Shin Kamen Rider (Shin Masked Rider, 2023) é a mais recente obra da série de filmes dirigidos por Hideaki Anno, o célebre diretor de Neon Genesis Evangelion (1995), que tem adaptado franquias clássicas japonesas para o cinema. O Shin Japan Heroes Universe (SJHU), nome do projeto, contempla filmes como Shin Godzilla (2016), Evangelion 3.0+1.0: A Esperança (Evangelion 3.0+1.0: Thrice Upon a Time, 2021), além de Shin Ultraman (2022) e, agora, Shin Kamen Rider, o último do quarteto. Essa roupagem mais atual do “universo dos heróis japoneses” justifica o uso da palavra “shin” em quase todos os títulos, que significa “novo” ou “verdadeiro” em japonês.
A história é uma releitura empolgante e envolvente da primeira série do universo, Kamen Rider (1971). Seu protagonista, Hongo Takeshi (Sosuke Ikematsu), é um jovem que teve seu corpo melhorado para uma condição híbrida entre humano e gafanhoto, a fim de servir a uma organização chamada SHOCKER. Sua energia vem da prana, uma espécie de substância vital que o torna super forte e veloz.
O procedimento padrão da SHOCKER consiste em fortalecer suas cobaias artificialmente para que atinjam um nível de força requerido para o objetivo central da organização: a dominação total da espécie humana. Takeshi consegue fugir da corporação antes de passar por uma lavagem cerebral e passa a combatê-la com os poderes adquiridos, tornando-se o Motoqueiro Mascarado, ou Kamen Rider, no japonês. Ele tem a ajuda de Morikawa Ruriko (Minami Hamabe), filha de um ex-agente da SHOCKER.
“Hongo Takeshi. Aluno nota 10, atleta versátil. Mas você é melancólico. Isso é porque você está desempregado. A moto é seu único passatempo.”
Morikawa Ruriko sobre Hongo Takeshi
Como parte de sua tarefa, o Motoqueiro Mascarado luta contra outros indivíduos hibridizados como insetos, que fazem parte do grupo de vilões da SHOCKER. Esses personagens testam diferentes habilidades da dupla, além de serem caricatos em suas formas e gestuais, proporcionando algumas cenas cômicas nas duas horas de filme.
Existe uma tensão implícita entre humanos e híbridos, e, uma vez que o longa é narrado do ponto de vista dos híbridos, isso se torna central na trama. O filme, então, apresenta avanços tecnológicos gigantescos, mas não se esquece de quem ainda está no controle deles: os humanos, ainda que melhorados em algum nível. Ruriko, totalmente humana, faz jus a essa abordagem com suas extensas habilidades em programação e armazenamento de dados, que se unem às habilidades físicas sobre-humanas de Takeshi e o auxiliam em sua missão.
Seja pelo trabalho da SHOCKER ou de outros personagens, Shin Kamen Rider retrata um mundo repleto de tecnologia, mas não totalmente dominado por ela. Uma prova disso, ainda que não muito óbvia, é a relação de amizade construída entre Ruriko e Takeshi, que dispensa melosidades e focaliza no ideal pacífico de ambos contra a SHOCKER, mas sem perder a doçura e a sensibilidade humanas que são pouco evidentes de início.
O longa chama atenção por ser mais um trabalho de prestígio de Hideaki Anno, e o diretor atende às expectativas com seu olhar único que resgata a estética nostálgica e divertida dos animes e adiciona mais uma camada de humanidade ao enredo devido a suas lutas intensas, movimentos pitorescos quase que mal planejados e diálogos inusitados no meio dos embates.
Os mundos e possibilidades de Kamen Rider não se esgotam nessa adaptação, mas o filme certamente se consagra como uma retomada vigorosa da franquia e como uma boa dose de emoção e entusiasmo aos que nunca tiveram contato com nenhum de seus universos.
O filme está disponível no Amazon Prime Video. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Toei Company