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Inversão de valores, reconstrução de heróis

Analfabeto, sem família, pertencente a uma minoria da sociedade, preso ainda jovem. Não se trata de Sandro do Nascimento, em “Última Parada 174”. Não se trata da personagem do mais novo filme-favela brasileiro. Este é Malik El Djebena (Tahar Rahim), protagonista do ítalo-francês “O Profeta” (Un prophète).   Na prisão, todos são culpados e fracos …

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Analfabeto, sem família, pertencente a uma minoria da sociedade, preso ainda jovem. Não se trata de Sandro do Nascimento, em “Última Parada 174”. Não se trata da personagem do mais novo filme-favela brasileiro. Este é Malik El Djebena (Tahar Rahim), protagonista do ítalo-francês “O Profeta” (Un prophète).

 

Na prisão, todos são culpados e fracos não têm vez. É isso o que Malik percebe logo que entra e é a essa situação que se adequa. Ele o faz de duas maneiras: canaliza sua capacidade de aprendizado, obviamente, para entender a logística do crime e aproveita de sua condição de córsico/árabe para ter acesso a todos os níveis da cadeia. Dessa forma, o filme todo pode ser visto como uma gradação ascendente entre o totalmente fraco e o totalmente heróico. Malik vai da condição inicial de cão adestrado a vencedor triunfal de seu dono, o já decadente César Luciani (Niels Arestrup).

Se, por um lado, há clamores crescentes para que heróis se humanizem, que tenham defeitos, o diretor Jacques Audiard os leva ao extremo. Por isso Malik é tão importante no filme. A boa nova do profeta é a maldição do anti-cristo. O herói é a incorporação plena do criminoso. Contudo, ele, o herói, não se torna anti-herói, não se subverte, porque é humanizado. Melhor, é naturalizado, afinal, o meio aqui também é decisivo. Se o mundo de Malik fosse azul, ele seria Amélie Poulain; mas seu mundo é negro, obscuro e decisivo na sua ascensão criminal.

Há, ainda, outra questão. Durante o filme fica incerta a condição que o título remete ao protagonista. Tampouco o título reflete a ideia do diretor, brilhantemente contida na história: ressaltar o fatalismo e a dimensão moral. Somente quando se analisa mais friamente a relação entre título e protagonista é que surge outro aspecto. Como o diretor define, “estamos lidando com um pequeno profeta, um novo protótipo de pessoa”. Deste ângulo, o filme é também uma crônica denunciatória da sociedade contemporânea.

“O Profeta” é, portanto, um filme de qualidade incontestável, ratificada pelas indicações e prêmios conquistados. No hall estão o Grand Prix (júri) de Cannes, em seu lançamento, e o BAFTA de Melhor Filme de Língua Não-inglesa; além da indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. É, sem dúvida, um dos filmes a se colocar na lista de prioridades, caso ainda não se tenha visto.

Por Paulo Fávari

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