Jornalismo Júnior

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Um novo ambiente para ser crítica: entrevista com Tatiana Feltrin

Créditos da imagem de capa: Folha de S. Paulo Desde sua criação em 2005, o YouTube se apresentou como uma potencial plataforma de influenciação pública em diversas áreas. A princípio, os primeiros vídeos, talvez, não fossem tão pretensiosos assim. Porém, a medida em que a tecnologia audiovisual foi evoluindo, possibilitando o acesso do público em …

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Créditos da imagem de capa: Folha de S. Paulo

Desde sua criação em 2005, o YouTube se apresentou como uma potencial plataforma de influenciação pública em diversas áreas. A princípio, os primeiros vídeos, talvez, não fossem tão pretensiosos assim. Porém, a medida em que a tecnologia audiovisual foi evoluindo, possibilitando o acesso do público em geral a uma câmera, o número de vídeos aumentou, bem como sua qualidade e sua capacidade de atuação. Dessa maneira, a Internet agregou para si a importância de formadora de opinião, título anteriormente associado apenas às tradicionais mídias de comunicação.

A crítica acompanhou essas mudanças. Hoje em dia, percebe-se um aumento de pessoas que utilizam o YouTube como ferramenta para compartilhar suas opiniões e, paralelamente, um aumento significativo daqueles que acessam esses canais para ouvir o que eles têm para dizer. Cinema, moda, música, livros… Livros?

Aparentemente, há uma incoerência em usar a Internet para a leitura, já que o tempo gasto com essa atividade foi reduzido significativamente com a utilização frequente dos aparelhos eletrônicos. Mesmo assim, o número de booktubers, ou seja, pessoas que falam sobre livros nesse ambiente, aumentou nos últimos anos no Brasil. E é nessa categoria que Tatiana Feltrin, que participará do evento “Jornalismo para quê?” no dia 26 de agosto, se encaixa. Formada em Letras pela UMESP e trabalhando como professora de inglês, ela também é dona do canal Tiny Little Things, o primeiro dedicado exclusivamente aos livros no país, tendo, hoje em dia, um número de inscritos que ultrapassa os 250 mil. Em entrevista à Jornalismo Júnior, ela fala sobre seu papel como influenciadora e opina que a crítica é uma forma de seleção que auxilia no acesso a múltiplos conteúdos.

Sala 33 – O seu canal teve início em 2007, sendo um pioneiro na área de crítica literária no YouTube. Como surgiu a ideia de fazer um canal unicamente dedicado à literatura?

Tatiana – Eu não chamaria o que eu faço no YouTube de “crítica literária”. A ideia de falar sobre livros em vídeos veio da vontade de compartilhar minhas impressões sobre as leituras que eu fazia sem a necessidade de elaborar um texto que viraria postagens no blog. Percebi que se comentasse minhas leituras em vídeo, a resposta seria imediata, enquanto posts que muitas vezes levavam horas para serem elaborados, muitas vezes não recebiam nenhum comentário. E falar de literatura de um jeito informal acabou chamando bastante a atenção de leitores de toda parte – hoje em dia, somos uma comunidade grande de pessoas compartilhando nossas leituras no YouTube.

Sala 33 – Como você enxerga o papel dos críticos na formação da opinião pública?

Tatiana – Acredito que o crítico tem uma função quase que de “triagem”, são muitos os livros publicados, impossível de se acompanhar todos os lançamentos. Quando encontramos um crítico cujo gosto literário coincide com o nosso, o acesso aos livros que nos interessam é facilitado.

Sala 33 – Nos últimos anos, o número de canais literários vem crescendo. Você vê esse crescimento de maneira positiva?

Tatiana – Sim, claro! Quanto mais pessoas compartilhando suas leituras online, melhor e maior a chance de alcançarmos novos leitores.

Sala 33 – Em um de seus vídeos, você discute sobre quem é que pode realmente opinar sobre livros. Você considera que, com a Internet, houve uma ampliação do pensamento crítico ou as pessoas apenas dão palpites, às vezes, reproduzindo um discurso que está em alta no momento?

Tatiana – Penso na internet como um território democrático. Tem espaço para todos, todo mundo pode compartilhar suas opiniões. Quanto a reprodução de discursos em alta, penso que o acesso fácil a eles já é meio caminho andado para a formação de opiniões próprias e embasadas.

Sala 33 – Você acredita que, por meio da Internet, o número de leitores no Brasil aumentou? E qual seria o papel dos booktubers nesse possível aumento?

Tatiana – Sim, vejo isso pela quantidade de emails e mensagens em diversos vídeos meus que recebo, de pessoas me contando como se sentiram motivadas a ler, ou a voltar a ler (muita gente perde o gosto pela leitura ao longo do caminho por novas prioridades, falta de tempo, etc) vendo os vídeos do canal. Vejo meu trabalho na Internet como o de uma formiguinha. Se eu conseguir fazer pelo menos uma pessoa adquirir ou retomar o hábito de leitura, já me sinto satisfeita!

Sala 33 – O seu canal é bastante diversificado. Você considera essa diversidade como a causa de possuir tantos inscritos?

Tatiana – Em parte, sim; percebo um público bem definido para os vídeos em que comento sobre quadrinhos ou mesmo para clássicos da literatura universal. Mas vejo também um público engajado em boa parte do conteúdo que coloco no canal. A diversidade de leituras acaba atraindo, principalmente, pessoas que querem sair de sua zona de conforto, e boa parte do pessoal que acompanha o canal acaba ficando por afinidade de gostos mesmo.

Sala 33 – As maiores visualizações de seu canal se direcionam aos vídeos em que você resenha livros de vestibulares. Como surgiu a ideia de fazer esses vídeos? Você acredita que essas resenhas tiveram o poder de mudar a opinião dos estudantes em relação a obras obrigatórias?

Tatiana – Eu comecei a fazer os vídeos sobre as leituras de vestibular depois de ter conversado com um jornalista sobre o meu canal e, não sei se ele se confundiu, mas acabou afirmando que eu faria esses vídeos. Acabei gostando da ideia e incorporei ao conteúdo que já vinha publicando. No fim das contas, foi muito bom, pois acabo falando bastante de literatura brasileira, algo que o pessoal que acompanha o TLT sempre me cobrava, e acabo ajudando o pessoal que precisa fazer essas leituras obrigatórias a perderem a má vontade de lê-los!

Sala 33 – O seu público é, prioritariamente, jovem. Como você seleciona os livros de acordo com essa faixa etária, já que, além de livros populares, o seu canal também apresenta grandes clássicos da literatura mundial?

Tatiana – Eu não seleciono os livros que leio de acordo com a faixa etária do pessoal que acompanha o canal. E isso é excelente, pois os jovens que seguem o TLT estão ali em busca de um “algo mais”, ou por já terem perdido o interesse nos livros YA (Jovem Adulto), ou mesmo por realmente se interessarem pelo o que mais eles poderiam acrescentar as suas pilhas de leitura.

Sala 33 – Quais seriam suas sugestões para que a quantidade de livros lidos pelos jovens aumentem?

Tatiana – Minha sugestão seria fazer parte de uma comunidade de leitura. Não precisa ser através de canais no youtube, pode ser fazendo parte de redes sociais de leitores como o Skoob ou Goodreads. Apesar de que compartilhar leituras em vídeos é muito bom, é um jeito muito interativo de trocar ideias sobre livros com pessoas que também os leram, ou tem vontade de lê-los. Além disso, equilibrar o tempo livre entre redes sociais e leitura e cronometrar o tempo que se passa em redes sociais, ajudaria a perceber que poderia estar-se lendo muito mais. Por fim, lembraria aos jovens que quantidade não é sinônimo de qualidade: bons livros podem levar meses para serem lidos, e a qualidade de leituras feitas virá com o tempo. O importante é experimentar de tudo e irmos aos poucos formando nossa “identidade literária”.

Por Bruna Diseró
bubsoresid@usp.br

1 comentário em “Um novo ambiente para ser crítica: entrevista com Tatiana Feltrin”

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