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10 diretores estrangeiros que migraram do cenário alternativo para Hollywood

Em tempos de expansão do conservadorismo no campo político, os Estados Unidos continuam a importar a visão artística de diretores estrangeiros, em uma tendência que já perdura há décadas, mas que  agora vê seu perfil alterado. Em entrevista ao The National, Jonathan Kuntz, um professor da UCLA, disse que “O intercâmbio entre o cinema americano …

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Em tempos de expansão do conservadorismo no campo político, os Estados Unidos continuam a importar a visão artística de diretores estrangeiros, em uma tendência que já perdura há décadas, mas que  agora vê seu perfil alterado. Em entrevista ao The National, Jonathan Kuntz, um professor da UCLA, disse que “O intercâmbio entre o cinema americano e o britânico, por exemplo, remarca a Alfred Hitchcock. E, dependendo das circunstâncias do mundo, muitos cineastas migravam para os EUA. Como os nazistas, que levaram a debandada da maioria dos bons cineastas da Europa. E, durante os anos 60 e 70, muitos também partiram do Leste Europeu, Forman e Polanski, entre outros, acabaram em Hollywood”.

No começo, a miscelânea em Hollywood se dava principalmente com os europeus, mas agora a onda abrange a Ásia e a América Latina, antes cenários pouco tradicionais em produção cinematográfica que vêm criando e aperfeiçoando sua identidade e capacidade, em muito graças a investimentos locais. Para os mais tradicionais estúdios estadunidenses, contratar diretores estrangeiros é uma ideia para cooptar o público que hoje representa boa parte de lucro, que um dia já foi majoritariamente doméstico. Muitos deles também recebem cachês bem menos extravagantes que profissionais locais, o que permite que mais dinheiro seja investido na produção do filme. Muitos dos nomes que migram para Hollywood têm suas visões culturais altamente influenciadas por obras dos EUA, dada a imensa rede de influência do país sobre o resto do mundo, o que garante que a representatividade de outras culturas fique em segundo plano e as produções não percam o caráter do estúdios.

Confira a seguir dez dos nomes que representam essa exportação de talentos para os EUA:

1. Xavier Dolan

Imagem: reprodução

Aos 28 anos, Dolan tem um olhar arrojado que lhe garantiu a alcunha de “enfant terrible” do cinemaum jovem, inovador e já bem sucedido diretor – mas esse não é um papel que ele está disposto a aceitar. Em entrevista ao The Irish Times, Xavier disse: “Eu sei que as pessoas amam usar essas palavras, mas eu não sou um enfant terrible, sou um ser humano reagindo. Sou honesto sobre o que faço e o que sinto. E muitas pessoas confundem isso com pretensão. Ou uma errônea ambição. Eu só sou alguém com uma ideia muito precisa  do que quero, gosto e não gosto”.

Lançado à fama após o festival de Cannes, com o aclamado Eu matei minha mãe (J’ai tué ma mere, 2009), em que também interpreta o protagonista, o quebequense agora flerta com uma cultura mais pop. Em É Apenas o Fim do Mundo (Juste La Fin du Monde, 2016), o elenco conta com grandes estrelas do cinema francês, como Léa Seydoux, Vincent Cassel e a premiada Marion Cotillard. Não são mais apenas experimentações autofinanciadas para que Dolan possa exercer sua liberdade criativa. O queridinho dos cults agora também tem seu lado mainstream (ou convencional, em bom português), sobre o qual falou em entrevista à Vogue: “Eu não penso em filmes como divididos em duas categorias: independente e comercial. Para mim, existem bons filmes e maus filmes, e para mim, um bom filme é aquele que faz juz a sua história original, premissa e coesão. Então, o fato é, Adele (Dolan dirigiu o clipe da música Hello, hit da cantora no ano passado) ou Juste La Fin du Monde em Cannes, ou Mommy…não estou tentando dizer ‘por favor, amem meu filme independente’ e sim ‘esse filme é mainstream mas você não sabe disso. É sobre sentimentos e eu não entendo como isso não é mainstream, talvez seja porque eu não tenha finais felizes”.

Sua primeira obra anglófona sai em breve e representa sua entrada oficial no mercado hollywoodiano. A Morte e Vida de John F Donovan (The Death and Life of John F Donovan, 2018), conta com diversas estrelas no elenco, entre elas Natalie Portman, Susan Sarandon e Kit Harington.

2. Fernando Meirelles

Imagem: reprodução

Cidade de Deus (2002) é uma adaptação do livro homônimo de Paulo Lins e uma das mais marcantes obras do cinema brasileiro, sendo amplamente conhecida pelo público e dirigida por Fernando Meirelles. O paulistano viu as portas para o exterior se abrirem após o sucesso do filme, que ganhou 4 indicações ao Oscar, incluindo a de melhor diretor. Em 2005, aproveitando essa projeção, realizou o filme O Jardineiro Fiel (The Constant Gardener), seu primeiro em língua inglesa, que também foi lembrado em diversas premiações. Meirelles foi nomeado a um Globo de Ouro e Rachel Weisz venceu a categoria de melhor atriz coadjuvante em diversas delas, incluindo o Oscar.

Continuou a se aventurar nas produções em outro idioma com mais uma adaptação, dessa vez do escritor português José Saramago e seu Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness, 2008). A versão cinematográfica, em uma coprodução entre Brasil, Canadá e Japão, contou com Julianne Moore e Mark Ruffalo – além de Alice Braga, figura carimbada nas produções do diretor – nos papéis principais. Mas, a ausência dos EUA nos créditos de seus filmes não é mera coincidência. Apesar de espontaneamente fazer parte do quadro hollywoodiano, com sua presença nas maiores festas do cinema local, e do financiamento estadunidense de O Jardineiro Fiel, Fernando declarou em 2012, em entrevista ao CineWeb: “Não quero trabalhar em Hollywood. É uma engrenagem, e o diretor é só mais um funcionário que obedece ordens”.

3. Jean Marc Vallée

Imagem: reprodução

A minisserie Big Little Lies (2017), é um lançamento da HBO que mostra uma nova força dos canais de TV, que elencam grandes estrelas da telona para produções em outros formatos. Nicole Kidman, Reese Witherspoon e Shailene Woodley encabeçam a história dirigida pelo premiado cineasta Jean Marc Vallée, outra estrela nova na televisão. Nascido em Quebec,  nos anos 90 Vallée realizou apenas películas em francês e teve seu primeiro grande sucesso na província com C.R.A.Z.Y – Loucos de Amor ( C.R.A.Z.Y, 2005) – filme nunca lançado nos cinemas dos EUA. A produção foi aclamada pela crítica especializada, o que lhe rendeu um contrato assinado com Martin Scorsese e Graham King, para dirigir A Jovem Rainha Vitória (Young Victoria, 2009), estrelado por Emily Blunt e indicado a 3 categorias do Oscar, vencendo a de melhor figurino.

Esse foi apenas o início da ascensão do diretor, que hoje já acumula no currículo 11 indicações ao Oscar e conhecidos títulos do cinema americano, como Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club, 2013) e Livre (Wild, 2014), em que as atuações foram largamente premiadas.

4. Park Chan-Wook

Imagem: reprodução

Um dos representantes asiáticos na lista, Park é mais conhecido por ter dirigido a trilogia de vingança Mr. Vingança (Sympathy for Mr.Vengeance, 2002), Oldboy (2003) e Lady Vingança (Lady Vengeance, 2005). Todos são filmes da Coreia do Sul, que possui um circuito cinematográfico com mais personalidade e particularidades em relação aos ocidentais. Park faz parte de um grupo de diretores sul coreanos que, após anos sendo sondados, decidiram explorar o lado americano em suas carreiras. A inclusão do país no contexto cultural mundial já se deu através do K-pop e das novelas mas, em entrevista ao The New York Times, Chan-Wook opinou sobre a razão do recente sucesso dos diretores sul coreanos como escolha hollywoodiana: “O que temos em comum é que, comparado com o quão ousados nós somos em termos de assunto, nós somos mais clássicos no nosso estilo de filmar. Em outras palavras, nós não seguimos tendências, não somos ditados por tendências. Não quero dizer que isso é que podemos oferecer aos filmes americanos, mas no que somos diferentes e, talvez, essa seja uma forma”.

Acostumado a trabalhar com a mesma equipe e atores em seu país natal, o diretor fez sua estreia nos EUA com o filme Segredos de Sangue (Stoker, 2013), protagonizado por Mia Wasikowska, que foi bem recebido pela crítica mas não obteve público expressivo. Após essa inserção não muito frutífera no mercado americano, Park Chan-Wook voltou a Seul para produzir A Criada (The Handmaiden, 2016), cuja bilheteria local bateu até o último filme da franquia X-Men. Park ainda falou sobre suas dificuldades ao trabalhar em Hollywood para o Financial Times: “Eu achei difícil me acostumar ao nível de interferência. Mas, quando eu recebia a opinião do estúdio, comecei a encará-los como a reação da minha futura audiência (…) agora eu conclui que queria aquela sensação de alguém sempre me questionando e, quando faço um filme, jogo um jogo: me faço ouvir a voz de um imaginário executivo de estúdio americano, porque quero responder o que eles perguntariam”.

5. Ang Lee

Imagem: reprodução

Primeiro asiático a ganhar o Oscar de melhor diretor, Ang Lee faz parte de um seleto grupo que já levou duas estatuetas na categoria. Sua primeira vitória veio com O Segredo de Brokeback Mountain (Brokeback Mountain, 2005), que levou 8 indicações, tendo ganhado 3 delas. Com um retumbante sucesso comercial, arrecadando mais de 12 vezes o orçamento investindo, o filme ganhou contornos polêmicos ao ser proibido em alguns países – incluindo a China, país que domina Taiwan, onde Lee nasceu – por conter cenas entre personagens homossexuais, tabu ainda maior na época. A segunda foi com o filme As Aventuras de Pi (Life of Pi, 2012), baseado em livro de mesmo nome, que teve 11 nomeações ao Oscar, vencendo 4 e também sendo muito lucrativo para o estúdio Fox.

Mas sua história nas premiações começou em outra categoria, a de melhor filme estrangeiro. Em 1994, seu taiwanês Comer, Beber e Viver (Yin Shi Nan Nu, 1994) deu ao diretor a primeira experiência no Oscar. Depois de um ano ele conduziria seu primeiro elenco internacional em Razão e Sensibilidade (Sense and Sensibility, 1995), mais um com inúmeras indicações ao maior prêmio do cinema.

Com uma carreira repleta de êxitos nos Estados Unidos, sua maior inserção nos blockbusters, o filme Hulk (2003) é sua produção mais controversa entre os críticos e também a mais genérica entre suas obras. Dentre suas declarações a respeito de sua importância para a cultura asiática, Ang Lee previu que a indústria cinematográfica chinesa, que antes via nele uma ponte para Hollywood, irá ultrapassar a americana em alguns anos, alimentada pelo grande número de pessoas e pelo tom de novidade das produções.

6. Denis Villeneuve

Imagem: reprodução

No início de sua carreira, esse outro diretor do Quebec abordou assuntos delicados em seus filmes. Desde Redemoinho (Maelstrom, 2000) e Polytechnique (Polytechnique, 2009), em que o mote é um tiroteio em uma escola, Villeneuve se mostra ousado. Entre suas produções francófonas o destaque é Incêndios (Incendies, 2010), que concorreu ao Oscar de melhor filme estrangeiro e despertou a atenção de Hollywood para seu olhar. Em entrevista à CBCNews, falou sobre o que ganharia migrando para os EUA: “Eu sabia que vindo aqui eu terei as ferramentas e recursos para fazer alguns dos meus sonhos”.

Uma grande reveladora de talentos nos últimos anos, a indústria quebequense ainda apresenta limitações que barram sua competitividade para grandes produções. Os projetos de Denis em língua inglesa ganharam um enfoque na ficção científica e contam sempre com atores do primeiro escalão, como Jake Gyllenhaal – que estrelou dois deles – O primeiro grande destaque foi Sicario: Terra de Ninguém (Sicario, 2015), com Emily Blunt e Benicio del Toro, indicado a 3 estatuetas do Oscar.

Mas o maior sucesso do diretor após sua mudança para os Estados Unidos veio com A Chegada (Arrival, 2016), nomeado em 8 categorias do Oscar – ganhando uma – e multiplicando o orçamento, o filme consolidou o nome de Villeneuve entre os mais promissores diretores da atualidade, sendo escolhido para comandar a super produção Blade Runner 2049 (2017).

7. Alfonso Cuáron

Imagem: reprodução

Alfonso faz parte dos Three Amigos do cinema, ao lado de Alejandro Iñarritu e Guillermo del Toro, uma tríade de premiados diretores mexicanos, tendo sido o primeiro de seu país a ganhar o Oscar por melhor direção, por Gravidade (Gravity, 2013). Antes disso, havia produzido O Labirinto do Fauno (Pan’s Labyrinth, 2006), grande obra de Del Toro que concorreu a algumas estatuetas douradas em 2007, ano em que os três amigos somavam 16 indicações com seus respectivos filmes. Muitas vezes criticados por estreitar laços com Hollywood, que historicamente conta com a aversão – por vezes mútua – de muitos cineastas latino americanos, os diretores defendem a ideia da fidelidade às suas raízes.

Em entrevista dada após sua vitória no Oscar, em 2013, ao ser perguntado sobre o significado de seu prêmio para o México, Cuáron disse: “Eu sou mexicano, então esperava que alguns mexicanos também estivessem torcendo por mim. Mas o que quero realmente dizer, é que não acho que atenção o suficiente esteja sendo dada a maravilhosas expressões de cultura mexicana que estão acontecendo agora por lá. Estou realmente agradecido por todo o apoio que venho sentindo do país mas eu adoraria que o mesmo suporte fosse dado a outros filmes que estão saindo de lá, de cineastas mexicanos, filmados lá e com assuntos locais.”

A primeira incursão de Cuáron em um grande filme hollywoodiano foi no comando de Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban (Harry Potter and the Prisoner of Azkaban, 2004), que também recebeu indicações em categorias técnicas.

8. Guillermo del Toro

Imagem: reprodução

Sobre seu início em produções americanas, ainda nos anos 90, Del Toro,disse à NBC: “Quando eu vim era mais difícil fazer a comunidade entender que talento latino não tem que ser isolado e marginalizado exclusivamente em projetos latinos”. Em painel na Comic Con de 2010, o diretor de O Labirinto do Fauno (El laberinto del fauno, 2006), opinou que Hollywood faz muitos filmes ruins porque os profissionais são seduzidos por cachês exorbitantes e deixam suas preferências artísticas em segundo plano. Ele citou seu próprio exemplo, ao sair da condição de profissional independente no México para contratado de um grande estúdio estadunidense.

9. Alejandro González Iñarritu

Imagem: reprodução

Aos comentários sobre a aproximação dos estúdios estadunidenses e europeus sacrificar o que existe de mexicano em seu trabalho, Iñarritu falou ao NYT: “É um argumento infantil, um conceito muito simplista que é frequentemente utilizado para defender limites e mediocridade. Sim, sou mexicano, e tenho um passado e uma cultura. Mas o que realmente importa é o filme em si, e não onde é financiado ou escalado. Cinema é universal, para além de bandeiras, fronteiras e passaportes”. Iñarritu se tornou mais conhecido do grande público nos últimos anos por seu sucesso com Birdman (2014) e O Regresso (The Revenant, 2015).

10. Paul Verhoeven

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Verhoeven é um dos diretores dessa lista com carreira mais longeva na indústria americana. Saiu da Holanda em 1985 porque, em suas palavras para o Screen Daily, “Os comitês que dão o dinheiro não queriam mais me financiar porque pensavam que eu fazia ‘filmes de entretenimento’, de baixo nível, nojentos, pervertidos e retratando a sociedade holandesa do jeito errado.” Dois de seus primeiros filmes para estúdios dos EUA foram sucesso de bilheteria, os ambiciosos – inclusive em orçamento – Robocop, O Policial do Futuro (Robocop, 1987) e O Vingador do Futuro (Total Recall, 1990), com ambos sendo premiados em categorias técnicas do Oscar. Seu auge em termos comerciais foi Instinto Selvagem (Basic Instinct, 1992) que se seguiu de um dos fracassos mais retumbantes de Paul, um dos nomes que mais sentiu a instabilidade de carreira em um universo que demanda tantos resultados positivos. Showgirls (1995), foi premiado com 7 troféus no Framboesa de Ouro, que anualmente elege os piores do cinema, incluindo o de pior direção. Após esse fracasso, poucas foram as produções emplacadas pelo holandês em terras americanas, sendo considerado um dos maiores injustiçados de Hollywood. Seu retorno ao primeiro escalão se deu com um filme francês, Elle (2016), que foi ovacionado por 7 minutos em Cannes. Mas, após mais de 30 anos lidando com a cultura americana, Verhoeven não fecha as portas para um retorno: “Mesmo em tempos como esse, o imperialismo cultural Americano ainda te dá muita liberdade.”

por Pietra Carvalho
pietra.carpin@hotmail.com

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