Até que enfim um filme brasileiro em que todos os personagens masculinos são secundários ou terciários! A comédia Gostosas, Lindas e Sexies (2017) conta a história de quatro amigas que, além de gordas, são muito felizes com seu corpo e com sua profissão. A união do roteiro inteligente com a atuação natural das quatro protagonistas constrói um filme dinâmico e nada cansativo, garantindo risadas do começo ao fim. Depois de muitas produções brasileiras que buscam o humor através de piadas depreciativas, o longa quebra esse padrão quando traz personagens esféricos e situações muito originais.

Todo o filme tem uma responsabilidade social muito grande quando trata da gordofobia feminina. Se o cinema brasileiro falha em construir personagens femininas que não sejam superficiais, que dirá personagens femininas gordas. No começo de 2017, a Organização Mundial de Saúde divulgou dados a respeito do sobrepeso no Brasil, e 47,4% das brasileiras estão acima do peso ideal. Para essa população, deve ser cansativo assistir a um sem número de filmes em que a principal característica das personagens gordas seja, tão somente, ser gorda. Nesse sentido, o longa é excepcional: as mulheres do filme gostam de transar, falam sobre transar e transam. E, para que isso aconteça, elas não precisaram ser retratadas como viciadas em sexo ou como mulheres supostamente indignas, que é o que costuma acontecer no cinema brasileiro. As protagonistas de Gostosas, Lindas e Sexies são bem sucedidas profissionalmente, são artistas talentosas, passam por dilemas éticos e emocionais e independem do dinheiro e da aprovação masculina.
A influência nítida da série Sex and the City (1998-2004) foi reafirmada pelo produtor Marcelo Braga durante a coletiva de imprensa do filme. Mas a relação entre as produções não é determinante: o longa nacional se diferencia não apenas pela abordagem da gordofobia, mas sobretudo pelo nível mais escrachado e desdenhoso de comédia. Ainda sobre a coletiva de imprensa, um comentário presente nas falas de todas as atrizes principais foi como participar da produção do filme estimulou a autoconfiança delas enquanto mulheres e que, além disso, elas esperam que esse impacto chegue em mesmas proporções nas telespectadoras.

Gostosas, Lindas e Sexies, claro, é um filme para se dar risada, e cumpre muito bem esse papel; mas é também um filme que promove, de maneira descontraída e simples, reflexões sobre temas relevantes como o empoderamento feminino e a gordofobia. Peca em alguns momentos quando se utiliza da difamação de algumas mulheres para alcançar o empoderamento de outras, mas o saldo é, sem dúvidas, positivo.
O longa chega ao cinemas no dia 20 de abril. Uma última dica: o trailer não faz juz ao filme, então talvez não valha tanto a pena de ser assistido. De qualquer forma, confira aqui:
por Ian Alves
ian.andrade.alves@gmail.com