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‘Fundação’: uma jornada por diplomacia e intrigas políticas

Em mais de 300 páginas, Asimov retrata líderes políticos e a busca por poder em um universo galáctico

Por Gabriela Varão (gabriela.varao@usp.br)

A obra Fundação (Editora Aleph), de Isaac Asimov, é um clássico da ficção científica que inspirou diversas narrativas, como Star Wars e Duna. O livro, que faz parte de uma trilogia, foi publicado pela primeira vez em 1951.

O primeiro livro mostra o declínio do Império Galáctico, que existiu por 12 mil anos, e a tentativa da humanidade em encurtar o período de barbárie que virá. Tudo começa com a figura de Hari Seldon, famoso matemático e criador da psico-história, um campo da estatística capaz de prever o futuro de uma civilização. Como o próprio personagem explica, a psico-história não é uma ciência que prevê ações individuais, mas sim movimentações em massa. 

Por meio desses cálculos, Seldon prevê a queda inevitável do Império Galáctico, que dominava 25 milhões de planetas. A humanidade está fadada a um futuro de barbárie, que durará 30 mil anos. A queda é inevitável, mas o período das trevas pode ser reduzido para apenas mil anos. Para isso, Seldon reúne muitos cientistas encarregados de trabalhar na Enciclopédia Galáctica, obra que irá conter todo conhecimento científico adquirido pela civilização humana até então. 

Esses matemáticos e cientistas são alocados no planeta Terminus, onde dão origem à Fundação, uma organização científica focada na produção da Enciclopédia. Seldon avisa que durante esse período sombrio, a humanidade atravessará muitas crises, então, cabe aos políticos da Fundação encontrar estratégias para resolvê-las. 

Durante esse período, há a iminência de muitas guerras. A genialidade da obra reside na forma como os personagens se equilibram no poder e tentam encontrar alternativas para evitar as guerras — por meio de estratégias políticas e não pelo uso da violência.

A premissa central da história é bem interessante: a narrativa é dividida em cinco partes que se passam em lugares e tempos diferentes. Isso porque há saltos temporais, então, os personagens aparecem brevemente e depois são substituídos por novos. Cada parte aborda um tempo histórico diferente da política da Fundação, mostrando como a humanidade está lidando com as crises previstas por Seldon. 

Os personagens ficam em segundo plano, já que nenhum deles recebe grandes descrições. Não entendemos a motivação de suas ações. Isso parece proposital, visto que o foco da narrativa é a própria Fundação — protagonista do livro.

Mesmo contribuindo para o protagonismo da Fundação, o desenvolvimento superficial dos personagens é um aspecto negativo da obra. O leitor não consegue se conectar e muito menos se importar com eles. Pela falta de detalhamento, nomes complicados e saltos temporais, é um pouco confuso se situar em alguns momentos e entender quem são os personagens em ação.

A obra é composta, majoritariamente, por diálogos entre cientistas, políticos e comerciantes. Ao abordar questões políticas e diplomáticas, surgem temas relevantes, como a manipulação das massas por meio da religião e do autoritarismo, contribuindo para a fluidez da leitura. 

Asimov não reflete profundamente sobre o livre-arbítrio, ainda assim essa é uma questão que aparece no livro. Hari Seldon, ao prever a queda do Império, traçou um caminho que deveria ser seguido para evitar que o período sombrio fosse prolongado. Contudo, esse plano nunca é exposto explicitamente, pois isso pode fazer com que os indivíduos alterem suas decisões, mudando o curso da história. Em alguns momentos, os personagens refletem sobre como devem agir e se questionam se estão fazendo a escolha certa. 

Em relação à descrição, o autor deixa a desejar. Se você procura um livro bem detalhado, com personagens bem desenvolvidos e batalhas épicas, Fundação não é a melhor escolha. O clássico, ambientado em um mundo de ficção científica, tem um foco mais político e econômico. A galáxia serve como pano de fundo para as reflexões políticas trazidas pelo autor e faltam explicações sobre como o Império Galáctico chegou às ruínas.

No fim, a leitura se torna um pouco cansativa. Algumas partes são mais emocionantes do que outras e o final é um pouco decepcionante. Talvez, por ser o primeiro de uma trilogia, muitos detalhes são deixados para serem desenvolvidos nas próximas obras. A solução da última crise é muito fácil e o autor não se importa em apresentar o desenrolar dela e suas consequências. 

A narrativa é composta, praticamente, apenas por homens. Somente uma figura feminina aparece ao longo do história e é retratada como arrogante e desdenhosa, o que pode incomodar o leitor contemporâneo.

Fundação apresenta discussões políticas interessantes e o livro vale a pena ser lido se você pretende mergulhar no universo de Asimov. Apesar dos problemas, não há como não reconhecer a genialidade da obra para a época em que foi escrita.

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