Por Samuel Amaral (amaral.samuel@usp.br)
Artigo produzido por pesquisadores da Universidade de São Paulo e publicado na Revista Brasileira de Meteorologia identifica ilhas de calor na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O estudo demonstra que a diferença de temperatura média entre bairros centrais e afastados pode variar em até 4°C, sendo fatores urbanos, como a presença de áreas verdes e o uso do solo por construções comerciais e residenciais, determinantes para a caracterização térmica da área.
De acordo com os resultados, bairros como Pirituba, Vila Prudente, Lapa e Jabaquara apresentam maior temperatura e menor umidade média em relação a áreas mais distantes do centro da capital paulista. Como exemplo, Capela do Socorro e Riacho Grande demonstram uma menor média térmica e uma maior umidade, principalmente por estarem próximas à região rural.
A professora e pesquisadora Flávia Ribeiro, participante na produção do artigo, explica que “quando tiramos um ambiente natural e fazemos um ambiente construído, as características mudam”. “Em geral, superfícies construídas não vão ter água disponível para ser evaporada. Então, você tem menos energia sendo convertida em vapor d’água e mais energia sendo usada para aumentar a temperatura das superfícies”, explica Flávia.
Para realizar o estudo, foram coletados dados de 30 estações meteorológicas espalhadas pela Grande São Paulo, monitoradas pelo Centro de Gerenciamento de Mudanças Climáticas (CGE), no período de tempo de 2009 a 2019. Dentro de uma área de 500 metros de raio ao redor das estações, houve a escolha de informações sobre os parâmetros de precipitação, temperatura do ar, umidade relativa, além dos de uso do solo, este último vindo da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Semil).
Classificando bairros
Por meio do algoritmo k-means, realizou-se a identificação e o agrupamento de locais com características semelhantes em quatro grupos. O primeiro, que contempla as localidades de Vila Mariana, Sé, Pinheiros, Butantã, Lapa, Pirituba, Tremembé, Tucuruvi, Penha, Vila Formosa, Anhembi, Vila Prudente, Mooca, Freguesia do Ó e Jabaquara, apresentou a média mais alta em relação a temperatura e a menor umidade. Durante a primavera, os índices se intensificam e há a formação de ilhas de calor.
Já o grupo que abrange Perus, Santana do Parnaíba, Itaquera, Itaim Paulista, Ipiranga, Vila Maria, Cidade Ademar e Campo Limpo teve como destaque o dado da ocupação do solo por edifícios comerciais e residenciais maior de 75%.
O terceiro grupo, que engloba Santo Amaro, M. Boi Mirim, Mauá, São Mateus e São Miguel Paulista, apresentou a maior média de presença de áreas verdes em seu território. Porém, foi menos contemplado pelas estações de monitoramento. Em destaque, o grupo de Capela do Socorro e Riacho Grande apresentou as melhores características para o conforto térmico de seus moradores. A umidade relativa varia na faixa dos 88% e a temperatura média está abaixo dos 19°C.
Para o pesquisador Pedro Almeida, participante no artigo, as características térmicas das áreas analisadas também estão relacionadas aos materiais com que as estruturas da cidade são feitas. “Os materiais que são utilizados, que têm baixo albedo, retêm mais a radiação solar e depois a dissipam no final da tarde e começo da noite, causando essa sensação térmica de temperatura elevada”.
De acordo com Almeida, a solução para esse problema urbano começa no desenvolvimento de políticas públicas de arborização, com a criação de mais áreas verdes e bosques na Região Metropolitana de São Paulo. Por meio de uma cidade com mais plantas, é possível mitigar os efeitos das ilhas de calor urbanas.
Para o futuro, o pesquisador ressalta que fatores como dados socioeconômicos podem ser incorporados em novas pesquisas para que a análise dos efeitos do fenômeno sejam melhor compreendidas. Ele também considera que expandir a pesquisa para outras regiões urbanas, tanto no Brasil quanto no exterior, poderia enriquecer as comparações e fortalecer o debate sobre estratégias de mitigação e adaptação às mudanças climáticas nas áreas urbanas.
Imagem de capa: Paulo Pinto/Agência Brasil