Ricky Hiraoka
Nem o mais talentoso e sádico dos escritores poderia criar uma história tão cruel e avassaladora como a do filme A Troca (Changelling), que narra a saga real de Christine Collins (Angelina Jolie) em busca de Walter, seu filho desaparecido. Quando dá queixa do sumiço de seu rebento, Christine passa a conhecer o mundo de corrupção e ganância que caracterizava o ineficiente departamento policial de Los Angeles na década de 1930. Christine é submetida a toda sorte de humilhações, chegando a ser obrigada a aceitar uma criança que, apesar das evidências apontarem o contrário, a polícia afirma ser seu filho. Além de ter que assumir a criação de um garoto desconhecido, Christine enfrentará as armadilhas do detetive Jones (Jeffrey Donovan) para provar que ela sofre de problemas mentais. Mas o pior golpe que Christine sofrerá diz respeito ao paradeiro de Walter.
A Troca é dirigida pelo veterano Clint Eastwood que, além de promover uma bela reconstituição de época, consegue conduzir, com maestria, o elenco encabeçado por Angelina Jolie. A esposa de Brad Pitt deixa de lado sua sensualidade, transformando-se numa mãe dedicada e sofredora. O corpo magérrimo (que muitos apontam como fruto de anorexia) contribui para a caracterização da personagem. Sua performance varia entre o histérico e o sensato e em momento algo soa exagerada ou caricata. Jolie transpõe para as telas não só a dor de uma mãe como também o tormento que uma dúvida pode trazer. É nas cenas em que se defronta com a incerteza em relação ao destino de seu filho que ela mostra a grande atriz que é. Esperança, raiva, indignação explodem através dos olhos e dos gestos de Jolie que, ao que tudo indica, é séria candidata ao Oscar.
A atriz, que foi indicada ao Globo de Ouro pelo papel, faz campanha para conseguir a indicação ao prêmio mais importante do cinema mundial. Mas o caminho não será fácil. Jolie terá que deixar para trás Anne Hathaway, que está sendo elogiadíssima por seu desempenho em O Casamento de Rachel e é a favorita para levar a estatueta. É esperar para ver se Jolie consegue promover “a troca” da opinião dos membros da Academia.