por Joana Darc Leal
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Filmes dramáticos tratam por natureza de temas sensíveis, por exemplo, a morte, conflitos familiares, problemas relacionados ao consumo de álcool e drogas, entre tantos outros. Contudo há um tema que carrega em si profunda sensibilidade e que ainda é pouco abordado no cinema, a transexualidade. É esse assunto que é tratado como objeto principal no filme Transamérica.
Transexuais são pessoas que não se identificam com o gênero que são registradas, por exemplo, homens que desde a infância não aceitam sua figura masculina, e conforme crescem tentam modificá-la ao máximo, de forma a aproximarem sua imagem à de uma mulher. É esse o drama pessoal vivido pelo protagonista do filme.
O longa é uma produção norte-americana e independente do ano de 2005, que tem roteiro e direção de Duncan Tucker. Sobre a história: Bree (Felicity Huffman) é uma transexual de meia idade que está prestes a realizar seu maior sonho, uma cirurgia de mudança de sexo. Todas as manhãs Bree arruma-se de maneira a se parecer com uma mulher, usa roupas rosas, saltos altos e seus gestos e modos também são extremamente delicados. Mas faltando apenas uma semana para a operação recebe uma ligação e descobre que tem um filho chamado Toby (Kevin Zegers), fruto de um relacionamento da época da faculdade, e que ele precisa de sua ajuda. Bree sai então de Los Angeles e vai a New York para encontrá-lo.
Após o encontro e apenas alguns dias de convívio, Bree descobre em Toby um garoto sensível, porém com problemas ligados ao uso de drogas e que encontrou na prostituição a única saída para sobreviver. Ainda sem saber que Bree é seu pai e transexual, Toby e ela fazem uma viagem pelos Estados Unidos, indo de New York a Los Angeles, pois Bree precisa retornar para casa para fazer sua tão almejada operação e se tornar de fato mulher enquanto Toby quer realizar seu sonho de atuar em grandes filmes.
Antes de seguir viagem, Bree passa pela cidade onde Toby viveu durante sua infância e parte da adolescência, a fim de tentar reatar a relação entre ele e seu padrasto, porém leva um choque ao saber que a mãe de Toby havia se suicidado, e que Toby tinha uma forte razão para ter fugido de casa, já desde a infância era constantemente violentado por seu padrasto. Bree decide então que o melhor a fazer é levar Toby com ela para Los Angeles, assim como ele desejava.
No decorrer da viagem os conflitos pessoais vividos por Bree vêm à tona. Sua relação de negação com o próprio corpo, devido o incômodo causado por seu órgão sexual que lhe frustra, sua difícil relação com seus pais que não lhe viam há anos, e que tomam um susto ao verem seu filho com uma figura de mulher; dificuldades para iniciar relacionamentos amorosos; e outra série de problemas vividos por transexuais em decorrência do preconceito social.
Ao passar pela cidade dos pais de Bree, Toby já sabia que ela era transexual, porém apenas nesse momento ele descobre que ela é seu pai. Assim, ele se sente novamente enganado e resolve fugir. Entre buscas sem sucesso por Toby, Bree finalmente realiza sua operação, concluída com sucesso. Neste momento, uma das cenas de maior introspecção mostra Bree em uma banheira tocando seu sexo. Nesse momento ela mostra-se satisfeita consigo própria e com seu corpo.
O filme se encerra com o reencontro de Bree e Toby, na casa dela em Los Angeles. Além da clara atenção que deve ser dada a Bree, também merece destaque o personagem vivido por Kevin Zegers, pois Toby não é um personagem secundário, e sim um garoto com grande carga psicológica e que age de maneira incorreta devido a problemas que lhe acompanham desde a infância.
Além de todas as questões retratadas no filme há ainda uma série de outras dificuldades que cercam a vida dos transexuais. A maioria se sustenta nas diferenças entre orientação sexual e identificação sexual, e a dificuldade em ser aceito na sociedade com a identificação de sua escolha.
No Brasil, por exemplo, a mudança de nome em cartório é alcançada apenas em casos isolados, e geralmente após a cirurgia de mudança de sexo. Uma ideia que traria mais conforto aos transexuais seria uma lei como a que vigora na Austrália, em que não é obrigatório a definição do sexo no ato do registro, podendo ser definido depois.
O filme trata o assunto com um enredo profundo e dramático, que envolve outas histórias e situações, despertando uma outra visão sobre o tema e esclarecendo dúvidas acerca dessa tão sensível e pouco conhecida questão.