No ano de 1988, a carioca Claudia Ferreira – convidada da VII Semana de Fotojornalismo – trabalhava como freelancer do jornal Folha de S. Paulo no Rio de Janeiro, quando recebeu um convite: fazer um ensaio fotográfico de um dia na vida de uma professora. Essa simples proposta, feita pelo Sindicato dos Professores do RJ, mudou sua vida.
Claudia se aproximou do movimento feminista sobre o qual adquiriu uma nova visão. A quebra do estereótipo da feminista branca de classe média foi o ponto de partida para a construção de uma nova ideia sobre o tema. “As feministas estão em todos os lugares, em todas as classes sociais e gerações. São em primeiro lugar pessoas com as suas individualidades que se encontram em alguns momentos em torno de causas comuns”, conta a fotógrafa. Ela começou também a ter contato com mulheres que participavam de manifestações, o grande tema de seu trabalho (e da sua vida) nos últimos 25 anos. “Essa minha aproximação do movimento como feminista, me levou a participar de vários encontros e eventos onde as feministas estavam presentes. Assim fui construindo um acervo que se confunde com a minha história de vida”, afirma Claudia.
Durante o período em que as manifestações sociais não eram interesse da grande mídia, o trabalho da fotógrafa, então, aparecia como um elemento essencial na preservação da memória dessas lutas, “eu estava nos espaços como militante fotografando, em um momento em que as pessoas não tinham câmeras digitais e celulares com essa facilidade que se tem hoje”.
Atualmente, no seu banco de imagens, ela disponibiliza fotografias dos anos
80, 90 e 2000.
Apesar de essa ser uma iniciativa importante, Cláudia ressalta a falta de apoio financeiro, sempre uma dificuldade na realização de seu trabalho: “muitas vezes as minhas fotos eram os únicos registros e elas eram amplamente solicitadas pelos movimentos, na maior parte das vezes de forma gratuita porque os movimentos também não tinham como pagar por elas e eu sempre considerei que fazia parte da minha militância cedê-las. Essa dificuldade vem crescendo agora na preservação dessa memória”. Depois de 25 anos de trabalho e inúmeras manifestações, Claudia vê as de junho desse ano como as mais marcantes para ela: “eu acho que elas mudaram vários paradigmas, principalmente em relação à mídia”. Ela destaca a rapidez da transmissão da informação e também sua pluralidade, além da “mudança estética, onde a qualidade técnica da transmissão é menos importante do que o conteúdo a ser transmitido”.
Sobre o próprio trabalho Claudia diz que por meio dele pretende passar ao público, acima de tudo, a emoção que sentiu ao fotografar. Além disso, pretende mostrar a intimidade dos movimentos de mulheres e a individualidade de cada uma que compõe aquele conjunto.
Seu trabalho se faz essencial principalmente do ponto de vista da memória. O registro dos movimentos sociais ajuda na construção de suas identidades. Claudia avalia que as suas fotos são resultado de um olhar engajado de observadora participante e que os registros se conservam devido à sua preocupação em manter essa memória.
Quando perguntada sobre o que ainda pretende realizar na sua vida profissional, Claudia responde: “pretendo continuar fotografando sempre”. Além disso, ela diz que quer continuar organizando e catalogando seu acervo pessoal e aumentar seu Banco de Imagens. Também conta que tem vontade de incluir material de outros profissionais no Banco de Imagens, mas encontra dificuldade para conseguir apoio.
por Sara Martins e Bruna Eduarda Brito
sarabm6@gmail.com e brunaeduarda.brito@gmail.com