Por Matheus Ribeiro (matheus2004sa@usp.br)
Noah Lyles, 27 anos, é uma das maiores personalidades do atletismo mundial. Nascido na Flórida, o norte americano encara o desafio das pistas de corrida desde o início de sua adolescência, aos 12, mas foi a partir de 2019 que sua carreira ganhou holofotes maiores, ao garantir duas medalhas douradas no mundial, em Doha.
Noah também é famoso por falar abertamente sobre questões de sua saúde mental, algo que o afetou em etapas em sua carreira [Reprodução/Facebook: Noah Lyles]
Desde então, o atleta apresentou um desempenho de destaque em outras competições, seja em outros campeonatos mundiais — nos quais foi campeão em diversas categorias —, ou até mesmo na última edição dos Jogos Olímpicos, realizados em Tóquio.
Lyles tem como suas principais categorias os 100 e 200 metros rasos, além do revezamento em corridas 4×100 metros. O velocista também é um assumido fã de Usain Bolt, maior nome da história da modalidade, e diz sempre buscar bater o recorde do ídolo nas duas primeiras provas (9s58 e 19s19, respectivamente).
Veloz e provocador
Apesar das conquistas, boa parte da evidência recente que foi dada ao atleta pelo público não veio de seu desempenho nas pistas, mas sim por uma fala que impactou até comunidades de outros esportes.
Em uma entrevista coletiva após ter disputado e vencido as provas de 100 e 200 metros do Mundial de 2023, em Budapeste, o velocista deu uma declaração que fomentou um debate entre os jogadores e torcedores de basquete, um dos principais esportes de seu país natal.
“Tenho que ver as finais da NBA e vê-los se chamando de ‘Campeões do Mundo’. Campeões mundiais do quê? Dos Estados Unidos? Não me leve a mal, eu amo os EUA, às vezes, mas não somos o mundo. Aqui (no Mundial de Atletismo) sim somos o mundo. Aqui todos os países estão representados, lutando para ganhar. Na NBA não existem bandeiras. Devemos fazer mais. Devemos representar o mundo.”
Noah Lyles
https://www.facebook.com/watch/?v=799368379055591
A fala de Lyles fez com que amantes de esportes ao redor do globo questionassem o costume estadunidense de times se autodeclararem campeões mundiais ao vencer uma liga doméstica, algo visível em competições como a NFL, de futebol americano.
A provocação logo recebeu respostas, incluindo algumas vindas de estrelas da NBA, como Draymond Green, do Golden State Warriors, que afirmou que o velocista “tentou ser inteligente e deu errado”; Kevin Durant, do Phoenix Suns, que disse para “alguém ajudar esse cara”; e Tyler Herro, do Miami Heat, que tentou justificar o costume dizendo que “a NBA é a melhor liga do mundo, por isso os campeões são campeões mundiais”.
Também há o boato entre os entusiastas de basquete de que a formação do estrelato time da seleção de basquete dos Estados Unidos, o segundo Dream team, teve como uma de suas motivações a alfinetada do corredor.
A declaração de Lyles foi enfatizada após os EUA serem eliminados inesperadamente do Mundial de basquete, disputado também em 2023 [Reprodução/X: @usabasketball]
Desempenho em Paris 2024
Além de sua habilidade no meio do atletismo, esse contexto gerou grandes expectativas para o que o velocista entregaria dentro das pistas da capital francesa.
A segunda participação olímpica do americano foi inaugurada com a prova de 100 metros rasos, na qual Lyles se consagrou o campeão, ao ultrapassar a linha de chegada após 9s754 do início, superando o segundo colocado, o jamaicano Kishane Thompson, em apenas 5 milésimos (9s759).
A definição da corrida levou o Stade de France ao delírio, tanto por conta de seus apoiadores, quanto aqueles que torciam contra ele, sobretudo pela polêmica. Uma das cenas mais marcantes dessa Olimpíada foi a saída de Joel Embiid — jogador da NBA e do Dream Team — do estádio onde a prova correu, ao perceber que Noah se consagrou vencedor.
Além disso, na disputa dos 200 metros rasos, prova na qual era favorito, o velocista espantou o público ao terminar a corrida com um mal-estar, tendo que ser retirado do local em uma cadeira de rodas. Pouco depois foi constatado que o estadunidense disputou a modalidade infectado com a Covid-19, o que não o impediu de conquistar a medalha de bronze na prova. Após o diagnóstico, Noah abandonou a competição, mas já fez o suficiente para se tornar uma das principais histórias de Paris 2024.
Além das duas medalhas desta edição, Noah conquistou o bronze em sua primeira Olimpíada, em Tóquio, nos 200 metros rasos [Reprodução/Facebook: Noah Lyles]
Imagem da capa: [Reprodução/Facebook: Noah Lyles]