[J. Edgar] – Spoilers!
Após uma manhã corrida, cheguei à cabine de J. Edgar um pouco mais tarde do que imaginava, perdi alguns minutos iniciais, os pães de queijo e o cafezinho. Talvez este seja um dos motivos por ter achado o filme um pouco maçante em alguns momentos ou até longo demais. Mas com certeza é um ótimo filme.
Dirigido pelo brilhante Clint Eastwood (Oscar por Menina de Ouro, 2004) e com um belo roteiro de Dustin Lance Black (Oscar de melhor roteiro em 2009 por Milk), trata-se de uma cinebiografia de J. Edgar Hoover (Leonardo DiCaprio), que viria a se tornar um dos homens mais importantes e poderosos dos EU. Além disso, é um dos responsáveis por tornar o FBI o que ele é hoje.
Dividido em dois momentos de sua vida, o filme é mais focado na vida privada de Hoover. Em um deles, mostra sua “ascensão” e os mecanismos pelos quais se utilizou para chegar e manter-se no cargo de diretor do FBI por 48 anos (englobando oito mandatos presidenciais e três guerras). Já no segundo momento, temos um Hoover mais velho, sem a vitalidade de sua juventude, com alguns de seus valores um pouco corrompidos e dobrando sua teimosia.
Workaholic, fissurado pela ameaça comunista, extremamente devoto à mãe e muito reservado em sua vida privada e pública, J. Edgar era um homem-de-muitíssimo-poucos-amigos, o que é bastante explorado no filme. A narrativa está centrada na relação de Edgar com outros dois personagens: Helen Gandy (Naomi Watts), secretária que sempre se manteve fiel a ele e sabia de todos os seus segredos, e seu assistente Clyde Tolson (Armie Harmmer), com quem manteve uma relação amorosa, sem nunca ter admitido, no entanto, sua homossexualidade. (Vale ressaltar que aqui o tema da homossexualidade é mostrado de maneira muito diferente da retratada em Milk).
Na trama, Hoover se mostra excessivamente fiel ao seu país. Por ele, estaria disposto a lutar de todas as maneiras. Mas ao mesmo tempo em que era tido como herói, também se utilizou do seu poder para agir de maneira ilegal, colocando grampos telefônicos e mantendo um arquivo secreto com informações cabeludas que, se expostas, acabariam com a reputação daqueles que o chantageassem. Foi assim que manteve a fama de intocável.
Também estão no elenco Josh Lucas, como o lendário aviador Charles Lindbergh, cujo rapto do filho mudou a imagem pública do FBI, e Judi Dench interpretando a mãe superprotetora de Hoover, a qual ele era extremamente devoto.
O filme traz muitos traços do cinema noir, como a moral ambígua do protagonista, que é expressa tanto por seu senso de justiça contra seus atos imorais e egoístas, quanto por sua homossexualidade e a tentativa de lutar contra ela (já que, na época, isso era algo inconcebível a um homem de sua posição). Esse caráter ambíguo também é expresso através do uso recorrente do espelho – símbolo da duplicidade no cinema. Outro aspecto noir do filme é a própria narração confessional de Hoover, que aparece principalmente quando ele (já mais velho) relata seus feitos aos escrivães que farão de suas palavras um livro. A confissão, entretanto, nem sempre é verdadeira, como irá se mostrar ao final do filme. A própria fotografia e título do filme, com o preto e branco em contraste também remetem ao estilo.
Além disso, chama a atenção no filme a maquiagem, muito bem feita, quando os personagens estão mais velhos. Por um momento me vi dentro do filme O curioso caso de Benjamin Button. O filme também tem ótimos diálogos, com grandes frases de efeito.
Embora exista algo que me incomode em DiCaprio (e eu não saiba bem o que é), não posso negar que ele é um bom ator. Entretanto, apesar de sua boa atuação, em muitos momentos enxergava nele outros papeis que já interpretou. Já Armie Hammer (que custei a perceber que era a mesma pessoa que interpreou os gêmeos em A Rede Social) está magnífico em seu papel. Para mim, sua atuação desbancou a de DiCaprio. O jovem realmente está provando como tem talento.
É um ótimo filme. Achei engraçado quando percebi que algumas pessoas também acharam o filme um pouco maçante mas ainda assim disseram ser um bom filme. Não sei se o acham bom devido à boa e grande fama de Eastwood. Ou se acham maçante porque foge à maneira habitual do diretor. Só sei que ao meu ver é um grande filme.
Por Jéssica Stuque
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