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Schumacher e Senna, por Flavio Gomes

No dia 10 de setembro, há exatos 20 anos, Michael Schumacher conquistou sua 41ª vitória na Fórmula 1 e igualou a marca de Ayrton Senna. Sobre o protagonismo do alemão no esporte e a superação do recorde de Senna, o Arquibancada entrevistou Flavio Gomes, comentarista do FOX Sports e fundador do site Grande Prêmio: Arquibancada …

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No dia 10 de setembro, há exatos 20 anos, Michael Schumacher conquistou sua 41ª vitória na Fórmula 1 e igualou a marca de Ayrton Senna. Sobre o protagonismo do alemão no esporte e a superação do recorde de Senna, o Arquibancada entrevistou Flavio Gomes, comentarista do FOX Sports e fundador do site Grande Prêmio:


Arquibancada – Como era a Fórmula 1 na temporada de 2000? 

Flavio Gomes – Era um campeonato com a cara de Schumacher e todos achavam que naquele ano a seca de títulos terminaria. Só não acabou no ano anterior porque ele sofreu um acidente em Silverstone, ficou algumas provas fora e não teve como se recuperar na pontuação quando voltou, nas últimas etapas. Assim, 2000 era o ano dele se consagrar de vez na Ferrari, e foi o que aconteceu. Deu a lógica. A equipe se preparou para esse momento, que demorou um pouco mais a chegar por causa da perna quebrada na Inglaterra.


Arquibancada – Michael Schumacher e Ayrton Senna são dois dos principais nomes do automobilismo. Na sua opinião, qual deles é maior no esporte?

Flavio Gomes – Schumacher tem números mais impressionantes e façanhas mais complexas realizadas, como ganhar campeonatos por equipe média, a Benetton, e aceitar o desafio de tirar a Ferrari do fundo do poço, algo que Senna não se propôs a fazer. Michael foi paciente, só ganhou seu primeiro título na Ferrari no seu quinto ano na equipe. Ayrton não fazia isso. Fora os números, que são amplamente favoráveis ao alemão. Inclusive no confronto direto entre ambos, em 1992 e 1993, cada um chegou uma vez na frente do outro. Senna era um excepcional piloto em classificação e na chuva. Schumacher era isso, também, e muito melhor em corrida que o brasileiro. Mas são nomes que devem ser colocados em nível semelhante na história da categoria.


Arquibancada – Quais diferenças podemos identificar no estilo de pilotagem de ambos?

Flavio Gomes – Schumacher era mais profissional e menos personalista. Lembremo-nos que ele estreou sete anos depois de Senna, e por isso experimentou ao longo da carreira diferentes modelos de gestão de equipe, tipos de carro, regulamentos, pontuação, até mesmo a expansão da F-1 para o Oriente, algo que Senna não viveu. Michael pegou uma fase bem mais exigente da F-1 no que diz respeito, principalmente, a erros de pilotagem e arroubos de pop star. Uma F-1 mais profissional, em resumo. Na pista, Schumacher tinha uma leitura muito precisa das corridas, pit stops, estratégias etc. Senna tinha como característica velocidade pura, digamos.


Arquibancada – Na temporada de 2000, em Monza, Schumacher igualou as 41 vitórias de Senna. Atualmente ele é o detentor do recorde, com 91 vitórias, mas pode ser superado por Hamilton ainda em 2020. Qual é o tamanho desse recorde e o que ele representa para a Fórmula 1?

Flavio Gomes – Pouca gente acreditava que alguém superaria essa marca, porque para isso seria necessário um domínio muito longevo de alguma equipe. E domínio como esse da Mercedes, que já dura sete anos, nunca se viu na F-1. Mesmo o período hegemônico da Ferrari, do qual Schumacher tirou enorme proveito para construir esses números, foi mais curto: cinco anos, de 2000 a 2004. Hamilton está fazendo o mesmo, com a vantagem de que disputa campeonatos com mais corridas. O número significa o que é: ele será o maior de todos os tempos em breve. Ninguém usufruiu tanto de uma hegemonia técnica quanto Hamilton. E é óbvio que ele tem parte na construção dessa hegemonia. Não só pilotando, como também na sua atuação junto a engenheiros, técnicos, pessoal de fábrica etc.


Arquibancada – Na sua opinião, Hamilton já figura entre os principais pilotos da história ao lado de Senna e Schumacher?

Flavio Gomes – Seria uma besteira enorme dizer o contrário. Ele está nesse time desde 2008, quando ganhou seu primeiro campeonato. Campeões mundiais fazem parte de qualquer galeria, mesmo que tenham conquistado um título apenas. O que dizer de quem tem seis e caminha para o sétimo? Hamilton já é maior que Senna, bem maior, e caminha para ser também maior que Schumacher.


Arquibancada –
Você acha que a importância do Senna se deve muito mais pelas coisas simbólicas que ele representa, principalmente para o brasileiro, do que pela sua habilidade como piloto propriamente dita?

Flavio Gomes – Eu te devolvo com outra pergunta: quais coisas simbólicas que Senna representa, exatamente?


Arquibancada –
Foi construída toda uma imagem em torno do Senna. Ele passou a ser considerado um herói do esporte nacional e também era muito bem visto por conta de seus “valores”. Acredito que os programas sociais, como o Instituto Ayrton Senna contribuíram bastante para construir essa imagem dele que vai muito além do esporte.  Você discorda?

Flavio Gomes – A imagem de Senna, como você mesmo diz, foi construída. Se temos uma população boba o bastante para considerar herói um cara que guia carros de corrida, paciência. Senna não foi herói de coisa nenhuma, foi apenas um piloto de carros. Herói é bombeiro, médico, professor. Não há traços de heroísmo em nada que Senna fez. O que as pessoas chamam de “valores” que ele defendia nada mais é que um conjunto de clichês que qualquer livro de autoajuda contém: acredite nos seus sonhos, lute pelo que quer na vida, tenha dedicação empenho e garra”. Todo técnico de futebol fala isso em preleção duas vezes por semana. Além do mais, a TV Globo vendia uma imagem do Senna que dava a entender que ele tinha o monopólio da virtude. Só ele lutava. Só ele era ousado. Só ele ultrapassava. Só ele tinha garra. O que é, evidentemente, uma mentira. E um desrespeito aos demais pilotos. Quanto ao instituto, não existia até ele morrer, então não se pode dizer sequer que foi um legado que o piloto deixou. O IAS não promove programa social nenhum, isso é mentira. Não constrói escolas, não fornece merenda a crianças carentes, não dá bolsas de estudo, não distribui uniformes ou material escolar. É uma mentira, outra, afirmar que o IAS faz caridade ou conduz programas sociais e ajuda as criancinhas carentes. O IAS, segundo seu próprio site, “vem produzindo conhecimento e experiências educacionais inovadoras capazes de inspirar práticas eficientes, capacitar educadores e propor políticas públicas com foco na educação integral” e “desenvolve soluções educacionais, pesquisas e conhecimentos em pedagogia, gestão educacional, avaliação e articulação para que sejam replicáveis em escala”. Se alguém conseguir entender o que é isso, que explique. Mas uma coisa se sabe: não é programa social coisa nenhuma. Da conta do IAS não sai um real para ajudar crianças pobres. E entra bastante, muito mesmo, em doações e royalties dos produtos da marca Senna sem tributação, já que se trata de uma ONG educacional. Com o que gastam, não sei. Portanto, essa imagem de herói virtuoso quase santo não passa de mais uma das babaquices alimentadas por uma massa acrítica que engole qualquer coisa neste país.

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