Começou nesta quarta-feira (10) a 16ª Festa do Livro da USP. Realizado anualmente, este ano o evento acontece em três prédios da Escola Politécnica, na Cidade Universitária, durante os dias 10, 11 e 12, das 9h às 21h.
No total são 145 editoras e todos os livros dos catálogos são vendidos com pelo menos 50% de desconto – um requisito da organização. Além da promoção, outros números da Festa impressionam. Segundo a Edusp, responsável pela organização, na edição de 2013 foram vendidos cerca de 260 mil exemplares e houve uma média de 40 mil pessoas por dia, totalizando 120 mil. Para este ano a expectativa é de crescimento: entre 130 e 140 mil visitantes. Ainda de acordo com os organizadores, nesta edição foram emitidas 670 credenciais para quem está trabalhando no evento. Estimativas para o total de vendas de 2014 e dados da movimentação financeira das últimas edições não foram divulgados.
Apesar do número maiúsculo de editoras participantes, muitas não conseguem montar os seus estandes. Todos os anos há uma lista de espera. Algumas editoras já tradicionais e parceiras da Edusp têm a participação facilitada, mas outras acabam ficando de fora. O principal empecilho do crescimento é o espaço. Neste ano, por exemplo, os organizadores dependeram da disponibilidade dos prédios da Poli. A parte que eles conseguiram opera em sua capacidade máxima para comportar o evento.
Lucratividade não é tudo
A Festa não possui fins lucrativos. A Edusp cobra das demais editoras apenas um valor para cobrir os gastos com segurança, limpeza, banners, propaganda, e, assim, não obter prejuízos. Para Marcos Cipriano, da Eduem (Editora da Universidade Estadual de Maringá), que frequenta a Festa pelo sétimo ano, o intuito principal é a divulgação. “Como nós somos uma editora do Estado, nosso foco não é o lucro. Nosso foco é divulgar trabalhos dos professores, trabalhos científicos”, diz. “Não almejamos a lucratividade, temos subsídio do Estado”, completa. Cipriano reclama ainda do critério para o espaço destinado a cada editora. “O estoque é bem limitado porque o espaço que a gente tem é restrito. Faz sete anos que a gente vem, são duas bancadas e o nosso acervo aumenta”. A organização diz que o número de bancadas depende da quantidade de títulos no catálogo da editora. Assim, as grandes como a Cosac Naify e a Companhia das Letras garantem um estande maior.
Maria do Socorro, da Editora Pulo do Gato, diz que consegue obter lucro, mas tem como meta também a divulgação. “Nosso objetivo é vender 100%, trouxemos 3.000 exemplares. Esse é nosso primeiro ano aqui na Festa. A editora existe há três anos, mas já é muito requisitada no mercado e esse ano conseguimos entrar”, diz. Contudo, como costuma acontecer com quem trabalha com literatura infantojuvenil, ela não perde de vista o fomento ao hábito da leitura. “O desconto representa uma grande divulgação da editora e a possibilidade de fazer com que as pessoas leiam mais, porque reclamam muito de preço de livro aqui no Brasil e hoje eu já vejo muito leitor, ainda mais com esse preço competitivo”. Mesmo a Festa sendo dentro de uma universidade, Maria diz que a demanda pelos livros infantojuvenis é alta.
Há 12 anos na Festa, Rodrigo Silva, da Editora 7Letras, diz que a expectativa é de aumento nas vendas, o que já foi percebido no primeiro dia. “Trouxemos 10 mil livros, mais do que trouxemos no ano passado. Mesmo com o desconto, conseguimos ter lucro sobre as vendas”.
Circuito alternativo
Se engana quem pensa que a Festa do Livro vive apenas das editorias. Tradicionalmente há a instalação de barracas em frente aos locais de venda de livros, onde os comerciantes expõem itens como camisas, bijuterias, acessórios e lanches. A diferença é que este ano houve uma regulamentação dos vendedores. Um cadastro prévio no site da Edusp foi exigido deles, com o limite de 40 vagas.
Dono de uma loja de camisetas, Eduardo Bizerra costuma montar sua barraca própria em eventos diversos. Na Festa, é a sua terceira participação. Questionado sobre o benefício do cadastro, Bizerra disse que “na verdade, não deu tão certo. Eles queriam colocar o pessoal lá longe, no estacionamento, mas a gente acabou vindo pra cá”. Ele vende as camisas a um preço mais em conta, como queima de estoque, e comenta que as expectativas para este ano são boas. “A gente faz um preço mais barato e tal. Hoje foi meio fraco porque a chuva atrapalhou bastante”, diz.
Chuva que também foi alvo de reclamações de Charlot Rego, artista de rua que também montou a sua barraca em frente ao prédio da Engenharia Civil. As vendas do primeiro dia foram fracas, mas a boa perspectiva se mantém. “É um dos eventos ‘tops’ do ano e é muito gostoso trabalhar aqui, não só pela parte comercial, como também pelo ambiente, que me ajuda muito no meu trabalho. Eu compro muita coisa aqui que ajuda na minha estamparia, por exemplo”, conta. Ele próprio costuma adquirir livros no evento, sobretudo os de arte. Com a experiência de quem acompanha sua oitava edição, Charlot observa a expansão da Festa. “Cresceu muito, é um evento que agora mobiliza as pessoas da cidade mesmo, já extrapolou a USP”, acrescenta.
Olhar do visitante
Mas de nada valem os vendedores sem o componente mais importante do evento: o visitante. O movimento é grande e os balcões das maiores editoras são disputados. Luiz Hideki, estudante de Editoração da ECA (Escola de Comunicações e Artes), conta que já comprou cerca de 20 livros. “Eu estou na USP desde 2008, me formei em História na FFLCH [Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas], e todo ano eu espero e venho comprar aqui os livros do ano inteiro”, diz. Já Ana Mendonça, que faz um curso de extensão na USP, está frequentando a Festa pela terceira vez, já comprou quatro livros e planeja adquirir mais dois. Ela diz não ter conferido os catálogos. “Olhei as editoras apenas”.
Por Leonardo Milano e Matheus Pimentel