Por Fernanda Franco (fernanda.francoxavier@usp.br) e Thaís Santana (thais2003sc@usp.br)
A Bienal do Livro de 2024 chega ao seu segundo dia com um volume intenso de visitantes. Os ingressos para a programação do primeiro sábado (7) estavam esgotados desde o dia 3, inclusive as senhas das sessões de autógrafos. A presença de escritores populares em pleno feriado da independência justificam o público numeroso do evento. Conceição Evaristo e Pedro Bandeira foram os convidados de destaque. Outros nomes conhecidos, como Felipe Neto e Elayne Baeta, também marcaram presença.
Juventude que acolhe e consagra Conceição Evaristo
A escritora mineira Conceição Evaristo subiu ao palco ao lado de Maria Ferreira, Dayhara Martins e Patrick Torres, influenciadores de conteúdo literário, e foi recebida por uma plateia lotada — majoritariamente jovem — com salvas de palmas.
Autora de clássicos como Ponciá Vicêncio (Pallas, 2003) e Olhos d’água (Pallas, 2014), Conceição mostrou sua habilidade de conversar com diferentes gerações sobre a profissão e o mercado editorial. “Os jovens potencializam os mais velhos. O que me potencializa para a vida e a trabalhar até hoje é o contato que tenho com os mais jovens”, afirmou ela, agradecendo aos louvores recebidos pelo público.
Em um bate-papo dinâmico, a autora falou sobre a temática negra estereotipada na literatura, educação e até da percepção sobre a própria carreira com o sucesso conquistado. “Não tinha certeza que a vida me permitiria esses caminhos, sempre sonhei em ser professora. Quem dá o status de escritor é o público e eu não sabia que meu texto tinha toda essa potência”, revela ela.
Questionada sobre um conselho a jovens escritores, Conceição refletiu sobre a própria experiência e respondeu: paciência — mesmo reconhecendo a dificuldade dessa virtude nos tempos atuais. Para ela, o texto literário se filia a uma certa tradição e ressalta a importância de ler o que já foi produzido, indicando autoras como Toni Morrison e Carolina de Jesus. “O que nos fortalece é ler muito. A leitura nos convoca à escrita.”
Pedro Bandeira, um escritor eternamente jovem
Em seguida, Pedro Bandeira e Thalita Rebouças também lotaram o espaço da Arena Cultural e o entorno, com filas que começaram horas antes. O encontro foi mediado pela escritora Babi Dewet.
Com uma relação semelhante a pai e filha, Pedro Bandeira, ícone da literatura infantil, e Thalita Rebouças, referência na literatura infanto-juvenil, esbanjaram simpatia e carinho um pelo outro e pelos livros. Em uma conversa cativante, eles compartilharam experiências pessoais e ressaltaram a importância desse nicho editorial na literatura, especialmente para a autoestima dos jovens ao falar sobre situações da realidade deles. “A gente forma leitores a partir da identificação”, disse Thalita.
Eles pontuaram também que nesse universo da escrita não faz sentido ter competitividade e nem seguir sozinho. “O sucesso do outro abre caminho para a gente. Até porque o leitor não vai — e nem pode — ler apenas um autor e um livro na vida”, declara Bandeira. Para ele, “leitura é a prática da liberdade” e por isso considera que nenhum livro é bom ou ruim, pois depende da vontade de cada leitor continuar uma leitura ou não.
Quando questionado sobre o sucesso do seu trabalho até os dias de hoje, tanto entre crianças quanto entre adultos, Bandeira afirma que a resposta do público ao longo dos anos o profissionalizou: “Leitores formam escritores”. E aconselha que escrever é reescrever. “O seu maior crítico é você mesmo”, pontua.
Estandes e editoras que valem a pena conferir
No Espaço Infâncias, a Jornalismo Júnior acompanhou o escritor e ilustrador Guilherme Karsten em uma atividade interativa com crianças, pais e educadores. O autor fez a leitura do seu livro Você é um Monstro? (HarperKids, 2022) e, logo depois, ilustrou uma criatura com características sugeridas pelos participantes.
A Jornalismo Júnior cobriu os principais estandes do dia, cada um com sua decoração temática e coleções literárias imperdíveis. O Grupo Editorial Pensamento preparou um estande com uma lousa interativa, na qual os visitantes podem escrever coisas que lhes trazem felicidade. A atividade é uma referência ao lançamento ..Enquanto a Felicidade Não Vem…, do youtuber André Mantovanni.
O estande da Panini trouxe uma das maiores estruturas do evento, com uma sessão separada somente para os gibis da Turma da Mônica. Prateleiras amarelas com decorações coloridas tornaram o espaço bem chamativo, enquanto o catálogo inclui exemplares da Marvel, Disney, DC e PlanetManga.
Um estande que vale a visita é o da Editora Planeta, dada sua estrutura criativa e comprida, com paredes pintadas pelas capas dos principais livros. A diversidade de gêneros nos títulos é um diferencial dessa passagem e a coleção Mulheres extraordinárias é digna de nota.
O Itaú Cultural preparou a ocupação Machado de Assis para os amantes da literatura brasileira. O espaço traz um visual antigo e expõe fotos e manuscritos do autor, inclusive um exemplar com as reportagens já feitas por ele. Também conta com uma experiência sonora ao apresentar trechos de suas obras lidos por meio de uma transmissão em televisão.
O último, mas não menos importante, estande visitado pelo Sala33 foi o da Editora HarperCollins. Também uma das maiores exposições do dia, dividida pela seção de fantasia, suspense, romance e literatura infantil, todas com uma decoração temática.
Música ao vivo e cordel cantado
Nem só de livros e palestras vive a Bienal. Em alguns estandes, há uma programação diferenciada que promove ainda mais a interação do público. É o caso da Editora IMEPH no Espaço Cordel e Repente, que no período da noite contou com a ilustre presença do musicista, cantor e ator Chambinho Do Acordeon para embalar o segundo dia em um ambiente repleto de música, forró e muita alegria.
Não muito longe, no estande da Secretaria Municipal de Cultura, cordelistas encantam o público que passa pelo local ao montar rimas baseadas nas características e nomes dos que paravam para ouvir. Não muito longe, no estande da Secretaria Municipal de Cultura, cordelistas encantam o público que passa pelo local ao montar rimas baseadas nas características e nomes dos que paravam para ouvir.
*Imagem de capa: Fernanda Franco/Acervo Pessoal