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Resumo Internacional 2018: Ásia, Europa e Oriente Médio

Venha saber quais foram os principais acontecimentos ao redor do mundo neste ano de 2018

Por João Pedro Malar (joaopedromalar@gmail.com)

Da reunião de históricos inimigos a resultados eleitorais surpreendentes e marcantes, 2018 continuou uma tendência observada em anos anteriores: o avanço de líderes e partidos populistas e, muitas vezes, associados a um discurso autoritário e nacionalista. Geradores de tristezas ou alegrias, esses acontecimentos impactaram cada um de um jeito, e sem sombra de dúvidas ficarão registrados na história.

Nessa matéria, todos os esses acontecimentos estarão resumidos e divididos por continentes. Além disso, a América foi dividida em América do Norte, Central e do Sul, e o Oriente Médio foi separado da Ásia, devido a quantidade de casos nas regiões. A matéria também conta com análises de especialistas em relação ao ano de 2019 para cada continente, destacando em qual país (ou quais países) deveremos ficar de olho.

Ásia

Mapa político da Ásia. Fonte: Fsolda/Wikipedia

O grande foco de atenções no continente asiático neste ano foi a relação entre as duas Coreias. A Península Coreana presenciou uma reaproximação entre os dois históricos rivais, que ainda encontram-se oficialmente em guerra, graças, principalmente, aos esforços do presidente Moon Jae-in. Entre as mudanças históricas na relação dos países pode-se destacar o encontro entre Moon e Kim Jong Un na fronteira entre os países, o envio de uma delegação mista para as Olimpíadas de Inverno no começo do ano e uma proposta de sediar conjuntamente as Olimpíadas de Verão de 2032. Kim prometeu iniciar um processo de desnuclearização de seu país em troca da retirada de tropas americanas da Coreia do Sul, resta saber se as conversações e o processo de paz continuará em 2019.

Perto das Coreias, a China também teve um importante ano. Em 2018, foi decidido na Assembléia do Partido Comunista Chinês que Xi Jinping não terá mais termos de mandato, na prática o colocando como presidente por tempo indeterminado. A China vem tentando aumentar seu protagonismo ao redor do mundo, estreitando seus laços com países africanos e buscando implementar a Iniciativa do Cinturão e Rota, que visa, com obras de infraestrutura, aumentar e facilitar a conexão com países da Ásia, Europa e África.

Além disso, na China, foi marcante a repressão contra a minoria muçulmana dos Uigures, que habita o oeste da China, na região do Xinjiang. Eles são, historicamente, perseguidos e reprimidos pelo governo chinês, que visa eliminar as divergências culturais no país. Para isso, foram implementadas diversas medidas, como o estabelecimento de campos de “reeducação” para onde milhares de Uigures foram enviados e são mantidos em custódia, os números variam de 120 mil a um milhão de detentos. Nos campos, os Uigures são separados das suas famílias, podendo viver em ambientes sem condições de higiene e passando por processos de doutrinação ideológica. Vale lembrar que esse processo de limpeza étnica é semelhante ao ocorrido no Tibet, outro território chinês.

Outro grupo minoritário, os Rohingyas, segue em uma situação difícil. Em 2017, mais de 720 mil Rohingyas, minoria muçulmana apátrida com origem em Myanmar, fugiu para Bangladesh após ameaças e ataques por parte do exército birmanês. Esse ano, Bangladesh e Myanmar firmaram um acordo que permitiria o retorno dessas pessoas para o país, mas a maioria se recusa a retornar. A líder de fato do país, Aung San Suu Kyi, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz pela sua luta pelo fim do regime militar em Myanmar, foi duramente criticada por não ter se colocado como contrária aos ataques do exército.

Em 2018, diversas eleições foram realizadas no continente asiático. No Butão, Monarquia Parlamentar, o Partido Social Democrata conseguiu uma grande vitória, derrotando o partido do antigo primeiro-ministro e ganhando, pela primeira vez, representação no Parlamento. Com essa conquista, Lotay Tshering foi nomeado o novo Primeiro-Ministro do país.

Lotay Tshering, novo primeiro-ministro do Butão. Foto: Reprodução

No Camboja, o ditador Hun Sen, que está no poder desde 1998, conquistou mais um mandato como primeiro-ministro em uma eleição classificada internacionalmente como uma farsa. Hun Sen vem, ao longo dos anos, suprimindo sistematicamente a oposição ao seu regime, prendendo opositores e dissolvendo partidos, visando estabelecer o Camboja como um país com governo de partido único.

Outro país que viu uma grande mudança no seu cenário político foi a Malásia. O primeiro-ministro Najib Razak foi derrotado pelo seu antigo mentor e antecessor, Mahathir Mohamad, que se tornou o mais velho líder do mundo aos 93 anos. Mohamad formou uma frente de oposição, incluindo rivais históricos, para derrotar Razak após diversas acusações de corrupção e atos autoritários que foram feitos contra o primeiro-ministro. Com a vitória, é esperado de Mohamad garanta uma transição para um governo liderado por Anwar Ibrahim, que foi preso durante o governo de Razak e condenado. Mohamad prometeu perdoar os crimes de Ibrahim e garantir seu retorno à política. Após deixar o cargo e encerrar o período de 61 anos no poder do partido Fronte Nacional, Razak enfrenta inúmeras investigações por corrupção.

Mahathir Mohamad, novo primeiro-ministro da Malásia e mais velho chefe de estado do mundo. Imagem: Bernamapic

As Maldivas tiveram resultado eleitoral surpreendente. Acreditava-se que o presidente Abdulla Yameen conseguiria sua reeleição, mesmo em meio a escândalos de corrupção e críticas pela adoção de medidas autoritárias. Ele acabou sendo derrotado por um fronte unido da oposição, liderado por Ibrahim Mohamed. Yameen concorreu com um discurso nacionalista e forte apoio da China. Mohamed teve um discurso de restauração da democracia, contrário à corrupção e visando uma melhora das relações com o Ocidente.

Já no Nepal, a presidente Bidhya Devi Bhandari conseguiu se reeleger. Ela foi a primeira mulher eleita para o cargo e faz parte do Partido Comunista do Nepal, que governa o país desde 2017 com o Primeiro-Ministro Khadga Prasad Oli. Na Índia, vizinha do Nepal, a Suprema Corte aprovou a descriminalização da homossexualidade, um grande marco progressista no país.

Uma das eleições mais importantes do ano ocorreu no Paquistão, histórico rival indiano e que detêm armas nucleares. O grande vencedor foi Imran Khan, ex-jogador de cricket que, com um discurso baseado na renovação política e contra a corrupção, quebrou a hegemonia da Liga Muçulmana Paquistanesa e do Partido do Povo Paquistanês, que vem se revezando no poder há décadas. Com seu partido, o Movimento Paquistanês pela Justiça, Khan deverá enfrentar uma péssima situação financeira do país e ameaças à democracia por parte do exército, ao mesmo tempo em que prometeu buscar uma aproximação com a Índia e o Afeganistão.

Já em Taiwan, uma pequena ilha que busca reconhecimento internacional como verdadeiro governo chinês, a primeira-ministra Tsai Ing-wen, primeira mulher a ser eleita para o cargo, e seu Partido Progressista Democrático sofreram duras derrotas nas eleições locais deste ano. As derrotas são um mal sinal para Tsai, que enfrentará eleições gerais ano que vem, e pode significar a saída de seu partido, contrário à unificação com China continental, e o retorno ao poder do Kuomintang, favorável à uma aproximação com o continente e grande vitorioso das eleições de 2018.

Um país que enfrenta uma grande instabilidade atualmente é o Sri Lanka. A pequena ilha ao sul da Índia passa por forte turbulência, iniciada quando o presidente Maithripala Sirisena dissolveu o gabinete do primeiro-ministro Ranil Wickremesinghe e o retirou do cargo, substituindo-o por Mahinda Rajapaksa. O movimento surpreendeu muitos pois Sirisena e Wickremesinghe chegaram ao poder depois de se unirem para derrotar Rajapaksa, criticado internacionalmente por excessos durante a Guerra Civil no país, onde matou muitos membros da minoria étnica tâmil, cuja tentativa de independência deu origem à guerra, encerrada por Rajapaksa, também acusado de corrupção e nepotismo.

O presidente do Sri Lanka Maithripala Sirisena. Imagem: Reprodução

Sirisena e seu primeiro-ministro tiveram diversos atritos até o anúncio da decisão. Wickremesinghe não reconheceu a medida, alegando que ela ia além dos poderes do presidente, e se recusou a sair do cargo, com Rajapaksa estabelecendo um gabinete paralelo. Sem maioria no Parlamento para retirar o atual primeiro-ministro do poder e após duas derrotas parlamentares para tentar aprovar o novo primeiro-ministro, Sirisena chegou a marcar novas eleições, mas a Suprema Corte do país declarou a medida como inconstitucional. Rajapaksa então renunciou ao cargo e Wickremesinghe retornou ao cargo, aparentemente pondo fim à crise que deixou o país sem governo por 50 dias.

Um país que ainda deve passar por eleições neste ano é Bangladesh. A previsão é que o pleito ocorra no dia 30 de dezembro. A primeira-ministra Sheikh Hasina, do partido de centro-esquerda Liga Awami, busca seu terceiro mandato em meio a acusações de aumento do autoritarismo no país por parte do seu governo, com a prisão de militantes de oposição e violação das leis eleitorais. Sua principal adversária, a ex-primeira-ministra Khaleda Zia foi impedida de concorrer após ser condenada por corrupção. Com isso, o seu Partido Nacionalista de Bangladesh perdeu força na oposição. Em seu lugar Kamal Hossain, primeiro ministro da Justiça do país, formou uma ampla coalizão de oposição e é o principal nome contra Hasina. O mês, até agora, vem sendo marcado por tensões e protestos, violentamente reprimidos.

Para Alexandre Uehara, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Grupo de Estudos sobre a Ásia (GEASIA), o país para ficar de olho em 2019 é a China. A nação é a mais rico da Ásia e vem agora tentando se projetar internacionalmente, por exemplo ocupando o espaço deixado pelos EUA na negociação de acordos e com um estreitamento de relações com a África, além da tensão entre a China e o EUA por razões comerciais e toda a questão envolvendo a ocupação do Mar da China. O professor também ressalta que a disputa da Península Coreana continuará sendo importante no ano que vem.

Europa

Mapa político da Europa. Fonte: Fsolda/Wikipedia

O continente europeu teve inúmeras eleições neste ano. A maioria dos países da região segue o modelo parlamentarista, com um presidente com poucos poderes e um primeiro-ministro com diversas funções. Foram realizadas, em 2018 eleições para um desses dois cargos em diversos países.

Na República Tcheca, Irlanda, Chipre, Finlândia, Azerbaijão, Montenegro e Geórgia as eleições presidenciais representaram uma vitória dos partidos e presidentes que já estavam no poder. Nos 5 primeiros os seus respectivos presidentes foram reeleitos, em Montenegro o Partido Democrata dos Socialistas manteve o controle do cargo, com a troca de Filip Vujanovic por Milo Dukanovic e na Geórgia o partido governista Sonho Georgiano elegeu a primeira mulher para o cargo, Salome Zurabishvili.

A Armênia passou por uma eleição presidencial, programada, e uma eleição para o Parlamento, não programada. Essa segunda foi marcada após a renúncia do primeiro-ministro Nikol Pashinyan, que assumiu após liderar um movimento popular a favor da renúncia de Karen Karepetyan, que havia prometido não continuar no poder como primeiro-ministro, quebrou a promessa e teve que renunciar. Pashinyan e seu partido, mesmo com grande apoio popular, não tinham força no Parlamento, para mudar isso, o primeiro-ministro convocou as novas eleições. Pashinyan e seu partido obtiveram 70% dos votos e ele retornou ao poder com uma grande maioria. Na eleição presidencial, saiu um presidente sem partido e entrou outro, o ex-primeiro ministro e um dos criadores do jogo Tetris Armen Sarkissian.

O primeiro-ministro armênio Nikol Pashinyan. Foto: Vahram Baghasaryan/Reuters

Outra eleição importantíssima nesse ano foi a italiana. Os resultados eleitorais da terceira maior economia da zona do euro impactam não apenas a Europa, mas todo o mundo, por isso, era grande a atenção internacional para ver se a Itália confirmaria a tendência de crescimento da extrema-direita pelo continente, e foi isso que ocorreu. Com discurso nacionalista, populista, anti-imigração e eurocético, o partido Liga, de extrema-direita, e o Movimento Cinco Estrelas, um pouco mais moderado com discurso populista, foram os grandes vitoriosos, superando os partidos dos ex-primeiros-ministros Matteo Renzi e Silvio Berlusconi.

Os dois se uniram para formar um governo com Giuseppe Conte, um novato na política sem filiação partidária, como primeiro-ministro. Seu vice e ministro do interior é Matteo Salvini, líder da Liga. Salvini já adotou posições ousadas, como a recusa de receber navios com refugiados vindos do Mediterrâneo e a criação de um orçamento que viola as regras da União Europeia por ter um déficit grande demais, que ele julga necessário para fazer a economia italiana crescer. Atualmente, a popularidade da Liga só aumenta  na região.

Outro importante país que sofreu uma mudança no governo foi a Espanha. O primeiro-ministro Mariano Rajoy, do direitista Partido Popular, foi atingido por um escândalo de corrupção, que abalou muito sua popularidade e abriu margem para um voto de desconfiança no Parlamento, proposto por Pedro Sánchez, do Partido Socialista. Rajoy perdeu o voto e o cargo, e Sánchez, com o apoio de partidos separatistas catalães e do partido de esquerda Podemos, conseguiu os votos necessários para se tornar o novo primeiro-ministro espanhol. A proximidade de Sánchez com esses grupos separatistas, porém, custou caro para a popularidade do seu partido e deu margem para o crescimento do partido Vox, de extrema-direita, contrário à independência da Catalunha e que deve ter bons resultados nas próximas eleições gerais.

Mas talvez a maior surpresa do ano foi a instabilidade política em um país conhecido pela estabilidade, a Alemanha. Angela Merkel, em seu quarto mandato como chanceler, enfrentou dificuldades para manter unida sua coalizão, composta pelos partidos democratas-cristãos (um presente em toda a Alemanha menos na Baviera e outro presente apenas na Baviera) e o Partido Social Democrata. O principal problema veio do líder do partido social-cristão da Baviera, Horst Seehofer, ministro do interior de Merkel, que tentou adotar medidas mais alinhadas à extrema-direita para atrair eleitores, mas foi impedido por Merkel, gerando um impasse que quase destruiu a coalizão governista.

Entretanto, as piores derrotas de Merkel viriam em âmbito eleitoral, com a população abandonando o Partido Social Democrata por não concordar com a presença dele na coalizão e com os partidos democratas-cristãos perdendo eleitores para o Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita. Após derrotas inéditas em eleições locais na Baviera e em Hess, Merkel e sua coalizão foi duramente criticada, o que levou a sua renúncia da liderança do seu Partido Democrata Cristão e a promessa de que este seria seu último mandato. Em seu lugar, foi eleita Annegret Kramp-Karrenbauer, favorita de Merkel e, agora, a mais provável a assumir o cargo de chanceler alemã no futuro.

Annegret Kramp-Karrenbauer, nova líder do Partido Democrata Cristão e favorita para suceder Merkel como primeira-ministra alemã. Foto: Reprodução

O ano também não foi fácil para a primeira-ministra Theresa May, que luta para tentar aprovar um acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, o Brexit. Após diversas baixas ministeriais, May conseguiu chegar a um acordo com os líderes europeus, mas a solução para evitar uma fronteira física entre a Irlanda (membra da UE) e a Irlanda do Norte (membra do Reino Unido), que na prática manteria o Reino Unido submetido às diversas regras da UE, foi rejeitada pelos aliados de May no seu Partido Conservador e nos seus aliados de coalizão, o Partido Unionista Democrático.

Ela também sobreviveu a uma contestação de liderança interna no Partido Conservador, mas ainda parece longe de ter os números necessários para a aprovação do acordo no parlamento britânico. Se o acordo não for aprovado até março de 2019, o Reino Unido terá uma saída abrupta da UE, o que seria devastador para a economia do país. Alguns já levantam a possibilidade de um novo referendo para revogar, ou não, o Brexit.

Outro país que enfrentou problemas com a União Europeia esse ano foi a Polônia. O país vem sendo governado pelo partido Lei e Justiça desde de 2015 e seus integrantes vem adotando um discurso nacionalista, populista, anti-imigração e autoritário. Nessa linha, o governo polonês aprovou uma lei que, na prática, forçaria a aposentadoria de vários ministros do Supremo Tribunal Federal polonês e colocaria, no lugar deles, ministros alinhados ao partido. A União Europeia criticou duramente a ação e, após muita tensão e diversos protestos, a lei foi revogada e os juízes retornaram aos seus cargos.

Ainda sobre a Zona do Euro, a Grécia parece finalmente dar sinais de recuperação econômica, após anos de recessão. Enquanto isso, a Irlanda aprovou a legalização do aborto e retirou uma lei que estabelecia o crime de blasfêmia, representando grandes avanços para o país.

Dois países europeus estão em um impasse em relação à formação de governo após eleições em 2018. Na Suécia, as perdas eleitorais do Partido Social Democrata e do Partido Moderado, advindos de um crescimento dos Democratas Suecos, de extrema-direita — e agora a terceira maior força do parlamento — dificultaram a formação de um novo governo. Isso ocorre pois nenhum partido quer incluir os Democratas em sua coalizão mas as alianças de centro-esquerda e centro-direita não possuem números para ter uma maioria do Parlamento. O primeiro-ministro sueco e social democrata Stefan Löfven tentou formar um governo duas vezes, o líder do partido moderado Ulf Kristersson uma vez e a líder do partido Centro, Annie Lööf, uma vez. Todos falharam. A perspectiva agora é de realização de novas eleições.

Stefan Löfven, atual primeiro-ministro sueco. Foto: Reprodução

Outro país foi a Letônia, com a entrada de novos partidos conservadores no Parlamento e um enfraquecimento de partidos tradicionais. O partido social democrata Harmonia, único fora do espectro de direita ou centro-direita no parlamento, continuou como o maior partido no parlamento, mas segue sem aliados para atingir uma maioria. Já os partidos de direita e centro-direita não conseguiram se unir para formar um governo ou chegar a um acordo, desse modo, o território também segue sem um novo primeiro-ministro.

Outra eleição que foi acompanhada com bastante atenção foi a da Húngria, governada pelo primeiro-ministro Viktor Orbán, um dos grandes líderes da extrema-direita européia e que vem adotando medidas cada vez mais autoritárias no país. Era esperado que Orbán e seu partido, Fidesz, perdessem cadeiras no Parlamento, mas eles mantiveram a maioria necessária para realizar mudanças na Constituição do país e aumentaram a porcentagem de votos recebidos, indicando uma aprovação da população ao estilo de governo de Orbán, em especial suas políticas anti-imigração.

A Bósnia e Herzegovina também passou por eleições neste ano. A presidência do país é composta por 3 representantes eleitos, um croata, um bósnio e um sérvio. Em 2018, o Partido de Ação Democrática (centro-direita) manteve o controle da representação bósnia, com o partido Frente Democrática (centro-esquerda) assumindo a representação croata e o partido Aliança Independente de Sociais Democratas assumindo a representação sérvia.  O novo representante croata não segue o nacionalismo croata, o que gerou protestos e contestação de resultados por parte da população croata no país.

Em Luxemburgo, o Partido Democrata, de centro-direita, manteve-se no poder com o primeiro-ministro Xavier Bettel, em coalizão com o Partido Verde e o Partido Socialista dos Trabalhadores de Luxemburgo. Já na Eslovênia, o Partido Centro Moderno, mais centrista, perdeu o cargo de primeiro-ministro para o Lista de Marjan Sarec, um partido mais populista de tendências centristas liderado por Marjan Sarec. Sarec formou uma coalizão de partidos que variam do centro à centro-esquerda, formando o primeiro governo com minoria no Parlamento na história da Eslovênia.

O primeiro-ministro de Luxemburgo Xavier Bettel, que conquistou mais um mandato nesse ano. Foto: Reprodução

Por fim, neste ano também ocorreu eleição na Rùssia, marcada por acusações de manipulações e irregularidades por parte do governo de Vladimir Putin. Putin foi reeleito para a presidência russa com mais de 70% dos votos e seu partido manteve a maioria no Parlamento Russo, a Duma. No fim do ano, a Rússia e a Ucrânia tiveram um aumento de tensões, quando forças russas capturaram navios ucranianos que passavam por um estreito anexado pela Rússia. O presidente ucraniano Petro Poroshenko declarou Estado de Emergência, dando amplos poderes ao seu cargo, temendo uma invasão russa, entretanto ele foi revogado após 30 dias. As embarcações e suas tripulações seguem retidas pelo governo russo.

O governo belga passou por uma forte crise no fim do ano. O primeiro-ministro Charles Michel decidiu ratificar o Pacto sobre Migração da ONU, documento que visa gerenciar melhor a migração internacional e estabelecer os direitos dos migrantes, mas seu parceiro de coalizão, a Nova Aliança Flamenga, de tendências anti-imigração, foi contrária à medida e se retirou do governo. Após perder um voto de confiança no parlamento, Michel entregou sua renúncia ao rei belga, que o nomeou como primeiro-ministro temporário, com poderes reduzidos, até as novas eleições.

Outro governante que enfrentou problemas no fim de ano foi o presidente francês Emmanuel Macron. Seu governo tentou estabelecer um imposto maior sobre combustíveis visando diminuir o uso de combustíveis fósseis no país. A medida, combinada com uma estagnação econômica e piora nas condições de vida, gerou protestos de caminhoneiros franceses, os chamados Coletes Amarelos por causa das suas vestimentas, que se ampliaram e ganharam adesão devido à insatisfação de setores da população francesa com Macron. Com uma queda de popularidade e grandes protestos, Macron revogou o imposto e declarou um aumento do salário mínimo no país, os protestos, porém, continuam.

Por fim, um país europeu iniciou um processo de mudança de nome. A República da Macedônia realizou um referendo para mudar de nome para República da Macedônia do Norte, após um acordo com a Grécia, que temia que o nome Macedônia sozinho poderia indicar ou incitar um movimento de anexação de partes da antiga Macedônia que pertencem à Grécia. Com a mudança de nome, a Grécia deixaria de se opor à inclusão da Macedônia à OTAN e à União Europeia, facilitando a entrada do país nos grupos. O nome foi aprovado por mais de 95% dos eleitores, mas a oposição criticou o baixo comparecimento, cerca de 40%. O primeiro-ministro macedônio Zoran Zaev elogiou o resultado e irá colocar a mudança de nome em votação no parlamento, que deve aprová-lo.

Manifestantes contrários à mudança de nome da Macedônia comemoram o baixo comparecimento às urnas no referendo de mudança de nome. Fonte: EPA

Para João Paulo Charleaux, repórter especial do Nexo Jornal que cobre política internacional, o principal país para ficar de olho em 2019 é a Itália. Ela é governada por partidos de direita e outsiders, e, assim como o Brasil, passou por vários escândalos de corrupção. Matteo Salvini é visto por Charleaux como uma figura “midiática e que se promove como um vanguardista da extrema-direita no mundo.” Como esse movimento cresce internacionalmente, a Itália pode se tornar uma referência no ano de 2019.

Oriente Médio

Mapa político do Oriente Médio. Imagem: EducaBras

O primeiro país do Oriente Médio a realizar eleições este ano foi o Iraque. Ainda em situação precária, com economia em péssima situação e no processo de repressão de grupos terroristas, as eleições levaram à formação de dois grandes blocos na Assembléia Nacional, o que dificultou a escolha de um novo presidente e um novo primeiro-ministro. Um bloco era composto pelo antigo primeiro-ministro Haider Al-Abadi com partidos de esquerda e centro e mais secularista, o outro era uma aliança anti-secularismo de tendências de extrema-direita. No fim, foi mantida a tradição de eleger como presidente um membro do segundo maior partido curdo, a União Patriótica do Curdistão, e foi eleito como primeiro-ministro um independente com apoio de todos os partidos, o ex-ministro do petróleo Adel Abdul Mahdi.

Depois, foi a vez do Líbano realizar eleições. O primeiro-ministro Saad Hariri, do centrista Movimento do Futuro, conseguiu se manter no cargo mesmo com seu partido obtendo menos votos e com o grupo religioso Hezbollah elogiando o processo eleitoral. Já no Reino do Bahrain, um número recorde de mulheres foi eleito para a Assembléia Nacional, 6 de 40, mesmo com críticas de que o processo eleitoral tinha inúmeras falhas, com grupos de oposição ao rei Hamad bin Isa Al Khalifa sendo impedidos de concorrer. O Bahrain é basicamente controlado pelos reis da dinastia Al Khalifa, e eleições começaram a ser feitas após protestos da população.

O último país a passar por eleições na região foi a Turquia. Foram as primeiras eleições após a aprovação de um referendo que tornou a nação uma República Presidencialista, e o Presidente Recep Tayyip Erdogan conquistou mais um mandato, seu principal rival foi Muharrem Ince, do Partido Republicano do Povo. Erdogan prometeu continuar a sua luta contra separatistas curdos e o Estado Islâmico. Vale lembrar que o presidente já tomou diversas medidas autoritárias, como a prática de censura e prisão de opositores.

A Turquia também esteve envolvida numa grande polêmica neste ano. O jornalista Jamal Khashoggi, conhecido por expor os excessos do regime saudita, foi morto enquanto estava na embaixada saudita no país. O líder saudita Mohammed Bin Salman foi duramente criticado por diversos países, em especial a Turquia. Interessantemente, o presidente Donald Trump fez críticas brandas à Arábia Saudita. No momento, ainda não se sabe quais serão todas as proporções do episódio, mas já nota-se que a imagem de Salman e de seu país foi duramente prejudicada.

O príncipe herdeiro do trono da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman. Foto: Fayez Nureldine/AFP

Um rival atual da Arábia Saudita, o Qatar, também fez um ato surpreendente, anunciando que irá se retirar da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). Segundo o governo qatari, a decisão foi tomada pois o país pretende privilegiar a sua produção de gás natural, em detrimento da de petróleo. Vale ressaltar que o Qatar enfrenta, desde o ano passado, um bloqueio terrestre estabelecido por países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e pelo Bahrain, os dois primeiros são membros da Opep.

Enquanto isso, o Irã sofreu, neste ano, uma série de manifestações contra o governo de Hassan Rouhani e clamando por melhorias na economia do país, que encontra-se em péssima situação. A decisão dos EUA de sair do Acordo Nuclear do Irã, que visa evitar que o país desenvolva armas nucleares, com a implementação de novas sanções econômicas deve piorar a situação econômica iraniana e os protestos. Neste ano, por causa dessa decisão, a tensão entre o Irã e os EUA aumentaram consideravelmente.

O conflito Israel-Palestina também teve um novo capítulo. Diversos protestos foram feitos por palestinos na região da Faixa de Gaza, território que encontra-se completamente bloqueado por Israel. A decisão de alguns países, como os Estados Unidos, de mudar suas embaixadas para Jerusalém, na prática reconhecendo a cidade como pertencente apenas a Israel, intensificou os protestos. A repressão israelense tem sido dura, com bombardeios na Faixa. Até agora, mais de 160 palestinos morreram e pelo menos 15 mil ficaram feridos. O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu recebeu diversas acusações de corrupção neste ano, incluindo recomendações de investigação, o que deve dificultar sua tentativa de reeleição nas eleições do ano que vem, adiantadas por ele para o começo de 2019.

Os conflitos entre Israel e a Palestina na Faixa de Gaza continuaram em 2018. Foto: OCHA

Por fim, ainda existem duas guerras atuais no Oriente Médio. Na Síria, o governo de Bashar al-Assad praticamente derrotou as forças rebeldes e o Estado Islâmico, é a tendência é que o presidente recupere o controle do território. Vale ressaltar que os curdos ainda detém o controle do norte do país, o que pode levar a novos conflitos. Já no Iêmen, não há previsão para o fim do conflito entre o governo dos houthis (apoiados pelo Irã) e o governo de Abd Rabbuh Mansur (apoiado por países ocidentais e pela Arábia Saudita), com o país dividido entre os dois grupos. Entretanto, um acordo de cessar fogo na cidade portuária de Hodeida é um bom sinal na direção da paz. Mais de 60 mil pessoas morreram na Guerra do Iêmen e mais de 400 mil morreram na Guerra da Síria, com milhares de refugiados e desabrigados.

Para o professor Uehara, o país para ficar de olho em 2019 é o Irã. Em especial devido aos feitos que a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear terão na economia do país e, com isso, na sua situação política, influenciando nas tensões militares entre os dois países e no jogo geopolítico no Oriente Médio. O professor ressalta que a ausência dos EUA debilita o acordo e gera uma grande insegurança no Irã, despertando uma “política de precaução” que inflama a retórica americana.

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