Tulio Bucchioni
“Tentamos mostrar o homem por trás da imagem e fomos bem-sucedidos em fazer um filme sobre o ser humano em Che” declara Laura Bickford, produra do filme “Che”, que encerrou a 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na última quinta-feira, dia 31.
Se apresentaram ainda para uma platéia lotada de jornalistas os atores Benício Del Toro, que vive Ernesto “Che” Guevara no longa (papel que lhe rendeu o prêmio de melhor ator no Festival de Cannes de 2008), o brasileiro Rodrigo Santoro, que interpreta o irmão de Fidel Castro, Raúl Castro, e Diego Halari, representante da Sun Distributions, empresa responsável pela distribuição do filme no Brasil.
“Che” conta com atores de toda a América Latina e até ganhar seu formato de hoje 4 anos se passaram. Para a realização do filme, o diretor, o americano Steve Soderbergh, junto com a produtora Laura e Del Toro, viajou para a França, Argentina e Cuba, aonde foram feitos estudos detalhados sobre a vida de Che. “ Fizemos um estudo em muitas partes do mundo com pessoas que conheceram Che; esse estudo influenciou muito no filme e foi um investimento de 6, 7 anos” aponta Del Toro.
O filme foi filmado no México, em Porto Rico, nos Estados Unidos, na Bolívia e na Espanha. De acordo com Laura, trata-se de um filme espanhól que não obteve patrocínio algum dos EUA. A equipe não pôde filmar em Cuba devido ao embargo norte-americano à ilha. A produtora afirmou também que a escalação de atores foi espontânea: “atores que já conhecíamos vieram nos procurar e ao longo do processo encontramos também muitos novos atores latino-americanos maravilhosos”. Santoro entrou na equipe da primeira maneira.
O ator contou que “Che” foi um dos primeiros projetos que conheceu no exterior e logo após ter lido o roteiro se encontrou com a produtora e ficou estimulado e apaixonado pelo projeto. “ No ano passado fiquei sabendo que o projeto tinha saído, foi então que entrei em contato com a Laura novamente, passei a estudar espanhól e finalmente consegui uma entrevista com o Steve, após ter perdido a primeira entrevista de escalação de atores por motivos profissionais” conta o brasileiro. A entrada de Santoro no filme não foi tão rápida. “ Sonhei em fazer parte da equipe por 5 anos, estava disposto a fazer qualquer coisa para participar do projeto”. Foi Laura quem ajudou o ator a entrar no filme. Já havia um ator escalado para interpretar Raúl Castro, mas após tanta insistência, a produtora e Soderbergh ficaram tocados com a vontade e disposição de Santoro. “ Eu até brinquei com eles: o maior país da América Latina é o Brasil, como vocês ainda não escalaram um brasileiro no elenco?” diverte-se o ator.
E deu certo. Seu personagem, que teria apenas uma fala, terminou com várias. O processo de composição do personagem foi longo, Santoro teve 1 mês e meio de aulas de espanhól todos os dias com um professor cubano e só depois desse período viajou para Cuba. “ Realizei um sonho, fui para tentar entender a cultura, o povo, tentar entender o que é ser um cubano. Fui para passar 10, 15 dias e acabei ficando 1 mês e meio. Andei por toda a ilha e procurei manter uma pureza no olhar. Tive muito suporte das pessoas. Foi uma experiência de vida muito forte”.
Del Toro, um dos idealizadores do projeto e também produtor executivo, afirmou se impressionar com a combinação de intelectual e “homem de ação” que percebe em Che. “ Quase tudo me desafiava no personagem; Che é um produto da história da América Latina” declara o ator. Quando questionado sobre seu primeiro contato com Guevara, Del Toro declarou ter ouvido seu nome um pouco tarde. “ Nasci em Porto Rico, onde se estuda muito pouco a revolução cubana ou Che; a primeira vez que ouvi seu nome foi através de uma canção dos Rolling Stones. Os jovens não usam a camiseta de Che. Depois li uma carta de Che para sua família e a carta me comoveu muito, Che era um ótimo escritor.”
Fazendo uma possível relação entre a América Latina dos anos 60 e a atual, Laura afirmou acreditar que o sofrimento, a injustiça e a fome ainda estão presentes. “ Os valores de Che são universais e o filme tenta levantá-los; a questão é como implementá-los de uma forma diferenciada. O objetivo do filme é levantá-los novamente” diz a produtora. Sobre as filmagens na Bolívia, Laura afirmou que a experiência de filmagem foi tocante e comovente e apesar dos períodos díficeis enfrentados, em virtude do conflito entre governo e oposição no país, a interação da população com a equipe foi excelente. Discorrendo sobre o filme, a produtora conclui: “ o filme serve como uma inspiração metafórica, poética, espero que o Che não tenha morrido em vão”. “Che” chega ao circuito comercial no primeiro semestre de 2009.