A stop motion é uma técnica que une a fotografia ao cinema. Assim, para se fazer um filme em stop motion, uma cena é fotografada sequencialmente, com apenas algumas pequenas alterações dos objetos presentes. Cada fotografia é chamada de quadro ou frame. Quando os frames são dispostos continuamente, o olho humano ignora que se trata de uma sucessão de fotos e interpreta a imagem como se fosse um filme contínuo. Dessa forma, um filme em stop motion é, basicamente, uma projeção de incontáveis fotos.
O número de frames usado para criar um filme depende bastante do efeito que o diretor deseja obter no resultado final. De maneira geral, os filmes são feitos com 24 quadros por segundo, mas é possível fazer sequências de stop motion a partir de 16 frames por segundo se o filme for mudo.
Dentre as variações da técnica, a mais conhecida é a clay motion, que é a stop motion feita a partir de bonecos de massinha ou resinas maleáveis. Exemplos dessa técnica são Wallace & Grommit em A Batalha dos Vegetais (Wallace & Gromit: The Curse of the Were-Rabbit. EUA. 2005), A Noiva Cadáver (Corpse Bride. EUA. 2005.) e A Fuga das Galinhas (Chicken Run. Reino Unido. 2000.).
A técnica não é só usada como ferramenta principal para se fazer um filme, mas também como um recurso auxiliar à produção cinematográfica, tanto em animações quanto em filmes live-action – aqueles com a presença de atores. O longa O Fantástico Senhor Raposo (Fantastic Mr. Fox. EUA. 2009.), por exemplo, usa majoritariamente a stop motion, mas combinada a outras formas de animação. Já os episódios IV, V e VI de Star Wars (Star Wars Episode IV: A New Hope, 1977; Star Wars Episode V: The Empire Strikes Back, 1980; Star Wars Episode VI: Return of the Jedi. EUA. 1983.) também utilizam a técnica, porém como um artifício para a montagem dos efeitos especiais, inserindo-a apenas em alguns momentos dos filmes, na criação das batalhas.
A técnica e o mágico
Historicamente, o grande precursor do stop motion foi o ilusionista e cineasta francês Georges Méliès. Através da técnica, ele conseguia produzir efeitos especiais em seus filmes, inovadores para a época. No clássico Viagem à Lua (Le Voyage dans la lune. França. 1902.), a memorável cena do foguete aterrissando nos olhos da lua é totalmente feita em stop motion.
Méliès é tão relevante para a história do cinema que, mais de um século depois, Martin Scorsese faz uma homenagem ao francês e a seu stop motion em A Invenção de Hugo Cabret (Hugo. EUA. 2011). De forma ficcional, Scorsese recria um estúdio de gravação de Méliès, retratando o processo de criação do cineasta e a montagem de uma cena de stop motion, embriões do que hoje são os efeitos especiais.
Os estúdios de Méliès também foram reproduzidos no Museu da Imagem e do Som de São Paulo, cujo tema da exposição principal é a obra do mágico cineasta. Nessas instalações, o público pode ter contato com a stop motion, criando pequenos filmes em que a técnica é empregada na criação dos efeitos especiais, assim como Méliès costumava fazer.
Um longa brasileiro
Apesar de a técnica ser bastante antiga e difundida no cinema internacional, o primeiro longa-metragem nacional feito com stop motion ainda está em processo de finalização. Minhocas (idem. Brasil. Previsto para 2013.), feito pela produtora Animaking, é o pioneiro em usar a técnica não só no Brasil, mas também em toda a América Latina. A diretora financeira da produtora responsável pelo filme, Joana Lúcia Bocchini, explica que os orçamentos para a produção de animações hollywoodianas são muito maiores do que a verba que se consegue no Brasil. “Fizemos um filme com 10 milhões de reais, mas há animações feitas com 50 milhões de dólares”, diz Joana.
Somada ao orçamento mais curto, mais uma dificuldade em se fazer um filme com stop motion no Brasil é o custo da técnica. “São necessárias 24 fotos para apenas 1 segundo de filmagem, o que acaba tornando um processo caro para a produção de um filme de 72 minutos”, diz a diretora. Joana ainda ressalta que foi trabalhoso encontrar animadores que dominassem a stop motion. Segundo ela, alguns animadores são estrangeiros, mas a maioria é brasileira, assim como grande parte da equipe.
Mesmo com todas as dificuldades, Joana diz que foi possível driblar esses obstáculos para fazer Minhocas, pois a equipe envolvida buscou alternativas que acabaram por baratear o custo da produção. A produtora está bastante otimista com relação à estreia de seu primeiro longa, que já tem uma continuação em andamento. A previsão de lançamento de Minhocas é para o segundo semestre de 2013.
Fotos: Divulgação
Por Camila Berto Tescarollo
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