A câmera percorre um campo de futebol e direciona-se à clássica arquibancada de filmes adolescentes, sobre a qual há um casal sentado. Um atleta diz à líder de torcida: “Ashley, eu te amo tanto que me assusta”, e a beija. O percurso do foco, no entanto, não para. A leve música ao som do violão é substituída pela guitarra abrupta de Runnin’ With The Devil, de Van Halen, para revelar, por debaixo dos assentos, a turma de deslocados reunida, discutindo camisetas de rock e igrejas. Ao seu lado, três meninos são caçoados por conta de suas imitações do comediante Bill Murray. Assim começa a série Freaks and Geeks (1999-2000) — claramente avessa à fantasia estadunidense de reis e rainhas do baile.
O seriado acompanha dois irmãos, cada qual protagonista do devido núcleo. Lindsay Weir (Linda Cardellini) é uma estudante exemplar determinada a quebrar os moldes aos quais está habituada e se tornar parte do grupo de rebeldes sem causa. Já seu irmão mais novo, Sam (John Francis Daley), faz parte dos geeks, que se dedicam à jogatinas de RPG, à ficção científica e à imaginação de relacionamentos que estão longe da concretude.
![Imagem do trio geek nos bastidores da gravação. [Imagem: Reprodução/IMDb]](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2020/08/freaks-and-geeks-2.png)
Torna-se fácil simpatizar com os personagens e acompanhá-los em suas descobertas e decepções. A série faz com que seja devastador o momento em que Sam descobre já ser considerado velho demais para buscar doces no Halloween, assim como torna extasiante o baile que encerra o episódio piloto ao som de Come Sail Away. É esse poder do brilhante roteiro que torna todos os episódios particularmente engraçados e cativantes, também impulsionados pela entrega e timing cômico do espetacular elenco.
![Núcleo freak em imagem promocional [Imagem: Reprodução/IMDb]](http://jornalismojunior.com.br/wp-content/uploads/2020/08/freaks-and-geeks-3.png)
O seriado é excelência televisiva enfim imortalizada e justiçada pelo registro após o precoce cancelamento pela rede NBC. O fim abrupto, no entanto, não é totalmente carente de significação. Freaks and Geeks foi divertida, cativante e fugaz. Seus conflitos não foram todos resolvidos. A conclusão anseia por respostas e estimula a antecipação. É, portanto — do jeito que apenas uma série poderia ser — análoga a esse período na vida de um indivíduo, e tão marcante quanto.