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MPB: Últimos 60 anos da música (verdadeiramente) popular brasileira – Parte 1

Imagem: Julia Mancilha/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior Você já parou para pensar no quanto o Brasil é um híbrido de diversas culturas? Não somos diferentes apenas na aparência, mas nossos hábitos também divergem muito entre si. Mas tudo isso, quando junto e misturado, acaba formando uma massa homogênea, a nossa identidade nacional: a cultura brasileira. …

MPB: Últimos 60 anos da música (verdadeiramente) popular brasileira – Parte 1 Leia mais »

Imagem: Julia Mancilha/Comunicação Visual – Jornalismo Júnior

Você já parou para pensar no quanto o Brasil é um híbrido de diversas culturas? Não somos diferentes apenas na aparência, mas nossos hábitos também divergem muito entre si. Mas tudo isso, quando junto e misturado, acaba formando uma massa homogênea, a nossa identidade nacional: a cultura brasileira.

Ao longo dos anos, nosso país passou por diversas transformações. Por exemplo, o cenário político mudou diversas vezes. Obviamente, os hábitos também. E o que dizer da música brasileira? Nos últimos 50 anos – 1967 a 2017 – o brasileiro teve diversas fases. O consumo das músicas que foram verdadeiramente populares passou por várias mudanças ao passo que as expressões artísticas também viviam em constante metamorfose.

De Sérgio Reis à Anitta, Caetano Veloso à Maiara e Maraísa, quais foram os topos das paradas musicais das últimas 6 décadas e o quê isso significa? Vamos embarcar agora nessa viagem no tempo sobre a evolução musical e ideológica de nossos hits para descobrir as respostas e o que fez a música chegar aonde chegamos, em 2017.

1967 – Jovem Guarda x Tropicália

Nos anos 60, o cenário musical era bem definido. Os sucessos dos membros da Jovem Guarda, como Roberto Carlos, Wanderléa, Erasmo Carlos e Sérgio Reis, dominavam as paradas musicais. Inspirado no Rock, sua música era mais agitada, o famoso “iê-iê-iê”, ao som de guitarras e baterias, sem tanta preocupação com o conteúdo. O nome do movimento cultural – que envolvia também a moda – surgiu do programa musical Jovem Guarda, da TV Record, que tinha como público os jovens sem engajamento político, que se interessavam pelo pop. Aliás, é essa uma das razões que levaram o movimento a sofrer várias críticas. Mesmo assim, em 1967, a jovem guarda era o maior sucesso. Neste ano, a música #1 das paradas era Coração de Papel, de Sérgio Reis.

Mas esse ano foi marcante também pelo surgimento de um dos mais expressivos movimentos artísticos nacionais: a Tropicália. Na música, o movimento de ruptura, liderado por Caetano Veloso e Gilberto Gil, buscava romper e protestar contra a música brasileira bem comportada. Nesses tempos difíceis da ditadura, não era permitido falar a verdade, nem opinar sobre o assunto. A forma encontrada por esses artistas de se manifestar foi a utilização do deboche e da ironia.

Em contraste, a bipolaridade musical dos anos 60, com o conservadorismo da Jovem Guarda e a extravagância tropicalista.

Musicalmente, eram influenciados pela cultura brega, rock psicodélico, música erudita e pela cultura popular, utilizando também diversas manifestações nacionais. Suas influências estrangeiras acabaram sendo alvo de críticas, mas eles insistiram nessa mescla musical. O resultado podemos ouvir, por exemplo, na junção da guitarra elétrica, com violinos e com berimbau. Nas suas performances, que buscavam chocar, eles eram caracterizados pelo grande excesso, através dos cabelos compridos, roupas coloridas, etc.

Na época, os festivais de música eram extremamente populares. Transmitidos pelas grandes emissoras, eles acabavam revelando muitas estrelas e  acabaram por consolidar a música popular brasileira. Em 1967, o III Festival de Música Popular Brasileira, exibido pela TV Record, registrou o que foi considerado o ponto de partida para o Tropicalismo. Naquele ano, além dos já conhecidos artistas da Jovem Guarda e da MPB, Caetano e Gil mostraram para o que vieram. Na competição, Domingo no Parque de Gilberto Gil conquistou o 2º lugar e Alegria, Alegria de Caetano Veloso, o 4º lugar, momento que foi muito importante, pois tornou ambos artistas e canções escolhidas muito populares por todo o Brasil. A partir de então, os tropicalistas não saíram mais dos holofotes. Em 1968, o álbum Tropicalia ou Panis et circencis foi lançado, com a participação de diversos músicos e poetas, tornando-se praticamente um símbolo deste movimento revolucionário. Já a partir desse ano, as paradas passaram a contar com a presença dos tropicalistas.

1977 – Os dancin days e o tempo da brilhantina

Apesar de uma década ter se passado, os mestres dos anos 60 ainda dominavam o mercado. O hit #1 de 1977 era Amigo, de Roberto Carlos, que não parou de fazer sucesso em nenhum momento, sempre aparecendo entre as mais tocadas. Por sua vez, a MPB também permaneceu no cenário. Nesta década, Elis Regina e Tim Maia foram alguns dos nomes dos artistas que seguiram defendendo a música popular brasileira. Seus icônicos sucessos marcaram muito a história da música nacional. Em 1976, Elis gravou uma canção de Belchior, que acabou se tornando uma de suas maiores gravações: Como nossos pais, que é, até hoje, relembrada pela arrepiante voz e o incrível talento da cantora.

O rock nacional também começou – sutilmente – a demarcar seu território. Rita Lee é uma das maiores representantes no segmento. Só neste ano, ela emplacou dois grandes hits: Agora só falta você, grande sucesso até hoje, e Arrombou a festa, que cravou no Top 10 uma letra que trabalhava com metalinguagem e questionava o que tinha acontecido com a MPB. Raul Seixas também deixou sua marca com o lançamento de Maluco beleza, em 1977, um dos grandes clássicos brasileiros.

A divina Elis Regina em apresentação de Como nossos pais, no Fantástico (1966)

O questionamento político também não foi deixado para trás. É na voz de Chico Buarque e Milton Nascimento que ouvimos uma das músicas mais icônicas da nossa história, lançada em 1978: Cálice.  A canção é, além de tudo, uma brilhante peça literária que representa bem a luta e o protesto contra a Ditadura militar, que calou milhares de vozes através do derramamento de sangue que é representado na letra da canção.

Apesar da dor, a década de 70 presenciou os animados tempos das discotecas. Pelo mundo, as baladas agitadas empolgavam a juventude da época. Músicas mais dançantes passaram a tomar conta das paradas. Nomes como Abba passaram a fazer muito sucesso por todo lugar – Dancing queen, um de seus maiores sucessos, foi uma das mais tocadas no Brasil em 1977. Sidney Magal foi um dos que entraram nessa onda. Meu sangue ferve por você é uma das pioneiras na área da música mais dançante. Já no ano seguinte, As Frenéticas dominaram as paradas do país com seus sucessos da música disco. Novelas como Dancin days marcaram essa geração, e representavam esse gosto pela dança e os animados bailes.

1987 – Hoje é dia de sex, drugs and rock, bebê

Podemos definir os anos 80 como a era de ouro do rock nacional. Analisando todos os charts, vemos que há um explícito predomínio das bandas de rock no cenário musical. Foram os anos de Legião Urbana, Barão Vermelho (posteriormente, dividindo-se com a saída de Cazuza), Titãs, Paralamas do Sucesso, entre outros. Em 1987, o topo das paradas foi de Que país é esse?, do Legião Urbana. Após 20 anos de repressão, agora o Brasil estava livre da Ditadura, o que tornava os já frequentes questionamentos ainda mais comuns e populares. Foi assim que a maior banda de rock brasileira conquistou o país: falando a verdade, criticando abertamente e falando a voz do povo. Foi também em 1987 que Legião Urbana lançou outro de seus grandes hits: Faroeste Caboclo.

Essa manifestação política foi muito presente nessa época e as letras, diversas vezes, traziam um caráter social. Em geral, os astros da época não demonstram mais aquele ultrapassado conservadorismo. Homem primata (1987), e Polícia (1986) dos Titãs são claros exemplos, que não demonstram medo em afrontar, literalmente escancarando os assuntos polêmicos. Cazuza, já em carreira solo, também levou consigo o ideal do questionamento, tornando-se um grande ícone do rock. Seu estrondoso sucesso fica evidente já em 1988, quando Faz parte do meu show foi #1 e Ideologia foi #5. O cantor poderia ter nos dado muitos outros sucessos, mas, infelizmente, por complicações da AIDS, nos deixou em 1990.

Além do rock, os anos 80 tiveram protagonistas no sertanejo e na MPB, como Roberta, Gal e Chitãozinho e Xororó

Mas nem só de guitarras, baterias e baixos viveu a música brasileira desses anos. Na MPB, Gal Costa estrelava novamente as paradas, com Brasil, uma de suas mais famosas canções, considerada um ícone da brasilidade. A cantora Roberta Miranda, tida atualmente como a Rainha do Sertanejo, também já fazia sucesso nos anos 80. Seu grande hit Vá com Deus figurou nas paradas de 87, mostrando o começo da presença do sertanejo no gosto popular. Isso também é perceptível com a migração do sertanejo para as metrópoles, como o caso de Chitãozinho e Xororó. No final da década, a dupla contribuiu para a consolidação do ritmo nas paradas, lançando seus sucessos Fio de cabelo e No rancho fundo.

“Mas não vai ter pop?” Calma que já estamos quase lá

Na década em que o mundo conviveu com o astronômico sucesso de Madonna e Michael Jackson, arrasando no pop, o Brasil também teve seus astros “pops”. Os anos 80 foram o auge de uma estrela bem polêmica. Quem? Gretchen. A própria rainha do rebolado – e hoje em dia, dos memes. Pegando uma onda do final dos anos 70, a cantora tinha um som mais dançante e contagiante, ficando conhecida por suas performances cheias de rebolados, que são até hoje, alvo de muitas críticas. Seus maiores sucessos foram Conga, conga, conga, Melô do piripipi e Freak le boom boom. Estrelando com frequência diversos programas de televisão, eles fortaleceram sua fama, tornando-a muito popular.

1997: Tudo junto e misturado

1997 representa muito bem todos os anos 90 e serve como parâmetro para toda a década. Ao contrário de outras épocas, não é possível definir uma linha clara que evidencie o que era popular. Havia, na verdade, uma mistura de todos os gêneros. Samba, pagode, axé, pop, rock, rap, sertanejo, funk…todos tinham ao menos um exemplar entre as mais bombadas. Essa é, de longe, a década mais variada musicalmente. Ela consagra também a presença do sertanejo nas paradas. Desde então, sempre houve a presença do bom e velho som do violão e as “modas de viola” cantando sobre o amor. As estrelas do ano eram as duplas Zezé di Camargo e Luciano, e Leandro e Leonardo. Nessa época, também, há a consolidação de um pop mais próximo aos moldes do que vemos nos dias de hoje.

Partindo de Zezé di Camargo e Luciano, passando por Claudinho e Buchecha até Skank, conseguimos ver a diversidade musical nos anos 90

No rap, Planet hemp e Gabriel, o pensador eram inovadores no cenário musical, mandando suas rimas questionadoras e conquistando sua merecida visibilidade. Tratando de assuntos polêmicos, como a legalização da maconha, o Planet hemp teve várias de suas músicas nas paradas por anos seguidos. Já o rock, após seu ápice nos anos 80, não saiu de cena. O hit #1 em 1997 era Palpite, de Vanessa Rangel, uma música pop rock. Muitos artistas do rock já conhecidos, como a banda Skank, fizeram bastante sucesso. Em 1996, a banda bombou com Garota nacional no topo dos charts. Enquanto isso, a já veterana MPB se manteve presente nas vozes das grandes artistas Cássia Eller e Zizi Possi.

https://youtu.be/mIm3hcc6lzE

Claudinho e Buchecha eram os representantes do famoso funk carioca ainda em seus primórdios. O pagode também passou a tomar conta das paradas nos anos 90. Em 1997, uma das mais tocadas era do grupo Só pra contrariar: Depois do prazer. O axé, por sua vez, vem da Bahia para o Brasil com toda força, animando ao som de sua percussão, instrumentos metálicos, guitarras e baixos elétricos, cheio de animação e alegria. Daniela Mercury é um dos grandes nomes que surgiram na época. Entretanto, um grupo conseguiu unir os dois ritmos, axé e pagode, futuramente, entrando para a história da nossa cultura com suas músicas, que conquistaram todo o Brasil. Já sabe quem? Se não sabe, é só “segura o…., amarra o…..”. Agora sim!

É o Tchan, tchan, tchan, tchan, tchan (da série: gifs com som)

O grupo É o tchan fez muito sucesso nos anos 90. As letras chiclete, que muitas vezes abusavam do duplo sentido de forma bem questionável, logo grudaram na cabeça de todos. Já as danças – marca mais que registrada – também animaram gerações de pessoas que se jogaram no Tchan, seja no Egito, na Selva ou em qualquer lugar. A dança e a música no grupo andavam tão juntas que eram simplesmente inseparáveis. Sua repercussão foi tanta, que fizeram até mesmo uma competição no programa do Faustão para descobrir uma nova dançarina. Assim, em 1998, Sheila Mello foi a escolhida “nova loira do Tchan”, que rendeu até mesmo uma música (mais um de seus sucessos).

Mas se tem alguém que pode definir toda essa mistureba dos anos 90, é o grupo Mamonas Assassinas. Cinco membros. Sete meses. Milhares de fãs. Milhões em vendas. Uma história jamais superada. Em suma, é esse o resumo da carreira da banda que, assim como um meteoro, abalou todo o Brasil. Com influências musicais de diversas partes do mundo, incluindo brasileiras, o resultado foi um som muito diferente, porém, divertido. Os sete meses de existência foram o suficiente para gerar um sucesso inigualável. Atire a primeira pedra quem nunca se rendeu ao som de “Pelados em Santos”, seu maior sucesso, ou qualquer outro hit dos Mamonas. Porém, analisando hoje, suas letras eram também questionáveis. Só que eles, infelizmente, não puderam mostrar mais do seu repertório. Os jovens astros tiveram a carreira interrompida por um acidente aéreo, que tirou a vida de todos. Desde então, o Brasil ficou órfão da banda que, com seu pop rock cômico e debochado, animou diversas pessoas, e ao menos, colocou sorrisos em vários rostos.

Mas calma aí que ainda não acabou! A viagem no tempo continua na segunda parte do texto. Confira aqui

Ouça também nossa playlist no Spotify, e embarque com tudo nessa jornada nostálgica para se divertir e cantar junto!

Por Gabriel Bastos
gabriel.bastos@usp.br

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