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Sapateado, um ritmo sem fronteiras

Do tamanco de madeira ao sapato de couro: a modalidade conquista cada vez mais amantes ao redor do mundo Por Marina Davis (marinadavis1810@gmail.com) O surgimento do sapateado A hipótese mais aceita sobre o surgimento do sapateado é a de que ele tenha se originado a partir de uma fusão cultural entre Irlanda e África. Os camponeses …

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Do tamanco de madeira ao sapato de couro: a modalidade conquista cada vez mais amantes ao redor do mundo

Por Marina Davis (marinadavis1810@gmail.com)

O surgimento do sapateado

A hipótese mais aceita sobre o surgimento do sapateado é a de que ele tenha se originado a partir de uma fusão cultural entre Irlanda e África. Os camponeses irlandeses, por volta do século V, para se proteger do frio, usavam tamancos de madeira, os chamados clogs. Esses calçados faziam barulho e os camponeses começaram a brincar com os sons, criando o Irish Jig, que exigia movimentos extremamente complexos dos pés.

Séculos depois, no período da Revolução Industrial, acredita-se que a dança tenha se popularizado na Inglaterra. Os operários passaram a utilizar os clogs para proteger seus pés do chão quente das fábricas, brincando com seus sons nos intervalos do trabalho. Mais tarde, o tamanco foi substituído por sapatos de couro com moedas de cobre na sola, formato mais semelhante ao do calçado atual.

Da mescla do Jig com as danças africanas, nasceu o sapateado americano. As brincadeiras de danças rítmicas com batidas de tambor dos negros contribuíram muito para a construção desse gênero de sapateado, principalmente acrescentando os movimentos corporais, visto que a dança irlandesa mantinha o tronco rígido trabalhando apenas com os pés.

O auge do sapateado americano no cinema

É impossível falar dos grandes nomes do sapateado americano sem mencionar o cinema da primeira metade do século XX, principalmente entre as décadas de 30 e 50. O estilo de dança tornou-se popular primeiro nos palcos da Broadway, porém perdeu força na década de 40, quando atingiu seu auge nas telas.

O primeiro filme que trouxe números de sapateado foi The Hollywood Revue of 1929, lançado no ano do seu título, dois anos depois do surgimento do cinema sonoro. Em papel de destaque temos Joan Crawford, que futuramente contracenou com Fred Astaire.

Em 1932, Bill “Bojangles” Robinson, famoso por inovar o sapateado, transformando as batidas com pé inteiro no chão com movimentos na ponta dos pés, estreia nas telas do cinema com o filme Harlem is Heaven. Além de trazer leveza para o sapateado, Bojangles também é conhecido pelas barreiras rompidas em relação ao racismo, tendo sido o primeiro negro a conseguir o papel de protagonista em um musical da Broadway. Robinson também formou o primeiro casal inter-racial do cinema ao lado de Shirley Temple, com quem protagonizou cenas de dança em diversos filmes. As leis da época não permitiam que um negro e um branco dançassem juntos, a menos que se tratasse de uma criança, que era o caso de Temple.

 

Bill “Bojangles” Robinson com Shirley Temple no filme Little Colonel, de 1935, realizando o famoso “Número da Escada”. (Imagem: Divulgação)

 

Apesar do rompimento dessas barreiras, a maior parte de seus papéis eram estereotipados, tratando-se, em seus filmes de maior sucesso, de um mordomo negro de uma garotinha branca. Em 1935, em um filme com Shirley, Bojangles apresentou o “Número da escada”, que acabou se tornando sua marca registrada. Tantas realizações fizeram com que a data do seu aniversário, 25 de maio, fosse decretada pelo congresso americano como o Dia Internacional do Sapateado.

Um outro casal de muita fama no mundo do sapateado foi Fred Astaire e Ginger Rogers. Os dois começaram na Broadway e fizeram muito sucesso separadamente, mas atingiram o ápice de suas carreiras dançando juntos. Entre os anos de 1933 e 1939 o casal fez dez filmes juntos, com destaque para The Gay Divorcee e Swing Time, que ganharam o Oscar por melhor música original.

Swing Time - Rogers and Astaire

E por fim, como não citar Gene Kelly? O astro, que tem 2012 como ano de comemoração do centenário de seu nascimento, protagonizou o famoso filme Cantando na Chuva, em 1952. Na época, o sapateado já perdia seu lugar nos musicais da Broadway para o jazz e para o ballet e Hollywood já não tinha mais a mesma força de antes, graças ao surgimento da televisão como fonte alternativa (e mais barata) de entretenimento. Todos esses fatores não impediram, porém, que Cantando na Chuva fosse um grande sucesso.

Singing In The Rain

O sapateado nunca retornou ao auge atingido na década de 40, mas “Gregory Hines fez ressurgir essa arte que estava um pouco “morta” na década de 80”, afirma Charles Renato, sapateador há 20 anos. Hines e seu irmão tornaram-se uma atração internacional ainda crianças, estreando na Broadway com apenas cinco anos, e seguiram juntos por mais de 20 anos, conhecidos como “Hines Brothers”.

Alguns anos depois da separação, Gregory voltou para Nova York e protagonizou diversos espetáculos, recebendo um Tony Award por sua atuação em Jelly’s Last Jam. Em 2001, interpretou o papel principal no filme que contava a vida de Bill Bojangles Robinson. Tendo presenciado as dificuldades de gerações anteriores durante o período de “dormência” dessa modalidade de dança, Gregory Hines foi o responsável por instituir o Dia Nacional do Sapateado em 1989.

Hoje, os grandes nomes do sapateado são norte-americanos, com destaque para Savion Glover. O sapateador iniciou sua carreira na Broadway aos 10 anos de idade, no espetáculo The tap dance kid. Cinco anos depois, em 1989, Glover estreiou no cinema no filme Tap, contracenando com fenômenos como Gregory Hines e Sammy Davis Jr. Para quem não pertence ao universo da dança é seguro afirmar que seu trabalho mais conhecido é Happy Feet. Savion é o responsável pelo som dos pés do personagem principal do filme, um pinguim deslocado na espécie por não saber cantar, mas um sapateador sensacional e extremamente fofo.

Nunca é tarde para aprender

No Brasil, não é difícil encontrar academias de dança que ofereçam aulas de sapateado, e a idade não é barreira. Bojangles atingiu o ápice de sua carreira aos 50 anos, e dançava com o vigor de um jovem, mostrando que além da diversão, o sapateado faz muito bem para a saúde. “Quando tinha seis anos, quebrei a perna em três lugares e quando tirei o gesso, o médico recomendou, além da fisioterapia, o sapateado para ajudar na recuperação”, conta Júlia de Andrade e Silva, que, por acidente, acabou se tornando uma sapateadora por oito anos.

Jaqueline, que começou a sapatear aos 16 anos, já se apresentou em diversos festivais. (Imagem: Arquivo Pessoal)

Júlia começou a sapatear bem pequena, mas nem sempre é assim. Jaqueline Ferreira começou a dançar com 16 anos, após assistir uma peça de teatro em que uma menina sapateava. “Sempre amei a dança, mas minha mãe nunca me levou em academias por isso acabei começando mais tarde”, conta a publicitária, que já pratica jazz e sapateado há nove anos. “Acho que devemos incentivar as criançar a começar cedo, mas nunca é tarde para aprender. Tenho amigas que começaram a sapatear com 24 anos e hoje não se imaginam sem a dança”.

 

A cidade catarinense recebe todos os anos o maior festival de dança do país. (Foto: Marina Davis)

O sapateado no Brasil e o Festival de Joinville

“Lá fora, o sapateado é muito mais reconhecido e divulgado. Existe uma coisa cultural, de reconhecimento dos ícones e da história, que aqui ainda é muito pouco explorada. Mas estamos no caminho”, conta Maíra Ovalle, professora de sapateado formada em terapia ocupacional.

Maíra começou a sapatear com nove anos e não parou mais. Hoje ela dá aulas, mas diz que se manter por meio da dança, no Brasil, é extremamente difícil. “A maior dificuldade é sobreviver unicamente disso. No meu caso, tenho um segundo emprego, fora do universo da dança, para ajudar a me manter financeiramente. Talvez se fosse uma profissão um pouco mais valorizada e reconhecida, isso não seria necessário”.

Uma prova do crescimento não só do sapateado, como de outras modalidades artísticas, no Brasil, é o Festival de Dança de Joinville, no qual Maíra já competiu por nove vezes. Considerado pelo Guinness Book o maior festival de dança do mundo, o evento acontece todos os anos durante o mês de julho nessa cidade do interior de Santa Catarina e é internacionalmente famoso. Com sua primeira edição em 1983, o Festival só cresceu e, por seu processo seletivo tão rigoroso, dançar no palco do Centreventos Cau Hansen é um privilégio para poucos.

“Para um sapateador, participar do Festival de Joinville é a glória máxima do seu esforço. Dançar lá é a prova de fogo de um bailarino de verdade, de qualidade”, conta Marcelo Orcioli, que competiu na cidade catarinense cinco anos consecutivos por três academias diferentes de São José dos Campos, interior de São Paulo.

Marcelo em um curso de sapateado e em cena. (Imagem: Arquivo Pessoal)

Marcelo, que dedicou dez anos de sua vida ao sapateado, diz que se apresentar para cinco mil pessoas em Joinville é indescritível. “Aquele palco imenso te engole e é o momento de mostrar sua dança, sua alma e todo seu esforço”. Hoje Marcelo está na faculdade e por isso teve que mudar de cidade e abrir mão da dança, mas garante que é temporário. “Não sei quando, nem onde, nem como, mas um dia a arte vai voltar a transbordar pelo meu corpo”.

Charles Renato diz que a nova geração de sapateadores no Brasil é muito inspiradora. “Eles estão vindo com uma vontade de aprendizado que surpreende cada dia mais e nós estamos conseguindo proporcionar oportunidades a esses jovens que no passado nós não tivemos”.

 

Charles Renato e Maíra Ovalle durante apresentação. (Foto: Daniela Alvarenga)

 

Charles diz que sua arte já o levou a lugares inimagináveis. O sapateador conquistou prêmios muito importantes no meio, como Melhor Bailarino no Festival de Dança de Joinville, Bailarino Destaque do Festidança, além de ter ganho por duas vezes o quadro Se vira nos 30 do Domingão do Faustão e ter sido indicado a Melhor Coreógrafo no Festival de Dança de Florianópolis. Porém, para ele, o que mais impressiona é a oportunidade de conhecer outros lugares. “Conheci países que nunca sonhei em chegar. Sem um real no bolso, meus pés já me levaram aos Estados Unidos e Portugal e ainda me levarão a muitos outros lugares”.

1 comentário em “Sapateado, um ritmo sem fronteiras”

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