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Exposição ‘22 em Campo’: Um passeio turbulento pelo modernismo no futebol

Nova exposição temporária do Museu do Futebol traz tema interessante, mas que merecia uma execução melhor

Desde o dia 15 de julho de 2022, o Museu do Futebol apresenta a exposição 22 em Campo, com a proposta de discutir as relações, inusitadas ou diretas, entre o Modernismo e o futebol. Com o nome em uma alusão aos 22 jogadores em uma partida e à Semana de Arte Moderna de 1922, que completa cem anos em 2022, a exposição apresenta 22 temas que ligam esses dois universos: A Bola, Anhangabaú, Estádio das Laranjeiras (RJ), Marcos de Mendonça, Arthur Friendenreich, Pau-Brasil, Vocabulário, Torcidas, Operários, Tarsiwald, Várzea, Imigrantes, Favelas, Trem, Mário de Andrade e Villa-Lobos, Rádio, Pixinguinha, O negro no futebol, Garrincha-Macunaíma, Futebol indígena, Futebol de mulheres e Francisco Rebolo.

Assim, apesar de se colocar por trás do mote da relação entre o Movimento Modernista e o futebol, 22 em Campo apresenta alguns outros focos, que podem deixar o visitante perdido. Existem as relações que ficaram mais escancaradas, como a ligação que a curadoria faz entre o quadro Operários, da pintora modernista Tarsila do Amaral, e o futebol como um esporte popular que passou a ser praticado pelas classes mais baixas no início do século XX, isto é, os operários; ou as composições feitas por Pixinguinha que faziam sucesso dentro das quatro linhas. No entanto, a exposição também foca na história do esporte, tratando de estádio marcantes, da importância do futebol de várzea e até das famosas coberturas de rádio dos jogos; e em algumas de suas principais personalidades da época, além de incluir espaços para tratar do futebol entre grupos marginalizados, como mulheres, negros e indígenas. Desse modo, a exposição é um compilado de diversos elementos que compõem o futebol nos tempos modernos, mais do que um retrato da influência que a vanguarda artística teve no esporte.

O radialista Ary Barroso sobre em um telhado para conseguir narrar uma partida de futebol. [Imagem: Arquivo Pessoal/Ana Mércia Brandão]

Organização

Ao tentar abordar tantos temas, o espaço destinado à exposição deixa a desejar. Cada tópico é apresentado com um banner com explicações e algumas imagens, o que para alguns é suficiente, mas para outros pode parecer apenas uma apresentação superficial. Futebol indígena e Futebol de mulheres são os que mais sofrem com tal leviandade, com apresentações que nada mais são do que uma lembrança rápida de que mulheres e indígenas também jogam bola. Como um ponto positivo, alguns vídeos também complementam a exposição, sendo possível ao visitante assistir trechos de alguns filmes que tratam do futebol de uma perspectiva social.

O futebol feminino, um dia proibido, hoje enche estádios.[Imagem: Arquivo Pessoal/Ana Mércia Brandão]

 As temáticas são numeradas de um a 22, indicando uma ordem, mas, ao serem dispostas no espaço, esta não se mantém, o que pode confundir os visitantes. O tema número três  é seguido pelo 11, que é seguido pelo 14 e assim por diante, restando a quem quer ver a exposição na ordem dar uma boa caminhada. Com uma proposta tão interessante quanto a de trazer o fator social ao futebol, 22 em campo merecia um espaço maior para organizar suas ideias. 

Acessibilidade

A exposição disponibiliza múltiplos mecanismos que garantem acessibilidade em diversos quesitos. Algumas obras disponíveis possuem um relevo, que além de possibilitar uma experiência interativa com o visitante, inclui pessoas que apresentam deficiência visual. Nesse quesito, como os textos disponíveis para ler ao longo da visita estão, em sua maioria, nas paredes, o Museu do Futebol oferece uma audiodescrição abrangente e que garante certa imersão ao conteúdo. Materiais visuais, como reportagens e gravações inéditas complementam a experiência não só para PcDs, mas para o público em sua totalidade.

Um recurso em especial chama atenção: durante a visita, é possível encontrar ilhas de áudio, que fazem com que o visitante se sinta dentro de um estádio, com cantos de torcidas organizadas, ou absorvidos por produções musicais. 

Outro aspecto notado foi a acessibilidade para estrangeiros. A exposição também conta com uma audiodescrição em algumas línguas, como o inglês e o espanhol, mas peca em alertar que o recurso está disponível. 

Alguns equipamentos como fones e telas estavam quebrados, o que fez com que a exposição deixasse a desejar nesse quesito. Contudo, não se pode ignorar a inovação e abrangência dos mecanismos de acessibilidade, sendo um ponto positivo que merece elogios e destaque.

Acréscimos

Em geral, a exposição 22 em Campo faz uma tentativa válida em retratar questões que não recebem tanto destaque nas discussões sobre o esporte. Temáticas como o futebol indígena e feminino, o caráter social das torcidas e o impacto cultural gerado pelo esporte são pautas extremamente relevantes para se debater dentro do contexto atual brasileiro. As interseções com o movimento modernista também são outro fator a ser elogiado, visto que apresenta uma perspectiva diferente do Modernismo ao escancarar o impacto gerado pelos artistas não somente no campo artístico.

Feita para amantes do futebol e admiradores do movimento modernista, a exposição pode até mesmo fazer sucesso entre aqueles que não possuem tanto conhecimento relacionado a esses temas. A visitação é uma boa pedida para adultos, devido à grande quantidade de textos disponíveis para leitura.

A exibição 22 em Campo ficará disponível até o dia 29 de janeiro de 2023. Ela funciona de terça a domingo, das 9h até às 18h — sendo que a entrada só é permitida até às 17h. Localizada no Museu do Futebol no Estádio do Pacaembu (Praça Charles Miller, s/n), o ingresso custa R$ 20, e a meia, R$ 10. Crianças com menos de 7 anos não pagam. 

1 comentário em “Exposição ‘22 em Campo’: Um passeio turbulento pelo modernismo no futebol”

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