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‘O Fim da Eternidade’: uma viagem no tempo e na evolução humana

O livro é um clássico da ficção científica e traz questões éticas, sociais e sobre o destino da espécie humana.

A ideia de que existe uma instituição superior à sociedade comum, capacitada com tecnologias de viagem no tempo e responsável pela gestão no fluxo temporal e pela trajetória da humanidade na Terra não é uma novidade da série Loki (2021), disponível na plataforma Disney+, nem da série The Umbrella Academy, disponível na Netflix. Chamado de Eternidade, esse já é o cenário da obra O fim da Eternidade, do grande escritor Isaac Asimov, que foi publicada em 1995 e, em 2019, contou com a segunda edição brasileira pela Editora Aleph. 

O livro é um clássico da ficção científica e um dos mais importantes romances com temática de viagem no tempo. Mas, para além dos esperados paradoxos temporais e pseudoexplicações que desafiam a física, as 256 páginas da obra trazem questões éticas, sociais e que abordam a evolução humana.

Essa não é uma das narrativas que ousam descrever o futuro do planeta para, daqui uns anos, verificarmos a precisão das previsões do autor. Afinal, a natureza das sociedades futuras é apresentada com poucos detalhes ao leitor. 

Além disso, esse plano de gestão temporal que é a Eternidade só é criado no século 27 e este já está muito distante dos personagens. Tudo anterior a  esse século é visto como “história primitiva” e não pode ser alterado, assim como os “séculos ocultos”, além do século 70 mil, aos quais não se tem acesso. 

Andrew Harlan, personagem principal, é um Eterno: um dos homens que são tirados de suas vidas particulares de seus tempos para servir à Eternidade. Harlan cumpre sua função com notória excelência até a chegada de Noÿs, uma “tempista” (uma não eterna), que aparece sem explicações e desloca o rumo sua vida e de toda a humanidade. 

Dentro da rígida dinâmica que conduz a trajetória da humanidade, os Computadores são os membros superiores da Eternidade que determinam as Mudanças Mínimas Necessárias (MMN) e as direcionam a Técnicos, como Harlan. É como ir aos anos 3000 e matar alguém para evitar uma pandemia. Mas quem decide o que é bom para a humanidade? É justo alterar a realidade com vidas em jogo? E se uma dessas vidas for a de Noÿs? O que um Eterno apaixonado, como Harlan, é capaz de fazer?

O fim da eternidade também levanta discussões sobre a evolução da espécie humana, em duas perspectivas que se distanciam do ponto de vista científico – embora essa divergência não seja explícita na narrativa – e aqui seguem spoilers

Lembra dos séculos ocultos? Uma das hipóteses dos personagens para a limitação dos Eternos de visitar esses tempos é de que o impedimento é proposital, de autoria de “super-homens” – humanos superiores que evoluíram durante os séculos. Embora o conceito de evolução fundamentado pelo biólogo Charles Darwin não se mostre fielmente aplicado – pela narrativa supor graus de hierarquia entre espécies na linha evolutiva –, 70 milhões de anos parece tempo suficiente para a evolução rolar solta. Afinal, fora da ficção, o mais antigo ancestral da ordem dos primatas surgiu há cerca de 65 milhões de anos na América do Norte, no período conhecido como Cretáceo. 

Mas, com uma equipe decidida a mudar todo e qualquer cenário que possa gerar dificuldades aos Homo sapiens sapiens, a espécie pode evoluir? Harlaw dá as mãos a Darwin e diz que não. Sem as pressões evolutivas do meio, não há seleção das espécies. Porém, essa perspectiva confunde-se com uma ideia estilo coaching de que, sem desafios, o homem não pode aprender com os próprios erros e se tornar melhor – mas a gente sabe que, na vida real, a evolução depende muito mais do que obstáculos e boa vontade. 

Esse é um argumento usado no mundo de Asimov para pôr fim à Eternidade; sustentado ainda pela afirmação de que, sem os “fiscais do tempo”, a humanidade não se extinguiria e conquistaria outras galáxias. E isso sim é sucesso evolutivo: manutenção da espécie e domínio do habitat.

A trama está longe de dar nós em nossa cabeça como na série Dark (2017), produzida pela Netflix, principalmente pela existência de poucos personagens, com os quais obtemos pouca identificação. Também não há nada de romantismo nem heroísmo que se espera de quem tem a humanidade nas mãos. 

Mas a obra surpreende pelas reviravoltas e pela aceleração que ganha na medida em que se encaminha para o Fim. Até hoje, a obra de Asimov é base para o que a ficção científica atual nos propõe a pensar sobre o mundo. Quem gosta da fixação que o homem tem com a viagem no tempo desde que inventou o relógio e as implicações disso, não perderá tempo em ler O fim da eternidade.

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