O que te vem à mente quando se fala de meditação? Provavelmente a resposta dessa pergunta é: alguém sentado de pernas cruzadas, com as mãos sobre os joelhos e os dedos polegares formando círculos com os indicadores. Esta configuração é conhecida como Lótus e é uma das posições meditativas mais famosas.
Outro grande estereótipo da meditação é “uma pessoa careca que vive no topo da montanha resmungando: auuuun”. Estes pré-conceitos são grandes entraves na difusão dessa prática no Ocidente. Por isso, o Laboratório conta tudo que você precisa saber sobre a meditação e seus, verdadeiros e cientificamente provados, benefícios.
Meditação: nunca vi nem ouvi, só ouço falar
Pouco se sabe sobre a origem da meditação. Porém, textos da literatura taoista, escritos por volta de 300 a.C., já expunham exercícios meditativos de forma sistematizada. Documentos posteriores, datados entre 1500 e 1000 a.C., apresentam na cultura hindu técnicas semelhantes. O método ainda seria amplamente difundido no budismo antes de chegar ao Ocidente.
“A meditação nasceu em contextos religiosos. Mas isso não quer dizer que a tem sempre essa conotação. Entre outros, o mindfulness mostra como uma abordagem leiga é eficiente para quem não quer envolver religião”, pontua Beatriz Del Picchia, formada em Atenção e Práticas Meditativas na Palas Athena, sobre a associação entre meditação e religiosidade.
Após passear pelo mundo, o método meditativo adquiriu diversas versões: “é só relaxar”, “é só fazer ampla abstração durante três horas na posição de Lótus”, “é só seguir a meditação guiada do Youtube”. Nenhuma das opções anteriores está incorreta, pois assim como qualquer prática, a meditação possui níveis e aplicações diferentes.
Contudo, em um contexto amplo e geral, meditar é concentrar-se apenas nas sensações assimiladas no momento presente, ignorando pensamentos sobre o passado e o futuro. Essa configuração, se adotada como hábito, é capaz de acarretar diversos benefícios aos praticantes – diz o budismo, o hinduísmo e a ciência.
Meditação e medicina
O combate do estresse e da ansiedade, doenças amplamente difundidas no século 21, é um dos focos da meditação no campo medicinal. Um estudo desenvolvido por Sara Lazar, neurocientista do Hospital Geral de Massachusetts, guiou-se pelo seguinte script: convocou meditadores de longa data e um grupo controle, então, realizou tomografias.
Como resultado, observou-se que a amígdala – parte do cérebro responsável pelo instinto de ataque ou fuga, e importante nos aspectos de ansiedade, medo e estresse em geral – estava consideravelmente menor em pessoas do primeiro grupo, as que praticavam meditação habitualmente.
Apesar do benefício cientificamente comprovado, Beatriz adverte: “a meditação não é tratamento clínico, ou seja, não é substituto de psicoterapia nem de outros tratamentos de saúde mental. Mas pode ser associada a eles pois ajuda na prevenção e redução de estresse, ansiedade e outras desarmonias psíquicas”.
Outro estudo, publicado em novembro de 2012 na revista Circulation: Cardiovascular Quality and Outcomes, reuniu 201 pessoas com doença cardíaca coronária e lhes recomendou aulas de meditação transcendental. Após cinco anos, naqueles que realmente adotaram o hábito, constatou-se uma redução de 48% para o risco geral de ataque cardíaco, acidente vascular cerebral e morte.
Por meio de experimentos como estes, a meditação mostra ao mundo que não é apenas uma prática religiosa, mas sim, parte de um estilo de vida mais equilibrado. “Ela é eficaz no combate de vários problemas como esses. Cada vez mais fica claro que a relação corpo-mente é muito mais estreita e complexa do que se imaginava na rígida medicina ocidental”, comenta Beatriz.
Atenção! Meditação faz bem
Os benefícios da prática não se restringem à medicina. O mindfulness – técnica baseada na atenção plena – prega o desenvolvimento pessoal do praticante. “Ao realizar o método, nos tornamos mais focados e conscientes dos processos que nos distraem. Portanto, com mais recursos para lidar com eles. Cria-se uma espécie de lugar mental despoluído”, aponta a pesquisadora.
A tese é a seguinte: ao treinar a concentração plena durante a meditação, automaticamente o praticante torna-se mais atento durante seu dia a dia. O objetivo é tornar-se permanentemente relaxado e atento – o que pode soar contraditório ao ouvido leigo. Esta divergência, segundo Beatriz, “é o pulo do gato”.
Contudo, realizar o método nem sempre é uma tarefa simples. Nós do século 21 vivemos rotinas frenéticas, então se concentrar pode ser desafiador, como conta Luiza, que medita desde 2013: “sentia muita dificuldade de me concentrar no momento, e muitas vezes quando eu conseguia, não demorava muito para desfocar de novo. Mas com a prática constante isso se tornou mais fácil e tranquilo. Consegui”.
Apesar das dificuldades encontradas, Luiza reitera os benefícios da meditação em sua vida: “quando pratico meditação com frequência, me sinto muito mais focada nas atividades do dia. Além de me sentir mais feliz, consigo lidar mais facilmente com situações estressantes. Sinto também melhora na respiração e na ansiedade”.
Meditação aqui e agora
Uma prática que se baseia em atenção, concentração e relaxamento não poderia escolher cenário pior para desbravar: Ocidente, século 21. Nossa rotina agitada, as muitas distrações disponíveis, a troca de informação constante, a necessidade de cumprir prazos, tudo isso torna distante a possibilidade de simplesmente parar.
Por outro lado, a meditação pode ser considerada uma espécie de remédio para este estilo de vida displicente e desatento. Dentre todos os benefícios apresentados – melhoras cardíacas, psicológicas e profissionais – a especialista entrevistada cita “a empatia, a compaixão e a melhoria das relações interpessoais” como os principais ganhos relacionados à prática meditativa.
“Durante a prática me sinto muito tranquila, em paz. É um momento sagrado meu, que me desconecta do mundo e me conecta comigo mesma. É ótimo relaxar depois de, por exemplo, uma semana estressante”, Luiza relata sobre seus momentos de meditação, reiterando a oposição entre o método e o estilo de vida agitado.