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Os resquícios da memória negra na região central de São Paulo

Fotorreportagem de Aísha Moraes apresenta elementos que rememoram a luta da população negra de São Paulo, forçada, durante a Colônia e o Império, a construir o que é a metrópole hoje

Por Aísha Moraes (aishamoraes@usp.br

A cidade de São Paulo é amplamente conhecida por sua multiplicidade histórica e cultural. Fundada em 1554, a Terra da Garoa foi palco de diversos acontecimentos ao longo do tempo, como o início — e o fim — do uso da mão de obra escravizada. Hoje, os resquícios da presença negra ainda podem ser vistos em meio à metrópole. Nesta fotorreportagem, exploramos a região central da capital paulista em busca das marcas deixadas por mais de três séculos de escravidão. Locais como o Largo da Forca, o Cemitério dos Aflitos e a Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos revelam como a memória negra resiste no concreto da cidade, desafiando o apagamento histórico e reafirmando a importância de reconhecer os espaços de luta e resistência negra em São Paulo.

Depois de muitas mobilizações dos povos escravizados, a Lei Áurea, que aboliu a  escravidão em território brasileiro, foi assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. Além das pressões sociais, o Império Britânico também exigia a adoção de um novo modelo econômico, o que fez com que o Estado brasileiro partisse em busca de opções para a substituição da mão de obra escrava. 

O final do século 19 foi marcado pelo início de um intenso fluxo migratório no Brasil. Nesse período, houve uma grande quantidade de japoneses se dirigindo ao território paulistano, devido à grave crise econômica enfrentada pelo país. A Restauração Meiji, um processo político-militar que marcou a volta do Imperador Meiji ao poder, gerou um processo acelerado de modernização, transformando o setor econômico e ocasionando o aumento do desemprego no campo. Além da população nipônica, os italianos também receberam incentivos governamentais para se dirigirem até a região e atuarem como lavradores nas lavouras de café. 

A cultura paulistana se enriqueceu com a chegada de novos povos, porém também passou por um processo de apagamento do seu passado escravocrata.

Placa instalada pelo Inventário Memória Paulistana a fim de identificar o simbolismo do bairro da Liberdade para a população negra e indígena

O bairro da Liberdade, anteriormente conhecido como Largo da Forca, foi um local de execução de pessoas escravizadas durante o Brasil Império. A Prefeitura de São Paulo passou a sinalizar esses espaços após a pressão do movimento negro paulistano, que pontuou o apagamento da história anterior à imigração oriental. 

A Rua dos Aflitos é conhecida por ter abrigado o primeiro cemitério público de São Paulo: o Cemitério dos Aflitos, que funcionou entre 1775 e 1858. Ele foi desenvolvido como parte do sistema punitivista daquele período e foi destinado aos escravizados condenados à forca.

Esquina entre as ruas dos Aflitos e dos Estudantes
Capela dos Aflitos cercada pela Feira de Cultura Coreana

A Capela Nossa Senhora dos Aflitos  é um espaço de devoção a Francisco José das Chagas, popularmente conhecido como Chaguinhas. Ele liderou um movimento que buscou melhores salários para os militares negros e foi condenado a forca junto com José Joaquim Cotindiba.

Tapumes cobrem parte da capela e revelam a realização de obras para restauração

A União dos Amigos Capela dos Aflitos (UNAMCA) articulou a restauração desse ponto histórico e, após 6 anos, a Prefeitura de São Paulo iniciou as obras, que devem ser finalizadas em 2026. A construção do Memorial dos Aflitos também está prevista no projeto.

A Rua da Glória era um dos acessos ao Cemitério dos Aflitos
Sede do 1° DP da Liberdade, localizado na Rua da Glória

O 1° Distrito Policial da Liberdade também foi um elemento crucial para o período, como um espaço de encarceramento para a população escravizada. Seus aspectos arquitetônicos refletem características da época e, por esse motivo, o edifício foi tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo (CONPRESP).

Entrada da estação “Japão – Liberdade”, no desenrolar da feira semanal do bairro. Em meio a diversos elementos da cultura asiática, o nome do local é a único que rememora a busca pela libertação de negros e indígenas nos séculos 18 e 19
Estátua que homenageia Antônio Carlos de Abreu Sodré (1898-1946) com a frase: “Sobre nós, a liberdade. À sua sombra, destruiremos os privilégios”
Poster com a frase “o jazz está morto”, na Avenida da Liberdade

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