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Forte concorrente ao Oscar 2025, ‘Robô Selvagem’ é tudo que você precisa para se sentir acolhido

Ao unir o clássico conto do patinho feio com o mundo tecnológico, a trama animação leva do entusiasmo à melancolia na mesma intensidade
Por Maria Eduarda Oliveira (marieduarda@usp.br)

Contar a história de uma família disfuncional não parece uma ideia revolucionária. Ainda assim, o trabalho primoroso realizado na animação Robô Selvagem (The wild robot, 2024) o torna uma realização singular. Produção cinematográfica do estúdio DreamWorks Animation, o filme é adaptação do livro best-seller de mesmo nome do autor e ilustrador estadunidense Peter Brown. A direção e o roteiro são de Chris Sanders, responsável pela co-criação de obras  como Lilo & Stitch (2002) e Como Treinar Seu Dragão (How to Train Your Dragon, 2010), que tem certa habilidade em cativar a audiência com criaturas estranhas e indesejadas. Assim, o encantador Banguela e o bravo Stitch ganham uma nova companheira nesse hall de personagens: a robô Roz.

Quando o navio que a transportava naufraga, a unidade ROZZUM 7134 vai parar em uma ilha estranha repleta de animais selvagens. Sem a presença de humanos, a quem foi programada para servir, a personagem Roz tenta a todo custo cumprir o dever que lhe foi dado na criação. E é nesta procura que ela se depara com uma tarefa para a qual não foi preparada: ser mãe. Manter em segurança o pequeno ganso BrightBill, ou Bico-Vivo, como é chamado na versão brasileira do longa, se torna sua principal missão. Assim, ao lado da esperta raposa Fink, os personagens constroem uma família nada convencional, mas que transborda amor em tela.

Com um elenco que inclui Lupita Nyong’o (Roz), Pedro Pascal (Fink) e Kit Connor (BrightBill) em sua dublagem original, o filme poderia se sustentar apenas com sua belíssima aparência, já que segue o mesmo estilo visual de filmes aclamados como Gatos de Botas 2 (Puss in Boots: The Last Wish, 2023), que misturam o 2D e 3D. Mas, mais que isso, ele se esforça igualmente para contar uma jornada tocante sobre maternidade, pertencimento e a descoberta do que é a vida.

No Brasil, o trio principal ganha vida através das vozes de Elina da Souza, Rodrigo Lombardi e Gabriel Leone [Imagem: Divulgação/ Universal Pictures Brasil]

A sublime habilidade em narrar esses temas com tanta delicadeza, como se vê nessa história, não é comum a todas as obras que se propõem a fazê-lo. Há um claro cuidado vindo da produção em ser sutil no que estão apresentando. Não existe, por exemplo, a sensação de que as cenas tristes são feitas apenas para arrancar lágrimas ou ensinar uma lição de moral para quem está assistindo. 

Assim como todos os animais dessa pequena comunidade, Roz está tão focada em cumprir a missão de sua espécie robótica que se esquece do que pode ser para além disso. Sua visão de mundo só é transformada quando recebe a oportunidade de cuidar de alguém que não obedece a um manual prático de comportamento, e a obriga a constituir um novo sistema. Logo, ela luta para se encontrar não apenas como uma mãe, mas também como um indivíduo além do que suas diretrizes a criaram para ser. Há um aceno às mães do mundo real, que após a chegada da maternidade enfrentam dificuldade em se reconhecerem como pessoas independentes de seu novo papel. Quando se aprofunda nesse tema, o filme traz uma abordagem sensível sobre o que é a eterna jornada da vida em busca de um propósito.

Enquanto isso, o enredo do jovem Brigh se concentra em sua identidade como um ganso criado por uma criatura completamente diferente de sua espécie, o que se torna um problema quando ele apresenta necessidades que não fazem parte do universo de sua mãe, como comer, nadar e voar. Assim como no famoso conto infantil do patinho feio, Bright é visto como uma abominação pelo resto dos gansos, pois cresceu longe da comunidade a qual deveria pertencer. Do mesmo modo que Roz, ele precisa descobrir quem realmente deseja ser.

Todas essas descrições podem construir a expectativa de que o filme se trata apenas de cenas sérias e profundas, o que passa longe da verdade. Apenas assistindo ao trailer, é possível notar que a animação está lotada de cenas cômicas, que casam muito bem com o restante da trama. 

“Mas ele tem uma chance. Se quando lhe cansarem as asas, encontrar força no coração”, diz Longneck (Bill Nighy), amigo de BrightBill [Imagem: Divulgação/ Universal Pictures Brasil]

Desde o sucesso estrondoso de Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse, 2018), os estúdios de animação buscam explorar novos estilos de animação que fujam do padrão 3D que a Disney, referência na indústria, seguiu por muitos anos. Aqui, essa se mostrou uma escolha sábia. Os visuais presentes na ilha ganham um ar mágico que lembram quadros históricos da época do realismo impressionista, o que torna os ambientes mais coloridos, quase palpáveis ao público. A escolha de usar técnicas de animação mais estilizadas torna a experiência de assistir ao filme no cinema quase obrigatória para quem quer ver todos os detalhes adicionados nos cenários.

A diversidade de animais e as excelentes cenas de ação são outros pontos fortes da parte técnica do longa. No mesmo passo que expõe a beleza da natureza, a produção explora o lado feroz da sobrevivência nesse ambiente selvagem. A trilha sonora do filme também é um evento à parte e conta com a voz de Maren Morris na emocionante música principal, Kiss The Sky.

O único deslize cometido no filme é sua eventual pressa em andar com a narrativa. Alguns momentos de clímax se perdem na confusão trazida pela agilidade em que os atos acontecem. Adicionar poucos minutos ao filme poderia ter dado o tempo necessário que os acontecimentos precisavam para ocorrerem de maneira calma. Entretanto, independente desse descuido, a qualidade desse projeto é indiscutível. A versão literária continua em mais dois livros publicados, mas ainda não traduzidos no Brasil, que podem garantir uma possível sequência. 

O filme está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:

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