Bruna Buzzo
Três Macacos (Üç Maymun) é um filme de tristes sombras, da fotografia aos personagens. As cenas escuras, com poucos focos de luz e fortes contrastes, nos mostram o que veremos ao longo de todo o filme: uma família sofrida, repleta de problemas e segredos, sempre sujeita às manipulações e peças que a vida nos prega.
Como no provérbio japonês e na imagem que comumente os representa (os três macacos sábios que nos dizem que não se deve “ver o mal”, “ouvir o mal”, “falar o mal”), os personagens principais da trama são os três macacos que não desejam se comunicar, que preferem ignorar detalhes de suas vidas, omitir informações e construir uma convivência pacífica baseada em segredos. Algo humanamente impossível. Fracassam. E suas vidas caem por terra, levando convicções e esperanças.
Ao contrário dos três macacos do provérbio, a família que compõe o eixo central deste longa não faz bem ao evitar ver e compartilhar suas aflições. Por dinheiro, Eyüp (Yavuz Bingol, o pai) assume a culpa por um acidente causado por seu chefe, Servet (Ercan Kesal), um político que está tentando se eleger. Hacer (Hatice Aslan), a mãe, e o filho do casal, Ismail (Rifat Sungar), ficam desnorteados com a ausência paterna, e acabam fazendo coisas que Eyüp não aprovaria.
A trama se desenvolve de um modo peculiar que quase se poderia dizer típico dos filmes do “lado B da Europa”. Um país pobre, com uma população arrasada tentando de tudo para sobreviver e melhorar de vida. A direção de Nuri Bilge Ceylan foi premiada no Festival de Cannes 2008.
A fotografia é o grande destaque do filme, linda do começo ao fim, nos envolve na trama. Quanto a mim, digo que gostei mais do filme por que a fotografia escura me mostrou o quão melancólica pode ser a vida. Pela fotografia, é possível solidarizar-se com a pobre família. E desejar que tenham sorte em suas buscas, que saiam da escuridão e sobrevivam às tempestades.