Rafael Ciscati
Uma pequena cidade encravada no meio-oeste americano. Uma única escola, e um punhado de adolescentes. A diretora Nannet Burstein pode até não parecer muito inovadora em termos de matéria-prima, mas seu American Teen mostra que velhos temas, quando nas mão certas, rendem muito pano pra manga.
O documentário de Burstein, vencedor do prêmio de melhor direção no Sundance 2008, acompanha, por 10 meses, o último ano de colégio de cinco jovens moradores da cidade de Warsaw, a capital mundial dos produtos ortopédicos.
Amizades que se desfazem, namoros que não dão certo, colegas brincalhões, festas e algum chororô. Está tudo lá. Inclusive nossos personagens-clichê favoritos: Hannah é a rebelde deslocada; Megan faz as vezes de garota rica e popular; Jake é o geek tímido à procura de uma namorada;Colin é o atleta que sonha com uma bolsa de estudos; e Mitch é o garanhão. Mas a taxonomia colegial de Nannet está, digamos, acima da média.
Sua câmera procura ultrapassar a superficialidade do estereótipo para mostrar pessoas que, apesar das muitas diferenças, têm sonhos e problemas parecidos. Pressionados pelos pais, acuados diante de um momento de transição, eles vêem a faculdade como um lugar onde, para além do binômio sexo e curtição, todos, em posse de seus 18 ou 19 anos, poderão redefinir sua imagem social e serão definitivamente aceitos. E o alcance dessa câmera assusta.
Momentos muito pessoais são mostrados com aparente naturalidade: o espectador acompanha cenas cheias de humor ou drama, e tudo parece se encaixar perfeitamente, como se a vida tivesse sido roteirizada ao gosta da cineasta. A intimidade chega a um ponto tal que você passa a duvidar que aquele é um documentário, e não um filme com personagens bem construídas. O ensaio de namoro entre Hannah e Mitch apenas reforça essa impressão- e a trama agradece.
Divertido, leve, bem feito. American Teen pode não te botar pra pensar por horas. Mas você não vai esquecer dele tão cedo.