Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Ginástica Artística além da infância – muito além de uma brincadeira de criança

Por Rafael Castino Saltos, piruetas, voos que encantam os espectadores. Como elas fazem isso? Como essas ginastas conseguem o que parece impossível para um mero mortal? Mortal… Mortais! São diversos mortais: no solo, nas barras paralelas, em cima de uma trave. Um misto de elasticidade com leveza e equilíbrio, que vai muito além do físico. É …

Ginástica Artística além da infância – muito além de uma brincadeira de criança Leia mais »

Por Rafael Castino

Saltos, piruetas, voos que encantam os espectadores. Como elas fazem isso? Como essas ginastas conseguem o que parece impossível para um mero mortal? Mortal… Mortais! São diversos mortais: no solo, nas barras paralelas, em cima de uma trave. Um misto de elasticidade com leveza e equilíbrio, que vai muito além do físico. É necessário um grande preparo mental para suportar uma carreira que se inicia aos 7 e, na maioria das vezes, se encerra bem antes dos 30, distante do tão sonhado sucesso.

13407471_1283977474963165_104932667_n
Samara Trovão, atleta na sua infância (Imagem: arquivo pessoal)

“Antes de tudo, é necessário estabelecer a diferença que existe entre iniciação e especialização no esporte”, diz a professora Michele Carbinatto, especialista em ginástica e ciência esportiva da EEFE (Escola de Educação Física e Esporte da USP). “A iniciação consiste em exercícios recreativos, com muita música e muita vivência, de uma a duas vezes por semana no ambiente da ginástica, adicionando um contato com os aparelhos, mas tudo isso muito simples. Entretanto, se a criança começa a treinar de 3 a 4 vezes por semana, com uma carga de 2 a 3 horas diárias e um viés da artística (ginástica), ela está sendo especializada, algo que não é recomendado nessa fase de crescimento.”

“Comecei com 6 anos”, conta Juliana Matsuda, atualmente estudante de Rádio TV, sobre sua experiência e suas primícias na ginástica. “Os treinos aconteciam uma vez por semana e tinham a duração de 1h30. Não havia muita cobrança por sermos crianças, era um momento de fazermos exercícios mais dinâmicos. Os professores nunca exigiram mais do que podíamos.”

Infelizmente, a realidade da iniciação não é a de todos os desportistas brasileiros – grande parte do problema está ligado à precariedade de políticas públicas em relação ao esporte. Basicamente, para se pleitear uma bolsa (incentivo financeiro dado aos atletas) a ginasta deve alcançar um pódio em uma competição internacional. Em nosso país, por volta dos 16 anos, grande parte das praticantes acabam abandonando o esporte caso não alcancem certa remuneração com este. Por conta disso, a maioria dos técnicos acaba por preparar sua equipe para estarem no auge da carreira logo na adolescência, assim, conquistarem o ranking necessário, a bolsa atleta e não abandonarem a ginástica prematuramente.

A especialização acaba por transformar aquela simples brincadeira de criança, que está vivenciando uma nova experiência, em uma massante rotina de exercícios e treinamentos. Foi o que ocorreu com Samara Trovão, 19, hoje estudante, mas que durante parte da infância conviveu com essa rotina de especialista: “Entre meus 8 e 10 anos eu treinava profissionalmente. A carga girava em torno de 5 horas diárias, 6 vezes por semana. A cobrança era gigante! Diversas amigas minhas desistiram por conta da pressão e desmotivação, pois era muito difícil ganhar os campeonatos […] Particularmente, abandonei com 10 anos, não era o que eu queria como uma futura profissão. Havia chegado num ponto onde teria de largar a escola e me dedicar apenas para a ginástica, além disso, não gostava da dieta rigorosa que tinha de seguir e as punições sofridas por falta.”

No entanto, a herança deixada por esse esporte não é de todo ruim. Existem diversos casos de sucesso envolvendo atletas brasileiras como Daiane dos Santos, Daniele Hypolito, Jade Barbosa, entre outras. Ademais, o legado também é notado naquelas que por algum motivo abandonaram o esporte ainda na adolescência, como é o caso de Larissa Santomo:  “Eu larguei com 12 anos mas sinto saudades. A ginástica me deu coisas que consigo fazer até hoje e uma certa elasticidade que ainda não perdi!”. Lid Capitani, estudante de jornalismo que passou por uma situação semelhante, complementa: “Eu sinto muita falta, era um momento de descontração e atividade física que eu gostava muito!”

Verdade ou Mito: A ginástica impede o crescimento?

“Não, não, não! A ginástica não prejudica o desenvolvimento físico da criança”, é o que diz a especialista Michele Carbinatto. “Claro, existe o lado biomecânico: quanto menor a envergadura da ginasta, mais facilidade ela vai ter para execução dos movimentos, logo, é comum encontrarmos atletas menores nos nível de alto rendimento… Já foram feitas diversas pesquisas nesta área e nenhuma delas indica que este esporte interfira no crescimento infantil. Nesses casos, eu adoro usar um exemplo: Se você tiver um filho ‘baixinho’, vai colocá-lo no basquete para crescer? Não! Entende a relação? (risos)”

O cotidiano

Sexta feira à tarde. Em uma academia de ginástica, localizada na Zona Oeste de São Paulo, começa o último treinamento da semana. Durante as 5 horas de exercício, iniciadas com um árduo aquecimento, as garotas revezam entre a trave e as barras paralelas, divididas em dois grupos estabelecidos pela faixa etária. Além dessas, de hora em hora entram pequenas turmas, literalmente, meninas com até 7 anos de idade, que durante uma hora fazem a aula de iniciação.

Voltando ao grupo principal, as mais novas, aparentando ter de 9 a 14 anos, treinam tanto quanto as mais velhas. Suas séries, evidentemente, tem um grau de dificuldade menor, mas a cobrança é semelhante. Enquanto algumas se apresentam nos aparelhos, as outras ficam no solo observando e preparando sua série, corrigindo o posicionamento e a postura. Nada é tão cobrado na ginástica quanto a postura. Até no grupo de iniciação é exigida a posição perfeita das mãos e dos pés na hora da aterrizagem e durante as apresentações.

Concentradas, dedicadas e dividindo um mesmo tablado, garotas de diferentes faixas etárias aprendem umas com as outras, indo além das instruções passadas pelos técnicos. Com olhinhos sempre atentos, as iniciantes na ginástica admiram os malabarismos das profissionais mirins, que nem chegaram a adolescência ainda. A contagem do tempo em busca do sucesso é regressiva, neste esporte que, infelizmente, para a maioria das atletas acaba antes da fase adulta.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima