Por Ana Santos (anacferreira@usp.br)
Com programação até 25 de agosto, o Shopping Vila Olímpia, em São Paulo, recebe a exposição Pegadas do Pequeno Príncipe. O evento celebra os 80 anos do lançamento do livro O Pequeno Príncipe (Le Petit Prince, Éditions Gallimard, 1943) em uma experiência imersiva encantadora.
A história da obra e do autor francês, Antoine de Saint-Exupéry, se entrelaçam entre as diferentes salas exploradas pelos visitantes. As críticas contidas no enredo são destrinchadas, de modo que até quem nunca teve contato com O Pequeno Príncipe consegue se encantar pelos detalhes da obra.
Eterna jornada
Logo na primeira sala da exposição, o visitante se depara com informações a respeito da carreira de Antoine, que foi escritor e também piloto. Com modelos de avião pendurados no teto, cartas espalhadas pela mesa e uma estante cheia de livros, é possível se conectar com a lembrança do francês.
O autor morreu antes mesmo que O Pequeno Príncipe fosse lançado, o que torna ainda mais interessante observar o quanto a ausência física de Antoine é representada pela imagem do personagem. Além disso, o evento aprofunda as mensagens e críticas tratadas na obra ao destacar trechos do livro e falas do escritor – de forma a evidenciar o seu legado contínuo.
Crescimento e suas imperfeições
A exposição conta com salas temáticas referentes a mensagens centrais do Pequeno Príncipe.
A imagem do deserto, que é a principal ambientação no livro, é explicada por meio de momentos da vida de Antoine. Em 1935, o escritor sofreu um acidente aéreo na Líbia, caindo no deserto. O local, então, passou a ser representado em diferentes obras do francês como um espaço de contemplação para o homem.
Nos livros de Antoine, o deserto é um local em que o indivíduo pode refletir livremente sobre a vida e sobre si próprio. Em O Pequeno Príncipe, o piloto encontra o príncipe justamente nesse lugar, se deparando com novas contemplações da vida.
A principal crítica trabalhada no livro é a diferença entre as visões de mundo de crianças e adultos. A exposição mostra esse aspecto por meio de frases e desenhos em diferentes salas, salientando a ideia de um mundo vivido pelas aparências, onde as pessoas abandonam a imaginação à medida que crescem.
A exemplo, há um vídeo que apresenta a cena na qual uma jiboia come um elefante e os adultos enxergam apenas um chapéu devido ao formato externo do animal. A diferença de perspectivas é aprofundada em outra sala, com a cena em que o príncipe pede um desenho de um carneirinho ao piloto e não se contenta com os esboços até receber a figura de uma caixa com o animal dentro. Nesse local, o visitante consegue escutar a voz do garoto fazendo o pedido enquanto acessa imagens de diferentes cenas do livro por meio de olhos nas paredes. Ainda que pequenos, os detalhes das ilustrações surpreendem e instigam o visitante a acessar cada uma.
A diferença entre as percepções de mundo infantil e adulta é ainda exposta por meio das figuras que o principezinho encontra nos planetas em que passa. Cada um possui um personagem central, com responsabilidades e facetas particulares que se evidenciam após a infância. Assim, numa das salas, há maquetes de cada um desses momentos, onde é possível ouvir algumas falas características desses personagens.
Outra crítica feita por Antoine e exposta no evento é o repúdio à guerra. Na história, isso pode ser interpretado por meio da invasão do planeta do principezinho pelas grandes árvores baobás, que destroem o local. Os baobás representam tanto a própria guerra como os regimes autoritários, tendo em vista que o escritor vivenciou a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Na exposição, há uma sala formada por raízes de grande porte, onde se passa um vídeo em que troncos de árvores são cortados e uma bomba explode. O ato demonstra a luta contra o controle das árvores destruidoras, ou seja, do autoritarismo.
Sentimentos e conexões
Embora O Pequeno Príncipe explore diversas reflexões e questionamentos sobre a vida, não é somente com críticas que a história é construída. A obra também trabalha o vínculo entre os indivíduos, sob a ideia de cativar e ser cativado.
Na obra, a rosa exerce um papel importante na vida do príncipe, já que o desejo do personagem de reencontrá-la é maior do que as intrigas que têm um com o outro.
A exposição dedica dois espaços para trabalhar esse relacionamento, trazendo detalhes da vida pessoal de Antoine. No primeiro, as paredes são cobertas por rosas; no outro, se observa uma rosa grande em um canto e fotos de pessoas importantes na vida do autor. Ambos são tão encantadores que o público pode sentir vontade de tocar nos itens expostos.
Além da rosa, outra personagem que se destaca na jornada do príncipe é a raposa. Ela atua como uma figura sábia em sua vida, sendo a responsável por ensinar-lhe o que é cativar. O evento organiza uma área a essa parte da obra, explicando o modo de agir verdadeiro do animal e como ele adentrou na vida do autor.
A última sala da exposição apresenta o encontro do principezinho com a cobra enigmática, a qual aparece logo antes do garoto retornar ao seu planeta. Assim como o enredo do Pequeno Príncipe finaliza com o retorno, o visitante também encerra sua jornada no universo da exposição para voltar para casa.
*Imagem de capa: Ana Santos / Acervo Pessoal