Quantas vezes já não nos sentimos desamparados após uma mudança brusca em nossas vidas? Quem nunca ficou desnorteado com a perda de algo ou de alguém que gostava muito e sentiu um desânimo, uma falta de esperança, e acreditou que jamais poderia superar a situação? Pois esse é o tema do longa brasileiro Pela Janela (2018), o primeiro da cineasta Caroline Leone. O filme se propõe a mostrar que nunca devemos perder as esperanças, mesmo quando a vida parece perder seu sentido, e consegue passar essa mensagem de modo descontraído e eficaz.
Rosa (Magali Biff) trabalha na periferia de São Paulo em uma fábrica de reatores, à qual se dedicou por mais de trinta dos seus 65 anos de vida. Sua experiência no ramo a permite exercer qualquer função do lugar, mas nem esse fato consegue salvar seu emprego quando novos sócios tomam conta da empresa. Completamente sem rumo, a depressão toma conta de Rosa. Preocupado com a situação, seu irmão e companheiro de moradia, Zé (Cacá Amaral), leva a protagonista em uma viagem de carro até Buenos Aires, pois acredita que a jornada e a mudança de ares fará muito bem a ela.
Pela Janela se encaixa no gênero road movie, categoria que engloba os longas nos quais os protagonistas deixam sua rotina diária para embarcar em uma viagem que altera significantemente suas visões de mundo. São considerados do gênero, por exemplo, os filmes Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine, 2006), Rain Man (1989) e o brasileiro Central do Brasil (1998). Durante sua jornada, os irmãos passam por várias situações diferentes que vão pouco a pouco alterando o estado apático da ex-operária. Mas ao contrário de como são retratados em alguns blockbusters, são apenas acontecimentos comuns, como uma visita às cataratas do Iguaçu, uma janta em um restaurante animado, ou a formação de novas amizades. Essa trivialidade acaba sendo destaque, pois acaba nos aproximando das personagens.
A dupla de atores principais também está impecável. Primeiramente se mostrando entusiasta com o trabalho de Rosa na fábrica, Biff nos convence da importância que o emprego tinha na vida da protagonista, e de como sua perda foi devastadora. É muito fácil notar o desespero dela, por exemplo, quando retorna à fábrica no dia seguinte a sua demissão, apenas para ver se sua ajuda era necessitada. Do outro lado, como papel de suporte para a personagem principal, Amaral tem um desempenho excelente. O ator dá vida a um irmão que está o tempo todo ajudando e pensando em Rosa, sem perder seu jeito carismático, e o faz de modo que acreditamos na autenticidade de tal preocupação. Ilustram muito bem este ponto cenas em que Zé ensina a irmã um pouco de espanhol, e na qual toca seu violão para ela antes de dormir.
O filme não conta com conflitos, reviravoltas, histórias complexas ou cenas de ação. O principal objetivo de Pela Janela é provocar um sentimento de reflexão no público, e com certeza é isto o que acontece ao sairmos da sala de cinema. Por exemplo, é normal nos sentirmos sem direção de vez em quando, principalmente quando algo terrível acontece. Apesar disso, não podemos nos abater, pois mesmo as pequenas coisas podem fazer uma enorme diferença positiva em nossas vidas. E por trazer uma mensagem tão poderosa e de modo tão conciso, Pela Janela é memorável.
Além de conferir o filme, o Cinéfilos também entrevistou a diretora Caroline Leone e os atores Magali Biff e Cacá Amaral. Veja abaixo!
Por Bruno Menezes
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