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Encontro de gerações: Sênior e Nova MPB

COMO GERAÇÕES TÃO DISTINTAS EM ESTILO, CRIAÇÃO, IDEIAS E EM IDADES CONVIVEM E SE RELACIONAM NA INDÚSTRIA MUSICAL DO BRASIL ATUAL

Rita Lee e Anavitória, Emicida e Belchior,Toquinho e Camilla Faustino, são alguns exemplos de parcerias entre artistas da Música Popular Brasileira e da atualidade que vêm acontecendo nos últimos anos. Em um período de crescente discussão sobre as diferentes gerações musicais, suas visões de mundo e a marca que deixam na sociedade, essas trocas entre a Nova e a Sênior MPB abrem espaço para o surgimento de diferentes perspectivas sobre o diálogo geracional na música brasileira.

 

Dos vinis ao TikTok

A MPB, como é conhecida enquanto gênero musical, remonta aos tempos da Ditadura Militar brasileira, em que jovens artistas, em idade universitária, inspirados por gêneros como o Samba e a Bossa Nova, misturavam ritmos para criar músicas de forte caráter ativista e questionador. 

Chico Buarque, Elis Regina, Toquinho, Caetano Veloso e Maria Bethânia são exemplos de artistas que surgiram nesse período inicial do gênero e se tornaram as “lendas” da música brasileira. Suas músicas, ao falarem de liberdade, de amor, de juventude, de revolta e de utopia, moldaram toda uma geração que fez parte do movimento das Diretas Já, e atuou ativamente na  redemocratização do país.

 

Na imagem, os cantores da MPB estão de pé.
Relembrando os velhos tempos, Toquinho compartilhou, em suas redes sociais, uma imagem dele com Caetano, Gil, Elis, Rubinho e Paulinho. [Imagem: Reprodução/Instagram]

 

Apesar da idade avançada e da ausência de muitos, não são poucos os artistas desta época que permanecem cantando suas canções antigas e compondo novas. Ainda sim, nota-se um esforço para acompanhar as novidades e continuar relevante na indústria da música. Em tempos de streaming e de digital influencers, em que o consumo de música é muito mais acessível e a divulgação depende da resposta das redes sociais, a presença dos cantores nas redes sociais e a atualização de composições antigas se tornou essencial. Em busca de alcançar a audiência mais jovem, os “senhores” da MPB, como Gilberto Gil e Caetano Veloso, gravam tiktoks, stories e publicam memes em seus perfis.

 

Em suas redes sociais, Gilberto Gil compartilha, por exemplo, a rotina pré-turnê, uma aproximação possibilitada pelas novas tecnologias. [Imagem: Reprodução/TikTok]

Para o cantor Toquinho, essa necessidade de constante renovação e inovação, contudo, é natural e faz parte da criação artística. “Cada ano robustece o seguinte, e as décadas se diluem na descoberta de técnicas novas e na extensão do vigor ampliado pelas conquistas e pelos sucessos. O tempo não apaga o que nos arde na alma”, conta o compositor. 

 

Mas nem só de dancinhas e de posts vive a música no Brasil atual

Enquanto os artistas seniores renovam seus clássicos e atualizam o seu estilo musical, a nova geração da música brasileira explora diferentes sonoridades, usando de meios cada vez mais tecnológicos para conquistar seu espaço na indústria e disputar a atenção do público. Muitos dos nomes em ascensão, foram descobertos nas redes sociais, a partir de covers no YouTube ou de trends no TikTok. É o caso da dupla Anavitória e da cantora Marina Sena, que têm conquistado grandes números – ambas com mais de 3 milhões de ouvintes mensais no Spotify – em plataformas de streaming, principalmente devido a sua presença notável nos diferentes formatos de mídia, alcançando fãs de diferentes idades ao redor do mundo. 

Ainda sim, o cenário brasileiro continua não sendo favorável para jovens que sonham em viver de sua arte. Quase quarenta anos se passaram desde o fim da Ditadura Militar, mas a produção da música nacional ainda é cerceada pela falta de incentivos e pelo conservadorismo. Artistas independentes têm cada vez menos oportunidades de se manter no meio e seu destino muitas vezes está lançado à sorte de conseguir um hit no TikTok ou de conquistar a grande mídia.Tal contexto limita a criação aos interesses exclusivos do mercado e à censura a temas sensíveis ou que afetem a “moral e os bons costumes”. 

 

 

A cantora Marina Sena encontra-se sentada em uma cadeira, de biquíni preto.
Assim como a dupla Anavitória, a cantora Marina Sena também tem alcançado números impressionantes nas redes sociais. [Imagem: Reprodução/Instagram]

 

O cantor Johnny Hooker, por exemplo, fez um desabafo em suas redes sociais sobre a dificuldade de manter sua carreira no atual cenário. Homossexual e ativista, Hooker canta sobre temas políticos, muitas vezes polêmicos. Mesmo com dois discos de platina em sua carreira, ele ainda não é apoiado pela grande mídia ou pelo público massivo, sofrendo com diversos boicotes. A lógica de mercado que comanda a indústria musical gera entraves para o posicionamento político e a abertura para temas sociais serem tratados pelos artistas. Para o jornalista e produtor musical Rodrigo Faour, a influência capitalista sobre a música atual e sua necessidade de consumo rápido, acaba afetando negativamente a produção criativa, que opta por “fórmulas prontas” para seguir tendências de sucesso.

 

Print de um tweet de Jhonny Hooke.

 

Mesmo com a influência forte do mercado, o Brasil continua a caminhar passos lentos para a diversidade de vozes. De acordo com Faour, a drag queen Pabllo Vittar é um exemplo disso, uma vez que a sua própria existência relevante na indústria “pode ser considerada política”. Assim como Pabllo, Gloria Groove, Jão e Vitão são outros exemplos de nomes que surgiram recentemente e usam da sonoridade popular para abrir discussões sobre questões sociais, como o orgulho LGBTQIA+ e a luta indígena pela demarcação de terras.

 

Imagem da cantora Pablo Vittar.
Um exemplo de figura de luta no ramo musical é Pablo Vittar. [Imagem: Reprodução/Instagram]

Encontro de gerações, divergências e diálogos

O recorte temporal que separa essas gerações de artistas permite a curiosidade sobre a convivência entre eles dentro da indústria. Questionado sobre o olhar que têm sobre a Nova MPB, Toquinho afirma que “nos últimos anos, houve um vácuo de qualidade musical”. As marcas do tempo e da experiência podem revelar, talvez, traços de conservadorismo na forma com que os artistas seniores olham para os jovens, afinal, suas diferenças de estilo e de processo criativo são explícitas. Por outro lado, nota-se, também, uma resistência e desconhecimento entre a geração atual sobre a história da música brasileira. 

Para Rodrigo Faour, os jovens artistas reverenciam muito mais o que é produzido internacionalmente, tirando daí suas referências e inspirações ao invés de olhar para o legado vivo da música nacional: “O que é dominante no mercado hoje é uma estética muito americanizada. Sempre teve influência estrangeira, mas nunca como hoje. Em termos de reverência aos artistas [brasileiros] antigos, eu vejo, na música mais comercial de hoje, muito pouco. Da Nova MPB, de vez em quando tem alguma coisa, mas os artistas lembrados são sempre os mesmos. A maioria dos artistas jovens não têm ideia da história da música no Brasil”.

Mesmo com suas divergências, a importância do diálogo geracional e a abertura para parcerias entre os artistas é um consenso. Faour afirma que “apesar desse diálogo ser mais tímido nos dias atuais, ele ainda é louvável”. De fato, as colaborações entre diferentes gerações é de praxe na música brasileira, artistas renomados como os da Tropicália se inspiravam na geração de Carmen Miranda para produzir seus trabalhos, por exemplo. Da mesma forma, Toquinho buscou referências em João Gilberto no início de sua carreira e, hoje, a cantora Camilla Faustino o acompanha em turnê como uma grande influência. ”Estou sempre aberto a novas tendências musicais, priorizando minha técnica e meu conhecimento musical. Gosto de parcerias. Essa fusão é saudável. O que nos tira da zona de conforto é sempre um desafio. O que importa é a criatividade e a satisfação com o trabalho realizado”, afirma o intérprete do sucesso atemporal Aquarela

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