(Imagem: Audiovisual / Jornalismo Júnior)
“O feminismo negro não é uma luta meramente identitária, até porque branquitude e masculinidade também são identidades. Pensar feminismos negros é pensar projetos democráticos” é assim que Djamila Ribeiro introduz o primeiro capítulo “A máscara do silêncio” no seu livro Quem tem medo do feminismo negro?, em que aborda e detalha a sua complicada infância. Djamila faz um relato de um apanhado de acontecimentos em que sua inteligência e capacidade nunca eram suficientes para ser aceita em algum grupo ou se sentir pertencente a algo.
A narrativa tem um potencial de inspirar e de criar reconhecimento em meninas que passam ou passaram pelas mesmas situações e, dentro disso, a possibilidade de se empoderar. O pai da autora foi um grande influenciador nessa luta pessoal, fazendo com que ela se enxergasse como mulher e negra, vindo daí toda a sua força resistente.
Djamila Ribeiro é mestre em filosofia política pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e já atuou em diversos campos na área da militância a fim de reforçar seus conhecimentos e transmitir, de forma simples, toda a sua bagagem aos demais.
O livro publicado pela Companhia das Letras, tem um formato apropriado para os tópicos discutidos e é separado em pequenos capítulos, por ser a maioria de textos já publicados em blogs e revistas como a CartaCapital. O modelo aplicado facilita o fluxo de leitura e permite que seja lido em pequenas partes. A linguagem acessível contribui para a compreensão plena, outro aspecto positivo, dado que Djamila constrói a narrativa pensando em um público geral e não um em específico, o que falha em muitos autores, permitindo a apreensão do conteúdo tratado apenas para aqueles que estão no meio acadêmico, mantendo a bolha intacta.
A temática traz menções a várias mulheres significativas, como a filósofa francesa Simone de Beauvoir e a atriz norte-americana Viola Davis, contribuindo na sustentação de seus argumentos discorridos na obra. O livro, no entanto, não se limita a esses assuntos, há uma exposição mais ampla de como outros fatos no âmbito sociocultural brasileiro, herdados pela colonização, estão relacionados.
O último capítulo, por exemplo, analisa o conceito por trás de “Globeleza” e a objetificação sexual da mulher negra. Assim como nesse capítulo de encerramento, há tantos outros em que Djamila dedica-se a destrinchar conceitos e buscar um contexto histórico para que se entenda melhor como a consolidação da cultura racista, sexista e elitista se mantém tão fortemente no corpo social brasileiro.
Por consequência da síntese aqui produzida e outras circunstâncias, a obra é válida a todas as mulheres negras, a todas as demais mulheres e a todos os homens, com finalidade de esclarecer quem é mais atingido na sociedade com a perpetuação do preconceito, e com percepção reverter esse caso, pois como a própria autora encerra o seu livro: Basta! Já passou da hora!
Por Daniel Terra
danielterra@usp.br