Por Bernardo Carabolante (bernardocm0411@usp.br)
No último mês estreou o filme Ligação Sombria (Sympathy for the Devil, 2023), dirigido por Yuval Adler e roteirizado por Luke Paradise, com Joel Kinnaman e o aclamado Nicolas Cage — de volta nas telonas após recente sucesso em Longlegs – Vínculo Mortal (2024). O longa de 2023 chegou este ano no Brasil e, apesar de seu título original ser o mesmo da canção da banda The Rolling Stones, a semelhança não passa disso. O filme se configura como um road movie atípico, em que a jornada não é apenas física, mas psicológica. A cada quilômetro percorrido, o roteiro se aprofunda em um labirinto de dúvidas e intrigas.
A história se passa na noite em que David (Joel Kinnaman) se encaminha ao hospital para acompanhar sua esposa no parto de seu segundo filho. Porém, no estacionamento, o personagem de Nicolas Cage entra no carro parado e, sem se identificar, obriga David a dirigir. Assim continua o suspense ao redor do que acontecerá com os dois durante as horas no carro, onde dúvidas e respostas surgem, acidentes e acusações sobre o passado são levantadas.
Apesar de se dizer um filme de suspense e ação, durante os 90 minutos em que acompanhamos os dois personagens principais, a dinâmica tensa passa mais pelo telefone de David tocar e ele não atender do que entre os personagens. Qualquer comentário ou metáfora utilizada por eles não parece convincente e torna em algo sério os momentos engraçados e bobos.
Muitas vezes, graças à atuação caricata e sarcástica de Cage, não é possível levar a sério o suposto medo que o personagem deveria passar. Porém, isso deixa a curiosidade sobre qual será o rumo que a história tomará quanto ao personagem a partir do momento em que mergulhamos na motivação dele. Kinnaman entrega bons momentos de tensão, até por não saber quem é o homem que o obriga a dirigir sem rumo enquanto deveria estar com sua esposa no hospital. Mesmo assim, em momento algum pode ocorrer qualquer apreço pelos personagens, uma vez que ambos são repetitivos nas perguntas e respostas, por ora desgastando a obra.
Na parte técnica, o filme também deixa a desejar, com os excessivos cortes em cena e o balanço da câmera a todo instante – as sequências no carro causam até um incômodo cansativo na visão. A trilha sonora encaixa bem nos momentos do filme, as músicas são responsáveis pelos mínimos momentos de medo e por encaixar aquela história contada. A fotografia atinge sucesso em provocar um incômodo com Cage, com cenas em que ele remete a uma espécie de diabo; porém, de resto, são retratadas apenas cenas em lugares bonitos com luzes neon ou locais mais afastados da cidade sem tanta iluminação.
Uma das únicas coisas boas do filme é a atuação de Nicolas Cage, afinal o mistério deixado pelas falas, expressões exageradas e caricatas tornam o personagem o mais interessante do longa. O filme é repleto de pontos negativos, sendo um dos principais o roteiro. Para qualquer espectador que assiste a alguns thrillers, o plot é tanto previsível quanto ruim e, mesmo se tivesse uma direção boa — o que não acontece—, o filme não se salvaria. Com personagens que não evoluem, o filme não marca por qualquer visual de destaque: talvez o ápice seja o final, em que o plot twist acontece e acaba com o filme, deixando uma sensação de insatisfação: “Acabou? Era isso?”.
Apesar dos 90 minutos de filme, o que é rápido para a indústria atual, a história é tão cansativa que deixa a impressão de ser mais longa. Em um mundo repleto de podcasts, tocados enquanto o ouvinte faz outras tarefas, este filme pode ser utilizado para o mesmo, já que, em sua maioria, o roteiro consiste em diálogos entre os personagens principais. Ligação Sombria é apenas um filme qualquer em meio a tantos outros iguais, parecendo mais um teste para o roteirista e o diretor do que um filme conciso.
O filme já está nos cinemas. Confira o trailer: