Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Resenha: ‘Ubik’ – lendo mentes, mas não a do autor

É difícil descrever o que é o romance Ubik em poucas palavras. A verdade é que ele é muito complexo, em diversos sentidos. Escrito pelo aclamado autor Philip K. Dick e uma de suas obras mais famosas, o livro foi eleito pela revista TIME como um dos 100 melhores romances escritos na língua inglesa desde …

Resenha: ‘Ubik’ – lendo mentes, mas não a do autor Leia mais »

É difícil descrever o que é o romance Ubik em poucas palavras. A verdade é que ele é muito complexo, em diversos sentidos. Escrito pelo aclamado autor Philip K. Dick e uma de suas obras mais famosas, o livro foi eleito pela revista TIME como um dos 100 melhores romances escritos na língua inglesa desde 1923. O que faz, então, essa obra ser tão prestigiada?

O enredo de Ubik se passa em uma versão futurista de 1992, com carros voadores, ligações por vídeo, grandes esteiras no lugar de escadas, viagens interplanetárias e muitos outros clichês da ambientação de ficção científica. Uma característica única, porém, é que nessa sociedade é comum a existência de pessoas com poderes telepáticos, como a leitura de mentes ou a previsão do futuro. Dessa forma, esses poderes são muito utilizados em operações de espionagem.

A história segue membros da principal empresa de prudência do universo do livro. Uma empresa de prudência justamente serve para combater a ação dos precogs, os telepatas usados para espionagem. A sinopse, porém, tem que parar por aí, o que na edição da Aleph ocupa mais de 60 páginas, já que tudo além disso já flertaria perigosamente com o campo dos spoilers.

Isso já indica um dos principais problemas da obra: o ritmo. O autor demora para avançar a história para o ponto principal. Por boa parte do livro, até aproximadamente a metade, é gasto bastante tempo com ambientação e com contextualizações que serão importantes para o decorrer da história. Desta forma, o leitor fica sem muita noção de rumo, ou seja, não consegue compreender qual o ponto central da história que está lendo.

Porém, é necessário dizer que a grande quantidade de páginas utilizada para a introdução dos conceitos não significa que estes recebem definições claras, o que gera o grande número de páginas é, em realidade, a quantidade de conceitos e personagens existentes. O autor, aparentemente, tenta fugir de um dos maiores problemas presentes em obras que se passam em mundos completamente fictícios: as cenas de exposição. O livro lida com seus conceitos de uma maneira muito realista. Se um personagem na trama deveria saber algo, ele sabe. Não há nenhuma longa cena de explicação de nenhum termo ou contexto, eles sempre vem de maneira rápida e muitas vezes incompleta.

Assim, o livro não é recomendável como porta de entrada para o gênero da ficção científica. É definitivamente um livro de difícil digestão que exige uma certa atenção para que nada se perca, sem contar que algumas coisas precisam ser deduzidas a partir do que é escrito.

Todas essas dificuldades, entretanto, não tiram o brilhantismo do clímax do livro. Apesar da demora, assim que começa, ele simplesmente te força a ler a próxima página, e a próxima depois dela, e depois a próxima, e assim até a conclusão. De certa maneira, a sensação das páginas acabando enquanto a conclusão não chega é bastante agoniante.

A principal reflexão da narrativa é sobre a vida e a morte e seus significados. Isso é explorado pelo conceito de meia-vida, que seria um estado de suspensão pós-morte que permite que, com o aparato correto, os vivos se comuniquem com os mortos, porém por tempo limitado, já que a decomposição do corpo eventualmente fecha esse canal.

E é nesse conteúdo extra-página que o livro se torna um clássico. O livro trata, de amor, lealdade, negócios, privacidade, e até mesmo Deus. Se o leitor superar o início massante e a confusão de termos e não se perder completamente na tensão e na sensação de pressa presente no clímax da história, sairá do livro com a mente ativa e pesada, considerando todas as reflexões que Dick propõe. É o tipo de livro para te deixar acordado a noite.  

Sem contar que, independentemente da sinopse ou das reflexões filosóficas e existenciais, a leitura vale a pena para descobrir o que é esse tal Ubik, citado desde a primeira página, e no início de todos os capítulos, mas só explicado na parte final do livro. Caso dê uma chance a essa leitura, perceberá que este livro, assim como Ubik, se utilizado conforme as instruções, mudará a sua vida!

1 comentário em “Resenha: ‘Ubik’ – lendo mentes, mas não a do autor”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima