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‘Para Sir, com amor’: um prato cheio para os jovens românticos incuráveis

A obra de Lauren Layne é perfeita para ler em um dia ensolarado no parque, enquanto sonha com os contos de fadas

Uma releitura ainda mais moderna do filme Mensagem para você (You’ve Got Mail, 1998), Para Sir, com amor (Paralela, 2022) de Lauren Layne é um romance doce e esperançoso. Gracie Cooper é uma mulher de 33 anos apaixonada por contos de fadas, que canta para pombos e sonha com uma vida digna de livros desde de sua infância. No aplicativo de relacionamentos MysteryMate, que possibilita anonimato aos usuários, ela conhece o homem de codinome Sir, por quem se apaixona. O único problema é: Sir é comprometido e está no aplicativo por engano, ainda que siga conversando com ela. 

Apesar de sonhar com esse amor, há outras coisas que a preocupam na vida real. A loja de bebidas que seu pai deixou como herança, a Bubbles and More, não está bem financeiramente. Sebastian Andrews, um grande empresário do ramo imobiliário, insiste há meses para que ela deixe o endereço, proposta que ela recusa veementemente. Mas Sebastian não é charmoso só como negociador,  o que confunde a cabeça de Gracie. Ela pode ter se apaixonado por duas figuras inalcançáveis? 

[Imagem: Reprodução/Editora Paralela]

Uma narrativa leve 

O livro é um ótimo passatempo, feito para ler “em uma sentada”, mas, ao pensar melhor sobre o desenvolvimento da história, pode-se dizer que não é tão forte quanto poderia ser. A autora deixa escapar oportunidades e explicações que fazem com que, ao final da narrativa, algumas ações de personagens pareçam questionáveis.

Se houvesse uma classificação indicativa, provavelmente seria enquadrado entre 12 e 14 anos, pois, apesar da personagem ter mais de 30 anos e sua rotina ser pouco relacionável a idade, não há nada de muito complexo ou obsceno no texto, e pode ser divertido acompanhar a rotina de Gracie. A capa brasileira, que é romântica e jovial, com elementos em cores pastéis, traduz muito bem a atmosfera do livro e cumpre bem a função atrativa. 

Cena de “Mensagem para você”, que inspirou Lauren Layne e foi inspirado por “Parfumerie” [Imagem: Divulgação/HBO]

Inspirações e ritmo de leitura

O enredo não é nem de longe inovador, já que é baseado em uma estratégia que já foi explorada em diversas versões – que consiste em retratar um casal que se apaixona por meio de cartas, e-mails e agora, ainda mais moderno, mensagens –, que se origina com a peça húngara Parfumerie, de 1937. Contudo, de forma geral, a temática é bem utilizada e traz saídas maduras para os conflitos que se formam.  As problemáticas não se baseiam simplesmente no uso de falhas simples de comunicação para gerar grandes desentendimentos e a história não é preenchida com brigas banais que seriam resolvidas com facilidade.

Sobre os personagens e as dinâmicas pouco profundas

Os personagens são relativamente bem construídos, sabem expor bem os sentimentos e, claro, não são perfeitos. Gracie tem conflitos internos com sua família e, mesmo em poucas páginas, é possível ver uma evolução dela nesse quesito, assim como a de seus familiares, que se mostram disponíveis e compreensíveis. No âmbito familiar, quem se destaca é a irmã de Gracie, Lily, que tem um conflito durante a história que se desenrola de maneira compreensível e atenciosa, e tem um fechamento coerente — e até mesmo bonito. 

Enquanto conversa com Sir, o pseudônimo de Gracie é Lady [Imagem: Reprodução/Editora Paralela]

O fato de Gracie e Sebastian estarem em classes sociais diferentes não é extensivamente abordado no livro, o que é um ponto positivo, já que não cai no clichê do gênero que tende a inferiorizar uma das partes ou insiste em conflitos que não chegam a lugar algum. 

O começo do livro, que relata Gracie no parque com uma amiga contando que está conversando com Sir, é um pouco confuso e, analisando o conceito total, é um pouco descolado do restante. A personagem citada, a amiga Rachel, não aparece tantas vezes no decorrer do livro, o que faz o leitor mais atento questionar a utilidade dela em cena. Mesmo que esse início tenha certo propósito narrativo, não mudaria tanto a história caso fosse excluído, o que faz com que haja um certo desapego do leitor a ele.

Os diálogos entre Sir e Lady são divertidos, mas raramente são profundos [Imagem: Reprodução/Editora Paralela]

Com o ritmo lento e sem muitos acontecimentos, o final deixa um gosto meio amargo de expectativa não cumprida, que pode estar relacionada ao slow burn, que é uma característica bem marcante desse romance. Parece faltar algo, talvez realizações ou um epílogo melhor construído. No geral, é um bom livro para se passar o tempo, mas não chega nem perto do inesquecível.

*Imagem de capa: Reprodução/Paralela via Amazon

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