou esse gráfico e como pensam na função em que as músicas de sua discografia se encaixam e, as que cumpririam o mesmo papel de outra, acabam ficando de fora – para a tristeza de alguns fãs.

Mas, para Pedro, essa seleção faz parte: “Imagina um show do Paul McCartney tocando o repertório inteiro. Seria um festival de quatro dias só dele!”. Fepa (Felipe Martins) disse que um dos lados positivos das faixas que não tocam há muito tempo é que, ao retornar para o mesmo lugar, podem escolher outras músicas e provocar novas sensações. E nem todas as faixas fazem sentido ou falta no ao vivo. Pedro adiciona ao exemplo: “Você não sai do show do Paul McCartney e fala: ‘Nossa, não acredito que ele não tocou aquela música do lado B do disco Ram (1971)!’”.

A banda, que já passou por festivais, como Lollapalooza (2019, 2023) e Rock in Rio (2022), e palcos icônicos como o Cine Joia, vê o crescimento em seu alcance. A Casa Rockambole, selo musical e casa de apresentações, que antes abrigava seus shows, agora não os comporta mais. Mas O Grilo não enxerga isso como uma pressão, e sim, um incentivo para entregar cada vez mais. “Não sei se tem algum outro tipo de impacto além de alegria”, admite Cavallari. Para os músicos, quanto mais gente se divertindo junto, melhor. Porém, os lugares pequenos também são apreciados. Eles dizem que é o mesmo show, independentemente do número de pessoas e do lugar por onde estão viajando.

O Grilo Viagens e o conceito do álbum

O Grilo Viagens é uma companhia aérea fictícia criada pelo conjunto quando ainda estavam no início da composição do álbum como uma “ideia aleatória” que poderia, ou não, virar um conceito. Eles explicam que o tema de viagens casa bem com o som nostálgico e emotivo buscado para o álbum, no qual revisitam músicas escutadas em suas adolescências. Teixeira descreve o viajar como “revisitar quem você é e escolher um novo personagem para ser naquela viagem”.

Mas conceitos prévios não restringem a banda durante seus processos de composição. Mesmo tendo uma visão inicial, eles preferem moldar essa ideia conforme escrevem suas canções para conseguir conectar as diferentes sensações e letras. Com essa flexibilidade de ideias, os artistas também atingem uma melhor compreensão sobre o que querem alcançar com o conceito escolhido. O baterista ilustra: “A gente gosta mais de fazer o mapa da cidade onde o personagem vai estar, do que fazer o personagem”.

Na imagem o guitarrista do Grilo aparece ao centro tocando em um show
Na turnê, é possível adquirir o “passaporte” da agência fictícia para colecionar carimbos em shows [Imagem: Duda Cimas/ Acervo Pessoal]

O passado, o futuro e a música brasileira

O Grilo quer ser, e é, uma banda que se reinventa. “Não é uma banda que vai ter uma cara igual para sempre”, afirma Cavallari. Eles citam como referência recente o conjunto australiano King Gizzard & the Lizard Wizard, conhecido por seus lançamentos frequentes e distintos entre si. Embora admitam não se verem próximos do estilo e constância do grupo mencionado, os músicos ponderam sobre suas mudanças já ocorridas. Desde o início de suas carreiras, já se conheceram melhor como banda e tiveram contato com músicas, artistas, culturas e lugares diferentes, expandindo seus repertórios.

Para seu disco anterior, Você Não Sabe de Nada (2021) (VNSDN), olharam para o futuro e tentaram trazer influências brasileiras específicas para cada faixa. Aliados com a entrada de Fepa n’O Grilo e as referências musicais trazidas com ele de Manaus, os integrantes escreveram um álbum diferenciado que traz elementos de Guitarrada à bossa nova. Encontraram impasses no processo para se manterem inteiramente no conceito decidido e viram como, no caminho, surgem ideias novas que nem sempre se encaixam com a original.

A brasilidade presente na sua discografia, descrita por eles como algo que, hoje, vem muito mais naturalmente na criação de suas músicas, já foi uma preocupação. O uso de levadas de violão típicas do baião ou de características de percussão do frevo, por exemplo, era buscado intencionalmente – e com certa rigidez – quando compuseram VNSDN. Disseram ser como se seguissem uma “receita de bolo”. Atualmente, eles têm os elementos nacionais mais internalizados, menos necessidade de rotulá-los e estão, de acordo com Fepa, mais “patifes”.

Pedro resume o sentimento: “Era uma coisa de ‘a gente precisa ser brasileiro, a gente precisa ser brasileiro.’ Hoje em dia é: ‘empresta o seu RG, por favor? Deixa eu ver onde você nasceu. Ah, é brasileiro? Faz música então! Vai ser brasileiro’”.

“Tudo que me resta é aparar arestas desta letra besta. […] Quem me dera simplesmente ‘Djavanear’”

Me Deixe Só, O Grilo

Mesmo se apoderando do gênero musical do rock’n roll, estilo estrangeiro, O Grilo apropria-se também de outros elementos de brasilidade. A forma e presença da percussão é um deles. Mas Cavallari aponta que, antes, pensariam na música ao redor da percussão, e hoje elas andam lado a lado. Outro dos elementos está presente nas letras. Assim como Djavan querendo “caetanear”, seu jeito de pensá-las e as referências que aparecem são sempre brasileiras. 

Por ter sido criado durante a pandemia da Covid-19, a composição de VNSDN era mais de ideias individuais reunidas e vídeos trocados por mensagens. O guitarrista relembra: “O Pedro fazia as músicas e a gente arranjava junto e criava as sessões de instrumental”. Ao contrário do álbum novo, que veio em maioria de jams sessions – ensaios espontâneos, de improvisos – e construído em conjunto.

O vocalista da banda O Grilo aparece ao centro tocando em um show
Para escrever, pensam primeiro na própria experiência, depois na opinião do público [Imagem: Gabriel Pereira/ Acervo Pessoal]

O Caubói e o amadurecimento

Tudo Acontece Agora Pt. 1 (2024) foi construído de forma colaborativa e espontânea. Teixeira compara escrever músicas com o processo de aprender um idioma: no início, é necessário pensar muito para um “hello, my name is” (“oi, o meu nome é”, em tradução livre). Com o tempo e a prática, se ganha mais naturalidade. Depois da experiência com VNSDN, de mudarem muito as características de uma faixa para a outra, o quarteto não se prendeu apenas a ideias prévias e explorou o seu rock com menos rigidez. Fepa conta que hoje têm “mais maturidade de entrar no estilo e falar: ‘vamos ficar aqui um pouco’”.

Enquanto o primeiro álbum era a banda “fazendo a paz com o caos”, o disco novo mostra eles “tirando onda com tudo”, como descreve o vocalista. Afinal, a diversão é uma das principais pilastras d’O Grilo. As letras novas estão repletas de “aleatoriedades”: “São diversões que a gente encontra no meio do caminho, acaba abrindo um sorriso e deixando”, para Teixeira. Preferem as palavras combinando com a roupagem a algo “palavrudo” que perde o sentido. “As músicas têm menos significados literais e mais significados subjetivos, sinestésicos”, afirma.

“O Grilo se tornou uma banda mais ‘bandística’ ainda.”

Gabriel Cavallari

O amadurecimento também aparece ao revisitarem músicas que, segundo o baterista, a banda antes “não tinha nível suficiente para finalizar”. No novo álbum, são apresentadas canções pensadas para o anterior, mas melhor desenvolvidas e concluídas hoje, com a evolução musical deles. Algumas ideias foram deixadas de lado antes por causa da emotividade. Pensavam não combinar com a “vibe” e o jeito da banda. Agora, é exatamente isso que procuram. Teixeira colocou: “O Grilo de 2020 não queria ser emotivo. E O Grilo de 2023 quer muito ser emotivo. A gente tá mais preparado para chorar”.

“A gente não guarda as músicas na gaveta. A gente guarda numa adega e deixa maturando ali. Depois a gente abre e descobre algo muito bacana”

Pedro Martins

Eles ainda têm um desafio, sua “pedra filosofal”: Caubói Mineiro. No ensaio aberto feito em 2023, contaram terem escrito apenas um trecho da canção e, sempre que tentam terminá-la, acabam compondo uma nova. Pensaram até em chamar o disco de “Músicas que escrevemos tentando compor Caubói Mineiro”. Acreditam que ainda não estejam preparados para ela; por enquanto, vai ficar arquivada e ser a “missão” deles – e, talvez, uma fonte de inspiração.

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