A segunda palestra do dia 20 de agosto da VII Semana de Fotojornalismo foi sobre o tabu do corpo e contou com a participação do fotógrafo Hugo Lenzi, e Nanda Gomes, também fotógrafa. As falas de ambos os palestrantes abordaram questões sobre a sensualidade, os padrões estéticos e a autoestima das mulheres antes, durante e depois das fotografias.
Lenzi começou a palestra mostrando fotos de seus trabalhos e contando sua própria história. O início de sua trajetória envolve os trabalhos que ele fazia fotografando mulheres para revistas e as limitações políticas que a Ditadura Militar impunha tanto em sua vida pessoal quando em seu trabalho, através da censura. Isso porque, além de fotógrafo, Hugo Lenzi era líder estudantil. Então, segundo suas próprias palavras, quando ele não fotografava, estava em passeatas, manifestações ou mesmo nas dependências do DOI-CODI.
“Fotógrafo bipolar” é como ele se auto-intitula, devido a essa pluralidade de atividades, que envolviam tanto fotografias publicitárias e sensuais quanto lutas estudantis pela democracia.
Através de sua fala e de seu trabalho, Lenzi mostrou que exposição do corpo não é o mesmo que sensualidade. Há mais sensualidade em algumas fotos com mulheres vestidas do que as com mulheres nuas. Essa diferença se dá de acordo com o olhar do fotógrafo e com a proposta das fotos. Assim, percebe-se que a sensualidade nem sempre está no nu, mas em como as fotografias são compostas e mostradas.
Outro enfoque importante da palestra foi o premiado projeto De Peito Aberto feito pelo fotógrafo e pela jornalista Vera Golik. Esse projeto trata da autoestima da mulher que lutou contra o câncer de mama. Histórias emocionantes são contadas através de fotos e depoimentos que reafirmam a mulher plena e integralmente.
Quando perguntado sobre o porquê de não mostrar cicatrizes e cenas surpreendentes nesse projeto, Lenzi afirmou que o intuito da exposição não era chocar, mas conscientizar as pessoas de seus direitos e mostrar que é possível se recuperar do câncer de mama.
A segunda palestra foi com a fotógrafa Nanda Gomes, que também começou contando um pouco sobre sua trajetória.
Muito bem humorada do começo ao fim da palestra, Nanda revelou que começou a faculdade de Publicidade e Propaganda por não saber muito o que queria fazer. Desde pequena ela já fotografava e dançava balé. Sua primeira chance como fotógrafa foi justamente misturando essas duas atividades: surgiu uma oportunidade de fotografar o balé, focando nos movimentos da dança.
Depois que já estava formada, ela se mudou da Bahia para São Paulo e começou a trabalhar com produção de elenco. Nesse trabalho, além de ter contato com pessoas famosas, ela também conheceu pessoas que “são do mundo real”, segundo palavras da mesma. Nanda afirmou também que sua vida sempre esteve ligada a essas pessoas “reais”, o que fez com que ela se voltasse para a fotografia.
Como Nanda disse: “o universo real sempre foi mais gritante, mais rico” e é por isso que seu principal projeto, o Nu Real, aborda essa questão do retrato real da mulher. A ideia desse projeto é difundir a questão da beleza feminina sem a interferência de programas de edição. As fotos são feitas sem a intenção de colocar a mulher como objeto sexual e mostram que a sensualidade não está necessariamente ligada a se oferecer para outro, como costumamos pensar, mas em estar bem com si mesmo.
A fotógrafa também deu grande atenção a questão da representação do nu sem objetificação do corpo feminino. Isso porque esse não é somente um trabalho artístico, mas também social. Segundo ela, é necessário cuidado com as imagens da mulher que são expostas na mídia, pois elas muitas vezes podem perpetuar uma sociedade machista e misógina.
Por Nina Turin
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