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Cultura brasileira: cosplayers ganham espaço

Eventos culturais que dão espaço para os cosplayers retornam com força após a pandemia

O movimento cosplay no Brasil vem ganhando força nos últimos anos, ainda mais com o crescimento de eventos culturais no país. Acredita-se que o surgimento da prática do cosplay tenha sido em 1939, nos Estados Unidos, durante a Worldcon (World Science Fiction Convection), onde (dois visitantes foram fantasiados para o evento e se tornaram os primeiros cosplayers de que se há registro no mundo) Myrtle Rebecca Nolan teria realizado o primeiro cosplay de que há registro no mundo. Já o termo “cosplay” foi designado pelo japonês Nobuyuki Takahashi em 1984, quando ele foi a um evento de ficção científica em Los Angeles e, em sua volta ao Japão, escreveu um artigo que dava esse nome às pessoas fantasiadas na convenção.

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É difícil determinar ao certo em que momento a prática chegou definitivamente em território brasileiro, mas acredita-se que na década de 1980 ocorreram as primeiras manifestações de cosplayers (pessoas que fazem cosplay) e, já em 1990, houve uma transformação da cultura cosplay para algo mais popular e ousado.

O que é o cosplay?

Cosplay é um termo em inglês: “cos” vem da palavra “costume” (fantasia), e “play” é derivada de “roleplay” (interpretação ou brincadeira). De modo superficial, o significado da palavra seria “brincar de fantasia”. 

Mesmo com o termo derivado de uma palavra em inglês, a prática é associada à cultura Pop japonesa, por ser uma parte muito significativa dessa região, mas não se resume apenas a isso. Atualmente, o cosplay não se restringe a apenas personagens de jogos, filmes, animes e mangás do país oriental, mas abarca a cultura popular de diversos países.

A manifestação é um hobby para muitos fãs do mundo geek e nerd, como é o caso de Camila Fernanda: “Eu sempre gostei de animes desde pequena, sou da época em que passava na TV Globinho e até em um canal aberto chamado Animax, mas, como eu não conhecia ninguém que praticava, eu só assistia”, conta a professora de direção. “Até que, no meu ensino médio, em 2010, conheci pessoas que iam a eventos de cosplay. Eles me convidaram para um deles e eu fiquei encantada: era o Anime Friends, quando ainda era um evento pequeno”, relata.

Porém, o cosplay se popularizou de tal forma que também se tornou um trabalho para muitas pessoas, tanto para aqueles que se vestem como os personagens  quanto para os cosmakers (pessoas que fazem as fantasias e acessórios para os cosplays). “Eu comecei como hobby e virou uma profissão, mas eu gostaria que isso voltasse a ser um hobby pra mim”, narra Eder Allan, conhecido como Eder Cosmaker, ressaltando que já chegou a ter tantas encomendas de cosplays para outras pessoas que não tinha mais tempo para fazer o que mais gostava: se fantasiar.

A prática no Brasil

No Brasil, os cosplayers cresceram ainda mais com a vinda dos eventos culturais. Os mais populares no país são o Anime Friends, a BGS (Brasil Game Show), a CCXP (Comic Con Experience) e a UCCONX, que teve sua primeira edição brasileira em julho de 2022. As convenções apresentam abordagens diferentes, mas todas elas têm um vasto espaço para fãs da cultura pop mundial. Há exemplos de eventos que podem ser mais regionais, como a ExpoComics, uma pequena convenção que teve início em Taubaté, em São Paulo, e hoje já é o maior evento de cosplays da região. 

Além desse espaço para divulgação do trabalho dos cosplayers e cosmakers e para a interação dos fãs com o mundo do entretenimento, os eventos são muito importantes também por oferecerem uma estrutura ideal para as fantasias. “O evento fornece materiais de socorro caso quebre alguma coisa, caso descole alguma coisa. Ele fornece um apoio total para o cosplayer”, relata Eder, que já passou por diversos problemas quando estava caracterizado: “Já aconteceu de eu ir para o evento, meu cosplay quebrar e eu não ter como arrumar. Hoje em dia você consegue ajuda de pessoas contratadas pelo evento,  que entendem de cosplay e sabem resolver os problemas em questão de segundos.”

 

Nubia Marques trabalha vestido como Chapeleiro Maluco na exposição do Tim Burton em São Paulo [Imagem: Instagram/Imagens Públicas]

Não são todos os lugares que oferecem um apoio adequado e até mesmo acessível para esse público. Nubia, designer gráfico e cosplayer, conta que há muitos eventos, principalmente na cidade de São Paulo, mas que não são todos que têm esse carinho e atenção pelos visitantes: “Eu ainda luto um pouco porque acho que cosplay não deveria pagar o seu ingresso. Tem um evento anual aqui em São Paulo, que é a BGS, que permite que você se inscreva como cosplayer e ganhe o ingresso. Eu acho que todos os eventos deveriam ser assim porque você está mostrando que está ali, por diversão ou profissionalismo, sendo um cosplayer”. Nubia ainda ressalta que o evento, além de dar o ingresso, conta com uma entrada diferenciada do público geral porque há fantasias que são grandes e delicadas e podem ser danificadas facilmente no contato com multidões. 

É muito comum que existam questionamentos acerca dos limites que diferem o cosplay de uma fantasia comum, frequente em festas temáticas por todo país e mundo. “Somos artistas: muita gente coloca uma peruca e acha que é cosplay”, relata Nubia. A prática do cosplay depende de muito mais do que apenas das roupas e da caracterização de um personagem: a prática exige que a pessoa interprete o agir e o expressar de quem está se vestindo. 

Ainda há muitos pontos a serem discutidos e melhorados para os cosplayers e cosmakers, a prática está vivendo um momento em que há um maior reconhecimento, mas ainda assim, muitas pessoas não reconhecem o quão trabalhoso pode ser fazer uma fantasia: “Eu não acho que o cosmaker seja desvalorizado no Brasil. O ruim é que muita gente parou de fazer trabalho de graça para as pessoas, porque tudo aumentou e são poucas pessoas que gostam de trabalhar como cosmaker, porque quando você começa a não fazer cosplay para você, você começa a não fazer o que você gostava de fazer”, relata Eder, que ainda acrescenta que muitas pessoas ignoram completamente o trabalho artesanal que é fazer as peças, o cosmaker ainda ressalta que muitas pessoas desvalorizam os serviços artesanais por acharem que são simples por serem de papelão, isopor e entre outros materiais.

Eder conhecia o mundo do cosplay desde 2004, mas fez seu primeiro cosplay apenas em 2008 [Imagem: Eder Allan/Acervo Pessoal]

A facilidade vinda com a internet 

A alta do universo cosplay foi impulsionada pela facilidade de encontrar conteúdos e materiais por meio da internet. Atualmente, vídeos que ensinem a produzir peças e acessórios em casa são muito mais acessíveis, como os famosos DIY (Do It Yourself, em português, Faça Você Mesmo). Também, o acesso a sites e portais que vendam acessórios como perucas, colares, tecidos por preços mais baixos foi possibilitado de maneira mais fácil pelos meios digitais. 

Além da construção do cosplay, a internet também facilitou a interação entre os próprios cosplayers e o público. Por meio das redes sociais, é possível montar páginas com conteúdos que serão apreciados por pessoas que gostam daquele trabalho, outros cosplayers e até mesmo possíveis empresas e indivíduos que queiram contratar o artista para um evento. É o caso de Eder e Nubia, que têm em suas redes conteúdos de seus trabalhos e muitas vezes são contratados por esses meios, além de ajudarem diversas pessoas que buscam iniciar no mundo do cosplay. 

Cosplay é cultura? 

De maneira mais ampla, cada cultura representa um conjunto de crenças, hábitos, saberes e comportamentos que de certa forma diferencia os grupos sociais e suas visões acerca dos conceitos e características de um mesmo fenômeno. Para Nubia, a prática do cosplay é uma manifestação cultural e contribui muito para a cultura do Brasil, principalmente por conseguir trazer narrativas importantes em cada fantasia: “Muitas histórias passam mensagens do nosso tempo atual, de lutas atuais, de evolução do ser humano. Essas histórias estão sendo refletidas em nosso dia-a-dia.”

Muitos cosplayers usam a criatividade para misturar personagens da cultura nerd com figuras da cultura brasileira. É o caso do “Lampião Verde”, citado por Camila, que cruza uma figura amplamente conhecida da cultura e história do país com o personagem dos quadrinhos da DC.

O Lampião Verde é uma criação brasileira, junção do personagem Lampião com o Lanterna Verde, herói dos quadrinhos da DC [Imagem: Instagram/Imagens públicas]

Outra manifestação muito comum no Brasil é a adaptação de figurinos para o que se tem no guarda-roupa. A prática pode ser chamada de “cosplay de armário” ou como mais conhecida popularmente: cospobre. “Você não precisa fazer o cosplay perfeito. Uma camisa laranja e uma calça laranja, por exemplo, já fazem uma adaptação do desenho Dragon Ball. No cospobre, a pessoa pega o que tem em casa, pode ser o tecido da cozinha, roupas velhas, papelão… Com o que tiver e cria um cosplay”, aponta Eder, ressaltando que há até mesmo premiações para essa categoria.

O cosplay faz parte da cultura popular nacional e internacional, e ainda é capaz de transformar a vida das pessoas. Camila, Eder e Nubia são uma parcela pequena dessas pessoas que tiveram suas vidas impactadas pela prática: “Eu adoro poder ser várias pessoas e me transformar nelas”, “eu era muito tímido e o cosplay me ajudou a me deixar mais descontraído”, “foi um refúgio para mim, uma forma de me expressar, uma forma de amor que acabou virando um trabalho”, relatam. 

Quando ocorrem os eventos

Confira algumas datas dos próximos eventos: 

CCXP: entre 1 e 4 de dezembro, em São Paulo.

Ressaca Friends: nos dias 17 e 18 de dezembro também em São Paulo.

Mais informações sobre preços, locais e atrações podem ser encontradas nos sites e portais oficiais das convenções. 

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