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Passos em direção à acessibilidade: O ballet para cegos

O Ballet Clássico foi uma forma de arte inacessível desde seus primórdios. Durante os três séculos posteriores ao seu surgimento como dança da corte, no ano de 1377, era executado apenas por homens. Mesmo quando as mulheres começaram a tomar parte, eram obrigadas a vestir trajes que lhes tolhiam os movimentos, como corpetes rígidos, saias …

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Quadro La Camargo Dancing de Nicolas Lancret, representando as danças da corte. Imagem: Reprodução

O Ballet Clássico foi uma forma de arte inacessível desde seus primórdios. Durante os três séculos posteriores ao seu surgimento como dança da corte, no ano de 1377, era executado apenas por homens. Mesmo quando as mulheres começaram a tomar parte, eram obrigadas a vestir trajes que lhes tolhiam os movimentos, como corpetes rígidos, saias compridas e sapatos com salto. Com o tempo, foram sendo estabelecidos métodos e princípios que permitiram a difusão do ensino da dança e a inserção da mulher em seu cenário. No entanto, sempre foram estimados padrões quase inacessíveis de execução ideal de seus passos.

Com a “ditadura da perfeição”, o ballet sugere tipos físicos mais aptos à dança, sendo, dessa forma, ainda excludente. A dança impõe muitas regras e exige uma rígida técnica para ser executada. Os membros do corpo devem estar posicionados de certa forma e os músculos têm lugares específicos para contraírem de modo a garantir o equilíbrio e permitir que o passo seja feito. Como, então, é possível fazer alguém entender todos esses requisitos sem ao menos vê – los serem executados? Em um primeiro momento há a total descrença na possibilidade de alguém que não enxerga exercer a arte.

A bailarina Fernanda Bianchinni, porém, responde: é possível pelo contato da aluna com a professora no momento em que é mostrado o passo. A fundadora da Cia. Ballet de Cegos desenvonveu uma tese estudando como poderia passar as informações de dinâmicas que são capturadas pela visão. Seu método de ensino se baseia principalmente na percepção do movimento pelo toque. As alunas sentem o que a professora demonstra e tentam repetir com o seu auxílio e correção.

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Aluna percebendo o movimento demonstrado pela professora. Foto: Reprodução

Ora, se no palco não há espelhos, a dança funciona pela percepção do próprio corpo. Não há, portanto, a impossibilidade de o deficiente visual exercer a dança tão bem como qualquer outro bailarino. É isso que mostra a trajetória da associação.

A escola promove desde 1995 a inclusão, proporcionando aulas de Ballet gratuitas para deficientes visuais. Hoje, com um método consolidado, preza pela qualidade da dança e sua companhia é reconhecida mundialmente. Suas bailarinas participaram até da cerimonia de encerramento das paraolimpíadas de 2012 em Londres e estiveram presentes também em festivais de dança como o Festival de Joinville (o maior no país). Foram feitos dois documentários sobre a associação e os seus resultados, Through their eyes e Olhando para as estrelas, que mostram como foi possível criar o projeto e o processo de aprendizado das bailarinas. A escola produz também espetáculos de final de ano. Nesse ano a apresentação acontecerá no dia 12 de dezembro, no teatro Ítalo Brasileiro.

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Bailarinos dançando no Festival de Joinville pela Cia. Ballet de Cegos. Foto: Reprodução

O acesso ao ballet , apesar de caminhar devagar, é cada vez mais possibilitado por suas adaptações. A dança contemporânea, por exemplo, surgiu como um tipo de protesto a essa característica da dança de ser tão “fechada em si mesma”, quebrando com as regras do ballet clássico, eliminando padrões e dando prioridade ao sentimento. O exercício do ballet por pessoas que não enxergam, não obstante, pode ser considerado outro “marco” na história dessa dança que aborda com primazia a estética.

Por Roberta Vassallo
robertavassallob@gmail.com

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