Essa é uma matéria especial que o Blog da Jota preparou para tomar conta deste evento que mobilizou o centro da cidade que nunca para em 24 h de cultura!
Já era madrugada do domingo e eu ainda não tinha definido meu roteiro. Fiquei dividida entre os palcos oficiais da minha cobertura e os grandes shows. Meu plano era partir pra aventura por volta das 11h da manhã e aí zanzar à procura do que interessasse – não foi bem o que aconteceu.
Esse foi o horário que acordei, ansiosa, e olhei a programação no aplicativo do celular mais uma vez. A concentração de eventos legais entre 15h e 16h me fez largar de pensar demais e começar a me trocar. Saí de casa por volta de meio-dia em direção ao Praça das Artes, onde eu esperava comer algo pra começar o dia e conhecer a Sala de Imprensa. Chegando lá, contratempo, a Sala já estava vazia e sem alimentação. Fiquei, então, numa das cadeiras em frente ao palco do vão da Praça, onde se apresentava a TF Style Cia de Dança, com espetáculo “Tempo”. Quinze artistas executavam uma apresentação contemporânea entre os altos e baixos musicais, revezando-se no palco. Assisti até o fim, fiz algumas anotações e pensei para onde iria depois.
Saindo do Paço das Artes, almocei num restaurantezinho bem em frente, a fim de ter energia pro resto do dia. Logo depois, livre na Av. São João, resolvi dar uma volta. O movimento era bem intenso e vendedores de artesanato percorriam os dois lados da rua, emoldurando a passagem de quem curtia o evento. Passou por mim um grupo itinerante de pessoas dançando ao som de forró ao vivo. Eu, que a essa altura já havia decidido que meu próximo destino seria a apresentação do grupo de rap Racionais MC’s, voltava pela rua em direção ao metrô São Bento quando me chamou atenção o antigo prédio dos Correios. Entrei e conheci brevemente a exposição que estava aberta ao público – algo sobre submarino.
Desci na Estação da Luz – não sabia muito bem em que direção ficava o palco Júlio Prestes, onde aconteceram os principais shows do evento, mas não tive muita dificuldade em chegar lá devido ao grande número de pessoas que mais tarde curtiram o show na plateia. O segurança na entrada da área de imprensa recusava efusivamente os pedidos de acesso dos fãs que ocupavam o espaço e queriam assistir ao show coladinhos ao ídolo de qualquer jeito. O palco estava cheio e incluía crianças curtindo o som, e todos vestiam laranja, branco e preto – assim como a plateia.
Racionais MC’s voltou à Virada após o episódio de pancadaria no qual acabou seu último show no mesmo evento, em 2007. Mano Brown disse à plateia, neste domingo, que “não pode faltar ninguém na volta, hein!” e também “todo mundo fala da polícia mas vi vários malandro ramelando ontem no centro”, referindo-se aos assaltos e violência ocorridos no evento no sábado. Todos curtiam muito o show, tanto a imprensa – que cantava e gesticulava animada – quanto a plateia, que se estendia aos muros e até aos telhados da região, e que vibrou quando Mano Brown mais uma vez pronunciou-se e disse que “o rap precisa de gente de caráter, não de malandrão”. A oportunidade de assistir ao grupo na relativa tranquilidade da imprensa e de ouvir clássicas do rap como ‘Nego Drama’ ao vivo foi uma experiência incrível.
Como eu ainda estava a fim de conferir o show do Jorge Aragão, que aconteceria na Praça da República dentro de alguns minutos, deixei o palco Júlio Prestes – até porque não queria sair ao fim da cantoria pra evitar entrar em possíveis tumultos – em direção à outra parte do centro. Na saída, um espectador que passava pediu minha credencial, já que eu estava supostamente indo embora, o que desencadeou em mim uma breve reflexão sobre as responsabilidades de quem cobre e de quem organiza um evento de tamanho porte.
Chegando na República logo vi que se antes na multidão o predomínio era de jovens, agora era da meia-idade que o entusiasmo emanava e que cantavam canção atrás de canção, sambando como podiam no meio da multidão. Curti o fim do show e esperei pacientemente pelo próximo até que alguém responsável pela organização avisou, simpaticamente, que uma troca seria feita: Fundo de Quintal, programado como última atração do palco, tocaria no horário de Jorge Aragão e este viria fechar o evento – as reações do público foram as mais diversas, mas eles continuaram ali. Diante da novidade, refleti sobre o que faria então. Estava cansada mas só tinha coberto um evento designado a mim – a dança – então peguei novamente o metrô e segui para a Sé na intenção de assistir ao último Stand Up do evento.
Cheguei em cima da hora e, ao tentar acessar a área da imprensa, fui impedida porque, de acordo com o que me disse a organização do local, a área já estava lotada e não havia mais como colocar pessoas. O Stand Up contava com Rafael Cortez, Danilo Gentili e Oscar Filho entre os comediantes e a plateia ocupava todos os lugares possíveis – não me apeteceu entrar lá no meio para cobrir o evento. Assim, decidi dar fim ao meu dia e voltar para casa.
A estrutura da Virada Cultural pareceu-me boa. Gastei cerca de 30 reais, para comer e ir de um lugar a outro, menos do que provavelmente pagaria em um ingresso para um evento cultural. O policiamento era massivo, 3400 policiais militares para 4 milhões de pessoas – o que não, necessariamente, tenha feito que eu percorresse alguns caminhos sem medo – e o acesso aos locais, fácil. O metrô funcionou 24h e o movimento era grande para um domingo. Vários pontos de alimentação e banheiros químicos estavam espalhados pelos pontos de espetáculo. Infelizmente, segundo a polícia, houveram 10 arrastões, 28 prisões e 2 mortes.
Voltei para casa feliz pela minha primeira e nova aventura como credenciada. Evidentemente, o processo contou com alguns equívocos, que, por outro lado, contribuíram para que eu adquirisse conhecimento e experiência. Valeu a pena.
por Marcela Romão
marcelacromao@gmail.com
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