Na manhã desta quinta-feira (2), Glória Maria Matta da Silva, jornalista e apresentadora da TV Globo desde o início dos anos 1970, faleceu no Hospital Copa Star de problemas com o tratamento que estava fazendo para combater novas metástases cerebrais. Glória deixa duas filhas, Laura e Maria, de 14 e 15 anos respectivamente.
“Glória marcou a sua carreira como uma das mais talentosas profissionais do jornalismo brasileiro, deixando um legado de realizações, exemplos e pioneirismos para a Globo e seus profissionais”, comenta a TV Globo.
Glória Maria iniciou sua carreira na Globo como rádio-escuta no começo dos anos 1970 e foi a primeira mulher a entrar ao vivo em cores no “Jornal Nacional”, sendo também a primeira repórter negra da televisão do Brasil. Em 1971, estreou na televisão com a cobertura do desabamento do Elevado Paulo de Frontin, no Rio de Janeiro. Na Globo, caminhou por vários jornais como “RJTV”, “Jornal Hoje” e “Fantástico”. Seu trabalho mais recente foi no “Globo Repórter”, apresentando o programa ao lado de Sandra Annenberg.
A carioca é conhecida pelas reportagens especiais e viagens que fez a lugares exóticos, colecionando mais de 100 países em seu passaporte desde o Deserto do Saara a Malvinas, em que fez a cobertura da guerra de 1982. O jornal Estadão realizou um compilado de cenas marcantes em que Glória Maria mostrou simpatia e humor em frente às câmeras.
Além de visitar vários países, Glória Maria é lembrada pelas entrevistas com figuras do mundo das celebridades, desde chefes de Estado a artistas internacionais: o ex-presidente João Figueiredo e os artistas Madonna, Leonardo DiCaprio, Nicole Kidman e Freddie Mercury foram entrevistados pela jornalista. Ela ainda teve o privilégio de acompanhar as gravações do clipe “They Don’t Care About Us” de Michael Jackson – e ainda deu um beijo na amiga carioca.
Glória Maria alcançou espaços dentro do jornalismo que até então eram impensáveis para mulheres negras. O jornalismo ainda hoje é um espaço dominado por homens brancos e a presença dela no telejornalismo brasileiro desde os anos 1970 é por si só algo revolucionário, ainda mais quando esta presença foi acompanhada de muitos sorrisos e reportagens que engrandecem os olhos. Glória Maria ousou escapar do lugar de violência ao qual pessoas negras são submetidas e nos transmitiu muita alegria e conhecimento nas noites de sexta-feira.
Glória Maria foi e continuará sendo um grande exemplo para muitas meninas e mulheres dentro e fora do jornalismo. Além de excelente profissional, vivenciou a maternidade de forma única, adotou suas duas filhas sozinha, mostrou ao mundo que uma mulher realmente pode ser quem ela desejar e da forma que desejar. Nunca deixou que ninguém a definisse pelos seus relacionamentos e nem por sua idade, o que inclusive tornou-se uma brincadeira da jornalista, que nunca revelou quantos anos tinha porque, no final, não fazia diferença: seu espírito jovem e aventureiro era o que prevalecia.
Além das notícias, Glória Maria ocupa diversos espaços, como a moda. A revista Vogue pronuncia seu lamento pela perda e seu prestígio por ter sido capa de uma das edições da revista.
Glória Maria é uma inspiração para toda a sociedade brasileira como mulher, negra, mãe e jornalista. “Mulher negra, filha de uma dona de casa e de um alfaiate. Aprendeu inglês, francês e latim sozinha e nunca deixou que as circunstâncias a sua volta a impedissem de alcançar seu objetivo. Me inspiro nela por isso”, comenta Lívia Lemos, estudante de Jornalismo na USP e Diretora de Marketing da Jornalismo Júnior.
“Eu sempre vi muito jornal desde criança e ficava me imaginando naquele lugar…Mas uma coisa que eu gostava mesmo de parar para ver e que não estava no script de uma criança acostumada a dormir bem cedo era o “Globo Repórter”. E quem estava lá era a Glória Maria, sempre! Como alguém que ama a ideia de viajar e de conhecer o mundo, aquilo era encantador para mim e não tem como se inspirar numa figura como a dela”, relembra Ricardo C. Thomé, Diretor do Arquibancada da Jornalismo Júnior. “Meus pais cresceram com a Glória Maria e eu cresci com Glória Maria. Que ela siga cativando as pessoas como fez comigo e com tanta gente, transcendendo o jornalismo das mais diferentes formas. Descanse em paz!”, acrescenta.
Vários de seus colegas de trabalho e de profissão fizeram homenagens em forma de publicações nas redes sociais e em vídeos nos programas da Globo.
“Minha mãe conta que nos anos 70, quando a televisão ainda era algo restrito que começava a se popularizar, ela ainda criança, se reunia com o povo da cidade dela, no sertão do RN para ver o Jornal Nacional. Na memória dela, meu avô apressava as crianças dizendo “vamos ver a Glória Maria”. Compartilho essa memória para enfatizar que a grandeza de Glória Maria atravessou muitas gerações deste país, que em toda sua imensidão teve cada canto preenchido por uma reportagem dela feita com excelência. Pioneira em tudo que o telejornalismo permitiu, Glória Maria é uma figura que representa muito mais que a classe jornalística, e que estará para sempre na história de cada brasileiro que teve o privilégio de vê-la brilhar”, relembra Gustavo Roberto da Silva, Diretor Comercial da Jornalismo Júnior.
A Jornalismo Júnior lamenta a perda de uma das principais pioneiras do telejornalismo brasileiro, nossos sentimentos aos amigos e familiares. O legado dela como pessoa e profissional da comunicação jamais será esquecido.
*Imagem de capa: Divulgação/TV Globo
Ótima reportagem.