Bruno Molinero
Não torça o nariz para o cinema romeno, ele definitivamente não é sinônimo de produção repleta de vácuos com um quê de caótico. Prova disso é o primeiro longa de Horatiu Malaele, “Casamento Silencioso”. Embora o filme se sustente na desgastada fórmula cinematográfica romena (pessoas comuns, em situações incomuns, na época do comunismo), ele surpreende. “Casamento Silencioso” é metafórico, linear, sem pontas soltas, bonito de se ver – ao contrário do conterrâneo “4 meses, 3 semanas, 2 dias” que tem a mesma temática, mas é escuro, tenso, incômodo.
O filme tem partida com um grupo que busca filmar uma história sobrenatural, e, para isso, vai a um vilarejo cinzento da Romênia, no fim da era comunista. Mas ele só inicia, de fato, com uma regressão a 1953 e com um dos orgasmos mais escandalosos do cinema. A volta ao passado tem por objetivo contar a história deste mesmo vilarejo. Só que desta vez mais bonito, colorido, arejado, no início do socialismo e a partir de dois apaixonados: Mara e Iancu.
A morte de uma jovem pelo exército soviético marca a trama. O que antes era leve, com cores claras, vivacidade alegre e até inocente, passa a ter tons escuros, semblantes pesados e uma atmosfera tensa frente à ostensiva comunista (até chegar ao cinza chumbo e morto do começo). É nesse contexto que Mara e Iancu decidem se casar. E é aqui, também, que reside a maior metáfora do longa: no dia do casamento, a URSS está em luto pela morte de Stálin, proibindo-se qualquer tipo de festividade. Para não perder toda a comida preparada, eles decidem fazer a festa de casamento de madrugada e em absoluto silêncio. Contudo, após horas de felicidade presa na garganta, todos resolvem comemorar como manda o gabarito, com música alta, dança e muito barulho. É então que o exército soviético promove uma violenta repressão.
“Casamento Silencioso” mostra a visão de um menino – o único homem restante, após a repressão da festa – sobre os fatos. Daí que se explicam os homens voadores, as cenas que aceleram à la “Três Patetas” e outras nuanças do universo infantil. O filme provavelmente não agradará aos mais calejados, nem aos mais politizados ou aos mais críticos, pois mostra uma Romênia sensível, longe de ser um soco no estômago. Mas é uma Romênia que prende à tela e, sobretudo, com uma cara diferente da do Drácula e da de “4 meses, 3 semanas, 2 dias”.