E se a Miranda Priestly (Meryl Streep) de O Diabo Veste Prada (The Devil Wears Prada, 2006) pedisse às suas assistentes cadáveres de inocentes ao invés das demandas absurdas do mundo da moda? Essa é a premissa de Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe (Renfield, 2023), dirigido por Chris McKay, de Guerra do Amanhã (The Tomorrow War, 2021).
O filme traz como personagem principal o servo do Conde Drácula (Nicolas Cage), Robert Montague Renfield (Nicholas Hoult), um rapaz em conflito com as atribuições que recebe ao servir a seu mestre todo-poderoso. Após um embate que deixa Drácula incapacitado e em recuperação, eles se mudam para Nova Orleans, onde Renfield passa a frequentar um grupo de autoajuda para pessoas co-dependentes em relacionamentos abusivos. Mas lá todos acreditam que seu caso se trata apenas de mais um chefe ruim.
A trajetória de Renfield para tentar recuperar sua autoestima e valor próprio e enfrentar o chefe usando os mecanismos aprendidos no programa de 12 passos do grupo de autoajuda o colocam em situações hilárias. Isso se intensifica quando, em uma de suas caçadas, ele se envolve em uma briga contra uma facção criminosa que domina Nova Orleans, os Lobos – nome que faz um aceno ao conflito milenar entre vampiros e lobisomens.
Teddy Lobo (Ben Schwartz) é um jovem mafioso agitado que vive aos mandos da mãe, a imperatriz do crime Bellafrancesca (Shohreh Aghdashloo). A facção é perseguida também por Rebecca Quincy (Awkwafina), uma policial mal humorada com sede de vingança e que atrai o interesse de Renfield após eles juntarem forças contra os Lobos. Os personagens se envolvem nas mais sangrentas e exuberantes lutas, nas quais os poderes sobrenaturais são usados para trazer à telona os massacres e mortes mais criativos na sombria, mas coloridíssima, Nova Orleans. Os efeitos visuais estão ótimos e não foram economizados na hora de mostrar cada desmembramento, chuva de sangue e explosão.
Um novo olhar para personagens clássicos
O Conde mais famoso do mundo surgiu pela primeira vez em 1897, no romance de terror gótico de Bram Stoker, Drácula. O livro é uma narrativa epistolar, isto é, se constrói a partir de cartas, notícias de jornal e notas em diários. Desde seu lançamento, e sobretudo após o início do cinema, o personagem já apareceu em diversas produções. Renfield é o mais recente de dezenas de filmes com o vampiro e traz montagens com odes aos demais longas clássicos.
No entanto, alguma liberdade poética traz mudanças para redesenhar os personagens: no livro, o advogado imobiliário interessado pelas terras do conde se chama Jonathan Harker, e ele que, ao longo da narrativa, torna-se íntimo de Drácula. Renfield originalmente é o nome de um assistente que ingere vermes para recuperar sua força vital. No filme, Jonathan não aparece e é Renfield o advogado que, após a convivência com o Príncipe das Trevas, passa a partilhar da imortalidade e dos poderes de seu mestre ao ingerir insetos.
Excelente no papel, Nicolas Cage se aproveita da intimidade do público com o personagem centenário para entregar o crápula mais carismático de todos. Os olhares intensos, o sarcasmo e o ego exacerbado do seu Drácula megalomaníaco preenchem todas as cenas em que está, mesmo quando desfigurado – e aqui, brilham também as equipes de maquiagem e efeitos práticos, que deram ao personagem as mais nojentas formas enquanto se recupera.
Em um filme que desde o começo deixa claro que não se leva a sério, fica visível que o elenco se diverte tanto quanto a audiência, e essa é a maior qualidade do longa. Em uma era de filmes longuíssimos com milhares de significados escondidos, Renfield traz um frescor em convidar às salas de cinema quem procura se entreter, dar boas risadas e se desconectar por uma hora e meia do mundo lá fora. Vale a pena juntar os amigos e conferir nos cinemas!
Renfield: Dando o Sangue Pelo Chefe já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Universal Pictures Brasil