Uma bela jovem. Um belo rapaz. Os dois trabalham juntos. O jovem se interessa pela nova colega de trabalho. Depois de insistir, consegue levar ela pra sair. Os dois saem, tomam sorvete, rola um clima e eles se beijam. Com certeza você já viu essa história em algum lugar, mas se por acaso não viu, vai ver em Michelle e Obama (Southside with you, 2016). A história do casal em nada se diferencia da história de muitos outros, não só das telas do cinema, como também da vida real. Entretanto, Michelle e Obama não deixa de ser um filme interessante.
A história se passa inteiramente no dia do primeiro encontro de Michelle LaVaughn Robinson e Barack Hussein Obama. Embora as situações vividas pelo futuro casal nessas 24 horas sejam bastante triviais, elas abrem caminho para que o espectador não só conheça um pouco mais da vida de cada um, mas também reflita sobre assuntos que vão muito além da trama. E são nesses momentos que o romance semi-clichê sai do plano da superficialidade e torna-se algo realmente interessante.
A questão racial é tangenciada em vários momentos da obra, como quando Obama leva Michelle para uma exposição de Paul Goodnight, artista que retratava em seus quadros a cultura negra em suas mais diversas formas. Enquanto circulam entre as obras, os dois vão conversando sobre a história do artista e da luta do povo negro. Em outra situação, Obama conta sobre suas experiências amorosas passadas e ressalta como foi embaraçoso seu último relacionamento com uma mulher branca e como não se sentia confortável na família da garota.
Quando começa a falar um pouco mais sobre si, Michelle confessa não se sentir totalmente confortável aceitando o convite de Obama pois temia ser julgada no trabalho por estar saindo com um dos funcionários, já que ela era a única mulher da empresa. Ela ainda desabafa o quão difícil é obter o mínimo de reconhecimento e respeito na carreira por ser mulher e negra, tendo que ser sempre impecável em tudo que faz. Nesse momento, Michelle expõe o que a maioria das mulheres negras vive diariamente, numa sociedade onde o racismo se faz presente em todos seus setores.
A breve história de vida do pai de Barack é bastante comovente, assim como a do de Michelle, que mesmo tendo que conviver com a esclerose, continua trabalhando e seguindo em frente. A história de Barack chama a atenção pelos diversos países por quais ele já viveu. Outro momento interessante é quando ele leva Michelle para a comunidade onde mora sua família e amigos e lá participa de uma assembleia com os moradores. Nesse momento, fica bastante evidente a habilidade retórica do futuro presidente dos EUA.
Parker Sawyers e Tika Sumpter conseguem convencer e fazem uma atuação quase impecável. Fotografia e figurino também não deixam a desejar, mas os aplausos mesmo vão pra trilha sonora, que vai desde Martha Reeves & The Vandellas à Janet Jackson. Mesmo que em poucos momentos, Michelle e Obama consegue fugir do óbvio e, apesar de ser meio água com açúcar, não deixa de ser um filme interessante.
Confira o trailer:
por Igor Soares
digorsoares@gmail.com