Uma aventura LEGO (The LEGO Movie, 2014) é inovador, traz ótimas referências do mundo pop, como Gandalf (O Senhor Dos Anéis, 2001/2003), e consegue divertir crianças e adultos, não é à toa que se tornou um grande sucesso em seu lançamento. No entanto, a sua continuação não é tão incrível quanto o primeiro.
No segundo filme as peças LEGO tem um acabamento bem inferior, parecendo menos reais e mais computadorizadas. O longa é cheio de piadas que não fazem rir, manipulações e relações tóxicas, que não deveriam ser apresentados dessa forma à crianças.
A história de Uma aventura LEGO 2 (The LEGO Movie 2: The Second Part, 2019) se passa cinco anos depois dos acontecimentos do primeiro filme e deixa confuso quem não acompanhou toda a história. As sequências de acontecimentos são rápidas e não te deixam tempo para absorver o que está acontecendo. Muitas cenas, como a que Emmet (Chris Pratt) tem uma visão, fazem referência à ocorridos passados e não há nenhum tipo de explicação para que novos espectadores possam entender todo o enredo. Isso prejudica a compreensão do filme e frustra mais ainda o espectador que não conhece esse universo.
O filme mantém alusões à cultura pop, Jurassic Park; Liga da Justiça; Harry Potter, e ganha muito com isso. Mas as piadas que costumavam divertir a todos os públicos se tornam toscas e falham mais do que funcionam. Além disso, as peças LEGO presentes são, em sua maioria, de LEGO duplo, mais simples e menos parecidas com as reais. As músicas também são massantes e colocadas na íntegra, tornando penoso o trabalho de assistir ao filme. E, diferente da música tema da história, nem tudo é tão incrível.
Outro grande problema do filme é a forma como aborda os mais variados assuntos, principalmente, ao se considerar que o público alvo são crianças. Os personagens são capazes de fazer planos malucos e incabíveis para conseguir o que querem, manipulando emoções de outras pessoas, sequestrando personagens e forçando-os a realizar tarefas indesejadas. Isso é comum em grande parte dos filmes, mas as pessoas com essas atitudes costumam ser os vilões, o que não é o caso do longa. Se descobre que na verdade essas peças horríveis são aquelas que tentam salvar o mundo. É saudável nossas crianças assistirem a algo que prega coisas horríveis desde que suas intenções sejam boas? Particularmente, não acredito que seja.
O relacionamento de Emmet com os outros personagens também se mostra perigoso. Ele está sempre sendo manipulado e as pessoas ao seu redor o desmotivam, colocando ele para baixo e como inferior àqueles que se tornaram durões. Sua amada, Wyldstyle (Elisabeth Banks), é a mais tóxica. Ela passa o filme quase todo criticando o protagonista e tentando mudá-lo de todas as formas possíveis, e quando consegue o feito se arrepende e resolve que gostava dele do jeito como era. O filme até tenta empoderá-la, e não há dúvidas de que seus feitos e construções são incríveis, mas no fim ela acaba sendo apenas desagradável, mentindo sobre seu passado, manipulando, reclamando e magoando a quem faria de tudo por ela.
Crianças estão expostas a muitas coisas que não deveriam, esse filme com certeza é uma delas. Não é natural colocar amigos seus para baixo, em especial, quando eles estão apenas sendo felizes. Muito menos tentar mudar alguém porque você não gosta do jeito da pessoa. O longa até tenta concertar esses erros e mostrar um final feliz, mas nem sempre o fim vale a pena quando todo o meio é problemático.
Uma aventura LEGO 2 é um desastre, tanto pela sua qualidade inferior ao padrão do primeiro filme quanto pela falta de senso na hora de escolher e desenvolver o enredo.
O longa estreia no dia 7 de fevereiro, assista o trailer aqui:
por Thaislane Xavier
thaislanexavier@usp.br