“Biutiful” (Biutiful) ainda não estreou nos cinemas, mas já é um filme premiado. No Festival de Cannes, Javier Bardem abocanhou o prêmio de melhor ator. E pela frente, esse filme promete conquistar muitas outras premiações. Em uma coprodução espanhola e mexicana, o filme é dirigido pelo renomado Alejandro González Iñárritu (“Amores Perros”, “21 gramas”, “Babel”), responsável por tornar a película um mergulho na alma do personagem central Uxbal.
São quase 2h30 de filme. Acredite, no momento em que a projeção começa, é uma viagem sem volta, na qual não se percebe o tempo passar. Em Barcelona, Uxbal é um homem que sobrevive principalmente como agente de imigrantes ilegais. Nos submundos da metrópole européia, Iñárritu faz questão de adentrar no cenário pérfido e desumano da exploração da mão-de-obra estrangeira. Bardem, que já viveu nessa mesma cidade um charmoso artista no filme “Vicky Cristina Barcelona”, de Woody Allen, tem em “Biutiful” uma visão totalmente oposta (e desconhecida) do local.
Apesar de integrado à rede de corrupção entre policiais e os empregadores exploradores, Uxbal não pode ser visto como um mau caráter. Ao mesmo tempo em que explora, também é capaz de apanhar e ser preso por policiais para proteger a segurança de seus agenciados. O homem íntegro também aparece em sua relação como pai dedicado. Sua ex-mulher, Malambra (Maricel Álvarez), sofre com um distúrbio de bipolaridade, o que faz com que o casal viva momentos de ódio e amor. Com a guarda dos dois filhos, o pai vive uma busca infinita para garantir às crianças um futuro melhor. Mas com as pressões da rotina diária, às vezes perde a paciência com eles. E é isso que torna Uxbal um de nós. Sua imperfeição se aproxima das pessoas reais. Quantos e quantos “Uxbales” não existem pelo mundo?
A morte é uma questão que acompanha o filme durante toda a história. O teor dramático se amplia com a descoberta de um câncer de próstata que tomou conta de seu corpo e reduz sua sobrevivência a apenas mais dois meses de vida. Uxbal sempre esteve próximo da morte, mas sempre da dos outros. Dotado com o poder de falar com os mortos, o personagem ajuda as famílias que sentem a dor da perda, aproveitando a “graça divina” como uma forma de ganhar uns trocados.
Não existe maniqueísmo no filme. O que existe é um híbrido de bem e mal que forma a personalidade de todos na história. Iñárritu consegue fugir bravamente do estereótipo de herói benfeitor ao construir seu protagonista imperfeito e com contradições. Entre a luz e as trevas, é assim que Uxbal conduz sua vida. O filme tem uma carga de conflitos muito grande. As emoções depositadas em cada cena afetam os expectadores de tal forma que não é difícil prever que você também sairá da sala de projeção com uma dorzinha no peito e muitos questionamentos na mente.
Por Carolina Vellei